De olho nas eleições deste ano, Bolsonaro “voltou para a casinha”, fez acordos, arrefeceu os ataques às instituições democráticas e está ganhando musculatura. Às oposições cabe fazer a denúncia dos crimes cometidos pelo governo federal contra o país e juntar forças para enfrentar Bolsonaro.
É o que diz a deputada federal Gleisi Hoffmann, presidenta nacional o PT, em entrevista ao TUTAMÉIA em que avalia a situação do país, analisa o enfrentamento à pandemia e às crises associadas, comenta a posição do partido em relação às eleições municipais e faz um chamamento aos democratas:
“A gente sabe que o momento não é fácil, que é difícil, é muito desafio. Agora tudo o que gente consegue fazer para vencer é um acúmulo de forças, resistência, enfrentamento. E isso é o que a gente tem de fazer neste momento. Resistir às coisas que estão erradas, enfrentar, ir para a ação contrária a essas forças e acumular sempre na política. Essa foi a luta do povo brasileiro ao longo de muitos anos, quando a gente reconquistou a democracia. Acho que é isso que a gente tem de ter como objetivo. Não desanimar nunca. Estar sempre firme.”
Ela afirma que, desde quando a Organização Mundial da Saúde alertou para a situação de pandemia no planeta, as oposições procuraram apontar caminhos, apesar da óbvia dificuldade de não ser governo:
“A oposição se reuniu. Apresentamos proposições e lutamos, no Legislativo, para que elas fossem aprovadas. Não só a renda emergencial, mas também equipamentos para a saúde, liberação de recursos para leitos do SUS, campanhas para as pessoas ficarem em casa, para manterem o isolamento. Isso foi feito, inclusive pelas instituições: tivemos o Congresso Nacional fazendo campanhas, os partidos fizeram, os movimentos sociais fizeram. Suspendemos nossas atividades, não fizemos mais atividades de rua, todo mundo se recolheu, fizemos vários atos simbólicos sobre essa situação, denunciamos o número de mortos, fomos para cima. Tudo o que nós podíamos fazer, inclusive com nossa experiência de governo, nós fizemos.”
As alianças antibolsonaro, porém, não são firmes: “Dentro do Congresso Nacional, nós somos minoria, Bolsonaro é governo e, ainda que errático, mantém sua força de comunicação direta com a base, utilizando o governo para isso.  A oposição sempre demarcou. Foram feitos vários atos políticos, manifestações com o pessoal da saúde, vários atos. A força não é a mesma, a correlação de forças é muito difícil. E o pessoal que podia se aliar com a gente nisso em certos momentos, o fez apoiando projetos de lei ou fez na defesa da democracia. Que era uma coisa em tese. Quando Bolsonaro recua, eles também recuam, não veem mais problemas para a democracia com o Bolsonaro recuado”, diz Hoffmann (clique no vídeo acima para ver a entrevista completa e se inscreva no TUTAMÉIA TV).
Exemplo desse recuo de figuras e setores que chegaram a criticar o governo foi a posição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que, em entrevista ao programa “Roda Viva”, disse não ver crime para justificar a abertura de processo de impeachment contra Bolsonaro.
“Como não tem crime?”, pergunta Gleisi. “Só o que Bolsonaro tem é crime. Tinha crime suficiente ali. Crime de responsabilidade, contra a Constituição, contra as instituições, de defesa da ditadura, crime contra a vida, contra a saúde pública. O que não faltava era crime de Bolsonaro.”


A reação da população à renda emergencial e a “liberação descontrolada de verbas do governo federal para a base”, fizeram com que Bolsonaro ganhasse força neste momento, afirma a parlamentar. Diz, porém, que isso pode não se sustentar no tempo:
“A conjuntura muda muito. Tem de sair dessa pandemia e tem de ter um projeto de reconstrução do Brasil. Ele não vai sustentar, não vai aguentar dar condições ao povo fazendo apenas uma renda básica. Tanto que ele está dizendo que vai diminuir, querem colocar 250 reais, é um pouco mais que o Bolsa Família tinha. Nós apresentamos um novo Bolsa Família, o Mais Bolsa Família, em que a gente coloca os seiscentos reais como a renda para sair da crise.”
“Isso é uma parte. Agora precisa gerar emprego, gente! Precisa de investimento! Precisa ter um pano de reconstrução do país. As empresas estão fechando. Cerca de setecentas mil micro e pequenas empresas fecharam. Além disso, as grandes estão com problemas, a Volkswagen vai demitir agora. Nós vamos chegar a um momento em que vai ser insustentável o que ele está querendo fazer.”
“Como vai ser? Não vai ter investimento do setor público? Sem investimento do setor público não há condições de estimular a economia. Tem de ter investimento, crédito para a indústria privada, para poder gerar emprego. E, principalmente investimentos a partir das demandas da sociedade, de serviços de consumo. Investir, por exemplo, na habitação popular, que é uma necessidade, que mexe com a construção civil e que gera emprego, é um dos investimentos que o governo tem de fazer. Em saneamento básico, é um dos investimentos que o governo tem de fazer. Em urbanização, isso tudo é uma necessidade. Investimentos em hospitais, em escolas. Mas não tem nada previsto para isso.”
Tal situação e o projeto de Bolsonaro de destruição do Estado precisam ser denunciados o tempo todo, em especial no próximo processo eleitoral, no entender da presidenta do PT:
“Isso tem de ser um objetivo de denúncia nossa, sistematicamente, e acho que as campanhas eleitorais podem ajudar nisso. No espaço que a gente vai ter, no trabalho de pré campanha que estamos fazendo, que os demais partidos de oposição estão fazendo. Tem de mostrar esse descompromisso de Bolsonaro com o país, com o combate ao desemprego, com um projeto que tire o país da crise. Vamos lembrar que Bolsonaro era o contra o Bolsa Família. Há vídeos dele dizendo que o pessoal do Bolsa Família era um bando de vagabundo, que não queria trabalhar, queria viver à custa do Estado. Agora ele está querendo fazer uma renda porque acha que politicamente é bom para ele, e vai brigar dentro do governo, com o Guedes, para tentar conseguir isso.”
Pode até ter sucesso, no entender da parlamentar, mas é insuficiente: “Não tem além disso. Qual é a outra situação que ele tem para mostrar para o Brasil? A gente tem de lembrar que, lá atrás, nos nossos governos, a questão do Bolsa Família e da renda, ela era complementar. Houve muito investimento para gerar emprego, para melhorar as condições das políticas públicas, dos serviços públicos. Teve um conjunto de ações que fizeram com que o Brasil tivesse um desenvolvimento, e as pessoas saíssem da miséria. Não foi só o Bolsa Família. Só a renda, ela não sustenta. Precisamos denunciar isso que eles querem fazer com o estado, que é a privatização. E ter um embate sério nessa questão da volta às aulas. Temos de fazer uma discussão, não deixar esse pessoal que não está nem aí ganhar esse debate.”
O processo eleitoral gera tensão também no interior dos partidos, e Gleisi Hoffmann comenta, na entrevista, críticas que setores do próprio PT fazem a algumas alianças pontuais. Diz que, independentemente das coligações, a linha do por tido segue a mesma:
“Nós somos terminantemente contra Jair Bolsonaro. A campanha tem de ser contra Jair Bolsonaro. Essa é a campanha que o PT tem de fazer, onde estiver, mesmo estando em aliança. Quem nós queremos combater, que é o adversário da esquerda e do Brasil, chama-se Jair Bolsonaro. Isso para nós é central na campanha. Faz parte da estratégia política: nacionalizar as campanhas. Nós queremos nacionalizar as campanhas.”