Aumento da desigualdade, crescimento da pobreza, êxodo rural, retrocesso de décadas. Essas são algumas das consequências da reforma da Previdência em debate no Congresso Nacional, onde proliferam mentiras e desinformação. É o que afirma o economista Eduardo Fagnani em entrevista ao TUTAMÉIA (acompanhe no vídeo acima).
“O Congresso, neste minuto, está cometendo uma tragédia humanitária. Estamos acabando com o artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos do homem, um documento monumental de 1948. Um documento liberal que diz que toda a pessoa tem direito à proteção na velhice. Estamos acabando com isso. Não é um documento socialista, é liberal, social democrata. Social democracia é uma forma de humanizar o capitalismo. Sequer isso aceitamos, pontos elementares da social democracia”.
Para o professo da Unicamp, o projeto que está em curso não é reforma da previdência. “Isso é empulhação. O objetivo velado [da reforma] é acabar com o modelo de sociedade que foi pactuado em 1988, um marco no processo civilizatório no Brasil”.
“Estão acabando com o único núcleo que restou da Constituição de 1988, com o principal mecanismo de redução da pobreza e de combate à desigualdade no Brasil. A reforma é mais uma peça desse processo de implantação do projeto ultraliberal no país, como são a reforma trabalhista, o teto do gasto não financeiro. Estão sendo destruídos todos os mecanismos que foram montados, especialmente a partir da Constituição de 88, para tentar minorar esse aspecto vergonhoso da sociedade brasileira que é a desigualdade. É para ficar indignado”.
O economista mostra que o projeto de Bolsonaro prejudica fortemente os mais pobres e beneficia o sistema financeiro. O país resultante desse processo será “uma colônia exportadora de produtos primários ou pouco manufaturados. Um país assim não precisa que a população tenha renda, pois depende do mercado externo, é uma nação sem autonomia, dependente do que vem de fora”.
Fagnani discorre sobre os vários pontos da reforma, desconstruindo as alegações a propaganda oficial. Seus argumentos estão consolidados em “Previdência: O Debate Desonesto” (Contracorrente). Para ele, a sociedade não foi informada sobre o projeto. “É só desinformação. A população não sabe”. A imprensa, diz, não apresentou o contraditório. “Estamos assistindo a uma lavagem cerebral”. “O problema do Brasil não é o déficit da previdência, é o déficit da democracia. O Congresso Nacional não representa os interesses da sociedade, mas os interesses dos detentores da riqueza”, declara.
Apesar do avanço do projeto na Câmara, o economista defende que a sociedade reaja para impedir a aprovação no Senado: “Ainda há tempo de luta, de resistência, de tomar pé do que está acontecendo. Tem a votação no Senado. É preciso ver a melhor maneira de fazer com que a voz da sociedade apareça contrária a essa medida, que causará destituição em massa, aumento da desigualdade, uma catástrofe humanitária”.