“Sem dúvida. Não tenho a menor dúvida disso. A gente teve um filme que foi censurado, gente! Desde quando a gente não tinha um filme censurado? O último acho que foi “Je Vous Salue, Marie”, no governo Sarney. Exposição no Masp! Eu fui a uma exposição no Masp em que você tinha de levantar um pano para ver a obra. Imagina!”.
Assim a advogada Taís Gasparian responde à pergunta “Você diria que a gente está no ponto mais baixo da liberdade de expressão, desde a redemocratização?”, durante entrevista ao TUTAMÉIA em que apresenta o Instituto Tornavoz.
A entidade, criada por ela e mais um pequeno grupo de advogadas, nasce para ajudar a propiciar defesa jurídica especializada a quem sofre ameaças ou processos por manifestar o livre pensamento e a livre expressão e não têm condições de pagar o processo (clique no vídeo para ver a íntegra da entrevista e se inscreva no TUTAMÉIA TV).
Especialista na área do direito civil relacionado à mídia, à publicidade e à internet, com mais de trinta anos de atuação em defesa de jornalistas e órgãos de imprensa, ela assim define a situação atual:
“Tem diversos veículos que sumiram, que desapareceram por causa de ações. Desde 2013, mas mais especificamente desde 2016, que o acirramento contra a mídia em geral, contra a comunicação, está muito grande, com a polarização da sociedade. Me pareceu o momento oportuno para lançar o Tornavoz”.
Oportuno e complexo, ainda mais por ser ano eleitoral, que Gasparian assim define:
“Vai ser um ano extremamente delicado, perigoso. Vai exigir um grande trabalho de todos nós, trabalho sistematizado de esclarecimento e de luta pela liberdade de expressão. A ideia de lançar o Tornavoz neste ano é a gente tentar, na medida em que conseguir, proteger a liberdade de expressão judicialmente, perante o Judiciário, que é onde nós sabemos trabalhar. Vai ser um ano complicado, vai exigir muita paciência.”


Tornavoz, conta ela, é um aparelho colocado nos púlpitos das igrejas e no interior de guitarras para reverberar a voz, ampliar, ecoar o som. Aparece em um conto de Guimarães Rosa, “O Recado do Morro”: “Enquanto o Gorgulho estivera aos gritos, sim, que repercutiam, de tornavoz, nos contrafortes e paredões da montanha, perto, que para tanto são dos melhores aqueles lanços. Agora e antes, porém, tudo era quieto”.
A advogada explica:
“Resolvemos adotar esse nome porque nós queremos que as vozes sejam reverberadas, que as vozes possam alcançar maior número de pessoas.”