“Há uma crise humanitária. A defesa da vida, da democracia, dos direitos, do auxílio emergencial e da vacina são questões chave. Com este governo, a crise só se agrava e se aprofunda. Ou defendemos a interdição ou então se acelera o impeachment. Porque, com ele, é crise em cima de crise”.
A afirmação é de José Genoíno ao TUTAMÉIA. Para ele, a hecatombe que estamos vivendo pode representar para o governo Bolsonaro o que foi a guerra das Malvinas para os militares argentinos. “Chega uma hora em que a crise é tão grave que qualquer fagulha, qualquer fato corriqueiro pode virar a mesa porque as coisas estão tensionadas, sensíveis por uma razão muito simples: é a vida que está em risco”, declara (acompanhe a íntegra no vídeo acima e se inscreva no TUTAMÉIA TV).
Ex-presidente do PT, ex-deputado federal e ex-guerrilheiro, Genoíno avalia que “estamos diante de uma confusão institucional”. E que a crise também na esfera militar “deixa o governo mais fraco e mais isolado”.
“Ele foi trocando seis por meia dúzia dentro da cozinha. Agora, quem tem o poder na mão e tem os instrumentos repressivos e algumas leis pode causar estrago. É preciso defender as liberdades, os direitos de organização e manifestação. Porque há risco de autoritarismo. Não de quartelada, de golpe tradicional”.
Na sua visão, “hoje se vive o golpe de maneira diferente, é o golpe por dentro. O golpe aconteceu em 2016. De lá para cá, ele vem se processando, e eu espero que a gente o derrote, derrote este governo, se possível agora em 2021”.
Diz Genoíno: “Acho que a oposição tem tido uma tática errática. Temos uma chance de fazer uma resistência ativa, popular, democrática com a esquerda e com setores da centro-esquerda. A questão central é a gente impedir que se consolide o regime autoritário produto do golpe de 2016. Ele tem que ser derrotado”.
Deputado constituinte e por décadas atento observador da área militar, Genoíno condena a adesão de militares ao governo Bolsonaro, onde ocupam milhares de cargos. Critica a politização das forças. Lembra que durante o debate do impeachment de Fernando Collor, em 1992, não se ouviu nenhuma manifestação de comandantes militares.
Agora, diz, “o leão sai da jaula e não quer voltar”. “Há um estrago político no país. Esse estrago é em todas as áreas. Há uma crise militar em que o presidente não diz o motivo. Quando o Geisel demitiu o Frota, ele escreveu uma nota”.
Na visão de Genoíno, “as Forças Armadas aceitaram, mas não engoliram, a transição. Nem mesmo o governo Sarney, nem FHC. Elas trabalharam com uma espécie de revanchismo histórico, O passado não deixa o futuro predominar. É uma espécie de transição fraudada, traumática, que nunca se resolve”.
Ele segue:
“A direção política tem que mudar o papel constitucional das Forças Armadas. O poder da soberania popular, do voto, da pressão popular, o poder da opinião pública tem que derrotar essa visão messiânica, autoritária e de dona da verdade. É a questão central. Coisa que nós não enfrentamos quando ganhamos a eleição. Nós seguimos a rotina do status quo”.
“As Forças Armadas precisam ser obrigadas a alterar esse comportamento político. O Brasil não pode ficar sempre com o intervencionismo militar. Esse intervencionismo salvacionista compromete o regime democrático”.
Nesta entrevista, ele trata das razões da rejeição da esquerda entre os militares, aponta para os riscos que o país corre e expõe sua visão sobre as tarefas da oposição.
“Temos que revogar rapidamente a Lei de Segurança Nacional. Não podemos aceitar a regulamentação da lei antiterror. Temos que impedir o projeto de mobilização nacional. Temos que nos apoiar numa aliança ampla com os governadores para não quebrar a autonomia dos governadores em relação à sua autoridade na segurança pública”, declara.
Falando das questões que envolvem polícias estaduais, milícias e forças armadas, alerta:
“Se a gente não leva em conta as particularidades regionais existe um risco. Uma crise aguda, com essas contradições regionais, pode ter manifestação de qualquer tipo, até aventuras separatistas. O Brasil é uma grande nação territorial com 210 milhões de habitantes. O país não pode correr o risco de uma desintegração pela via autoritária. Esse é um perigo. O caminho são as instituições do regime democrático enfrentar esse problema. Ir para uma aventura, para o ‘salve-se quem puder’ é um grande risco e um grande perigo”.
Deixar um comentário