“A pandemia veio escrachar o plano de genocídio que esse desgoverno já tinha implementado para nós desde aquela fala de Bolsonaro de nenhum centímetro de terra demarcada para os povos indígenas, afirma Avelin Buniacá Kambiwá, liderança indígena que atua em Minas Gerais.

Originária de Pernambuco, onde até hoje vive parte de seu povo, a professora de sociologia milita no Comitê Mineiro de Apoio às Causas Indígenas, onde desenvolve trabalho de solidariedade às famílias e denuncia as agressões sofridas pelos índios na cidade e no campo.

Em entrevista ao TUTAMÉIA, ela lembrou discurso do presidente Bolsonaro que, dias depois de eleito, afirmou: “No que depender de mim, não tem mais demarcação de terra indígena”. Posição que já tinha anunciado mesmo antes de concorrer à Presidência: “Não terá um centímetro quadrado demarcado”. Por isso, Avelin Kambiwá afirma: “Esse desgoverno tem um ódio especial aos povos indígenas” (clique no vídeo aima para ver a entrevista completa e se inscreva no TUTAMÉIA TV)

A agressão é constante, denuncia ela, seja aos indígenas que estão nas cidades, nas perferias, vendendo seu artesanato, seja aos que estão em terras demarcadas.

“Nossa presença nos territórios é um risco também, porque esse desgoverno incentiva as invasões, incentiva abertamente as invasões. A gente tem cerca de 20 mil garimpeiros em território ianomâmi, foi onde o primeiro parente encantou de Covid 19. Tinha 15 anos! Como é que esse menino foi pegar Covid na terra ianomâmi? Claro que é fruto dessas invasões.”

Ela segue: “Cadê o Exército? Cadê a Força Nacional? Por que tanto garimpo entra? Porque tanto fazendeiro rouba, faz queimadas? Antes da pandemia, teve o Dia do Fogo. Como a gente já estava vindo, cheio de moléstias, estavam descendo o sarrafo na gente, deixando a gente cada vez mais frágeis, vulnerabilizados”.

A Covid 19 se alastra pelos territórios indígenas. Há cerca de 700 mortes, mais de 25 mil casos de infecção e mais de 150 povos afetados, segundo levantamento da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que faz um monitoramento independente.

“A pandemia vem na mão de um genocida. E o que ele faz? Ele entrega a gente à morte. Era o que faltava para eles acabarem esse projeto de genocídio dos povos indígenas”, afirma Avelian Buniacá Kambiawá ao TUTAMÉIA.

A socióloga lembra que isso vem de longe: “Em mil oitocentos e pouco, baixaram uma lei dizendo que não tinha mais índio no Nordeste do Brasil”. As razões econômicas, então e agora, são claras: “Se não tem indígena, não tem direitos dos indígenas. Se não tem direitos dos indígenas, então as terras podem ser tomadas, usadas, podem pegar e fazer o que quiserem”.

Os povos indígenas resistem.

“São 520 anos de massacre sistemático, como se a gente não fosse gente. Agora chegamos a 2020 ainda com um suspiro de resistência. Não era para agente estar existindo. Mas nós somos essa resistência. A gente está vivo ainda. E, se a gente está vivo, é graças muito à nossa força espiritual, mas também a muita gente que se levanta em apoio, para defender: os povos indígenas são os guardiões da terra, precisam ficar vivos.”