“Lula está numa situação muito difícil. Por um lado, uma resistência muito grande do Congresso, uma dificuldade muito grande para aprovar qualquer coisa no congresso, tem que fazer concessões muito sérias. De outro lado, a ausência de um movimento popular organizado que lhe dê respaldo para ele poder continuar tomando medidas que interessam aos setores populares, seja na área de saúde, seja na área trabalhista, da previdência. Para dar uma melhorada na situação calamitosa da grande maioria do povo brasileiro, ele precisaria ter organização popular, coisa que ele mesmo –segundo revelou nos seus próprios governo anteriores– não se empenhou em fazer. O governo Lula carece de respaldo e de mobilização popular”.

Essa é a avaliação de conjuntura da historiadora Anita Prestes ao TUTAMÉIA. Filha dos revolucionários Luiz Carlos Prestes e Olga Benário Prestes, ela examina nesta entrevista a situação brasileira e mundial, a guerra na Ucrânia, a rebelião contra Putin, a crise capitalista e o avanço da extrema direita (acompanhe no vídeo e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

Na visão de Anita, é preciso não ter ilusões sobre a força dos fascistas no Brasil. “Por trás de Bolsonaro estão os interesses do imperialismo. Bolsonaro pode até se tornar inelegível, mas tem os filhotes de Bolsonaro que vão dar essa continuidade. E há um congresso extremamente conservador e reacionário, muito mais do que o anterior”. Daí, segundo ela, a necessidade de mobilização popular.

“Mas a política toda do PT não foi no sentido de organizar os setores populares, mobilizá-los. Povo na rua desorganizado vale muito pouca coisa. Não tem força para realmente influir nos acontecimentos. Não vejo nem de parte da esquerda nem de parte do Lula e do governo um empenho efetivo no sentido de organizar os principais setores populares, mobilizá-los e dar consciência para que se tornem uma força poderosa capaz de respaldar o governo que tome medidas progressistas. Essa é a grande tragédia dos chamados governos progressistas na América Latina”, afirma.

UCRÂNIA NAZISTA; IMPRENSA IMPERIALISTA

Nascida num campo de concentração nazista, graduada em química, Anita Leocádia Prestes é professora do programa de pós-graduação em história comparada da UFRJ. É autora de mais de uma dezena de livros: a biografia de seu pai, obras sobre o tenentismo, a coluna Prestes, os comunistas brasileiros. Escreveu sobre o que revelam os arquivos da Gestapo a respeito de sua mãe –também tema desta entrevista. Sua autobiografia foi lançada em 2019 (“Viver é Tomar Partido: Memórias”).

Ao TUTAMÉIA, Anita fala sobre a conjuntura mundial e a guerra na Ucrânia:

“A Ucrânia está inteiramente submetida aos interesses da Otan e dos EUA. As penalidades que foram impostas a Putin não deram resultado. O resultado foi ruim para os próprios países ocidentais, que ficaram sem gás e com uma série de problemas econômicos seríssimos. A Alemanha está numa recessão muito séria. A Rússia está conseguindo sobreviver razoavelmente bem, inclusive com o apoio da China. A Rússia não está sofrendo os resultados de todo esse boicote que foi imposto pelo Ocidente”

Ela segue:

“A imprensa falsifica muito, cria uma opinião pública favorável aos interesses do imperialismo, do grande capital. O imperialismo é o poder do grande capital internacionalizado e o seu principal representante são os EUA. Hoje em dia, os países europeus estão inteiramente subordinados a esses interesses, fazendo a política do grande capital internacionalizado. O Estado da Ucrânia transformou-se numa potência nazista praticamente. Quem está no governo da Ucrânia são quase nazistas, usando métodos de repressão violentos. As prisões estão cheias de comunistas, de pessoas de esquerda, estão matando as pessoas. É uma ditadura extremamente sanguinária e a serviço dos interesses do grande capital, no sentido de procurar emparedar a Rússia, de impedir que a Rússia desempenhe um papel importante no mundo”.