“A vitória e a posse de Xiomara Castro de Zelaya na presidência de Honduras é o exemplo mais recente, mais vívido, de que, frente à contraofensiva conservadora, houve luta de resistência e houve uma virada importantíssima. No caso de Honduras, é importante demais para nós, mulheres, porque quem lidera essa resistência e vai liderar o governo é uma mulher.”

Palavras de Monica Valente, da Executiva Nacional do PT e secretária executiva do Foro de São Paulo, falando ao TUTAMÉIA diretamente de Tegucigalpa, horas depois de ter participado da enorme festa popular que foi a posse da nova presidenta hondurenha no Estádio Nacional (clique no vídeo acima para acompanhar a entrevista completa e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

“Esses dias, aqui em Tegucigalpa, são de muita alegria. Várias reuniões, foro de mulheres, foros de juventude, muitas lideranças caribenhas.  A posse foi muito bonita. Há uma alegria muito grande da população, do povo, em relação a essa grande vitória da Xiomara Castro: foram muitos anos de luta para chegar onde chegaram. Há uma alegria muito grande, uma esperança muito grande. Vi muita alegria em todo mundo, mas mais especialmente nas mulheres: as mulheres hondurenhas, as moças que trabalham no hotel, as moças que trabalham na segurança, que trabalham na limpeza. As mulheres com um sorriso no rosto, uma alegria, uma esperança muito grande, um sentimento de estarem sendo representadas na pessoa de Xiomara Castro.”

E segue: “Há um significado simbólico. Todas as mulheres que me ouvem sabem disso, a gente sente na pele essa força, esse significado de Xiomara Castro ter sido eleita presidenta. Mulheres que na maioria das vezes são as que mais sofrem com o desemprego, as que têm subempregos, que fazem duas, três jornadas, que sofrem violência doméstica, sofrem violência obstétrica. A eleição dela é um triunfo do povo, um triunfo da luta de resistência, e uma mostra daquilo que a Cristina [Kirchner] falou: ‘Os povos sempre voltam, dão um jeito de voltar’. O que eu acho que dá muita esperança para a gente, que a luta vale a pena”.

Mônica Valente (Foro de São Paulo), Camilo Capiberipe (deputado PSB-AP), Dilma, Cristina Kirchner e Paulo Teixeira (deputado PT-SP) na posse de Xiomara Castro em Honduras (Reprodução/Twitter, como a foto usada na abertura do site, que mostra a festa da posse no Estádio Nacional)

É a reconstituição da democracia no país doze anos depois de o presidente Manuel Zelaya, marido de Xiomara, ter sido derrubado por um golpe que teve desdobramentos sangrentos e manipulação da vontade popular –há fortes indícios de fraude nas eleições presidenciais de 2017, como lembrou a dirigente do PT.

Mesmo agora, com a vitória inequívoca de Xiomara nas eleições de novembro, a situação política continuou sob forte disputa. Valente chega a falar de uma espécie de terceiro turno, que acabou se apaziguando dias atrás, não sem a ativa participação popular: “Faz mais de uma semana que o povo está nas ruas, garantindo a posse da nova presidenta, comemorando a vitória, mas também se posicionando para quem não haja outra tentativa de golpe, como houve em 2009”.

O reconhecimento internacional também ficou evidente não apenas pelas presenças na posse de presidentes latino-americanos: Kamala Harris, vice-presidente dos EUA, chegou de última hora e também participou da cerimônia, além de ter tido reunião com a nova presidente de Honduras, tratando de colaboração entre os dois países, apesar do posicionamento independente da líder hondurenha.

“O discurso da presidenta Xiomara na posse não arredou um milímetro do programa que ela apresentou durante a campanha, e é um programa claramente antineoliberal, claramente soberano. Ela chegou a dizer: ‘Meu partido defende o socialismo democrático’. Disse isso nas barbas da Kamala Harris, que estava lá no palanque”, lembra Monica Valente.

É mais um indício de novos rumos para a América Latina, avalia ela: “A América Latina é um continente em disputa. Disputa política, disputa econômica, além de a gente ter um problema mundial que é o cenário econômico pós-pandemia. Ninguém sabe direito como isso vai ficar. Mas nós, na América Latina, somos uma região no mundo com recursos naturais, com população, com grande potencial de capacidade produtiva. Basta pouco investimento aqui para a gente se tornar uma região muito protagonista no mundo nesse pós-pandemia, e acho que a chave é a integração latino-americana e caribenha, chave política, econômica e social”.