A equipe TUTAMÉIA de corridas participou em Roma de um evento esportivo em defesa da democracia e contra o racismo. Trata-se da La Corsa di Miguel (A Corrida de Miguel), que chegou neste janeiro último à sua 21ª edição, rendendo homenagem à memória do jovem corredor, poeta e peronista Miguel Sanchez, que foi preso pela ditadura argentina em 1978 e até hoje está desaparecido.

Mais de dez mil pessoas participaram da corrida, em diversas distâncias. Havia a prova competitiva, de dez quilômetros, e amadora, do mesmo porte –foi nesta que Rodolfo disse presente. Para a criançada, famílias e atletas iniciantes, a escolha era uma corrida e caminhada de três quilômetros, também com espírito mobilizatório: seu nome é Strantirazzismo (muito mais que antirracismo, em tradução livre). De vermelho, como ou outros milhares de participantes, correram Eleonora e Laura.

No total, tratou-se de uma espécie de grande passeata esportiva, em que locutores contavam, auxiliados por poderosos alto-falantes, a história de Miguel –ao que se sabe, a primeira vítima da operação Condor, que uniu as polícias políticas e o esquema de repressão e tortura das ditaduras do Cone Sul a partir da segunda metade dos anos 1970. Ao mesmo tempo, apontavam como ainda é preciso lutar pela democracia e pela igualdade, combater a opressão e o racismo.

Ao longo do percurso, margeando o rio Tibre, vários grupos musicais animavam os atletas, as famílias, os manifestantes, na manhã fria, mas iluminada por sol radiante. E não faltaram os acordes de “Bella Ciao”, a canção da resistência italiana contra o fascismo que hoje é cantada no mundo inteiro por defensores da liberdade, da democracia, da igualdade, da justiça social.

Depois da corrida, que terminou em grande estilo em plena pista de atletismo do estádio Olímpico de Roma –o mesmo que, em 1960, viu a gloriosa chegada de Abebe Bikila, o maratonista de pés descalços, primeiro representante da África Negra a conquistar um ouro olímpico–, nós conversamos com Valerio Piccioni, o jornalista que “inventou” La Corsa de Miguel lá no ano 2000 (assista à conversa clicando no vídeo no alto desta página).

Ele nos contou como é que um italiano acabou sendo a pessoa que trouxe para a luz uma história que até então estava escondida, guardada sob censura ou sob o manto do medo. Falou sobre a expansão da prova –que hoje existe em várias cidades da Argentina e em outros países, sempre com o mote da defesa da democracia e do combate às tiranias.

Para ele, a corrida por Miguel “é presente, é passado, é futuro. É a vida. O esporte é a vida. E na vida há a política, há a liberdade, há a democracia, há as ditaduras. Em 1936, durante o nazismo, o presidente do Comitê Olímpico dizia que não se podia misturar política com o esporte. Como não? Se você é excluído por ter uma religião, por ser diferente, isso claro que é político. O esporte é um grande professor de história. E a história que o esporte ensina é que não se pode dizer que não se pode falar disso ou daquilo. O esporte é um grande professor de história. A história de Miguel conta a história das ditaduras latino-americanas naquele período histórico”.

Disse também: “Miguel é um ícone na luta contra o racismo porque ele é o contrário exato do racismo. O esporte é o contrário exato do racismo. O problema é que, neste momento histórico há palavras de ordem, há lugares comuns que pensam que fechar-se na própria casa seja se defender dos perigos do mundo, e não sabem que o mundo se mesclará sempre mais. As barreiras cairão. Não há possibilidade de parar esse fenômeno”.

Na entrevista, ele também contou detalhes da história de Miguel Sanchez, que também faz parte da história da equipe de corrida TUTAMÉIA. Há cinco anos, participamos de uma emocionante edição de LA CARRERA DE MIGUEL em Berazategui, na região metropolitana de Buenos Aires. Era onde ele vivia até o dia em que foi arrancado de sua cama por agentes da repressão.

Na época, em 2015, Rodolfo produziu reportagem especial sobre aquele evento e sobre a história do poeta peronista, corredor apaixonado, desaparecido nos porões de tortura da ditadura argentina dias depois de ter participado, em São Paulo, da corrida de São Silvestre.

A seguir, a íntegra daquele texto.

A HISTÓRIA DE MIGUEL, POETA E CORREDOR

Adam era fiel. Passava o dia quieto, enrodilhado no seu canto na cozinha da pequena casa em um bairro pobre, numa cidade operária da periferia de Buenos Aires. Quando a tarde se esvaía, perto do pôr do sol, começava a ficar mais nervoso, ativo, atento. Parecia um arco estendido, a flecha pronta para partir.

Então ouvia o sinal. O trem apitava mais forte, no quarteirão logo aos fundos da casota, e rangiam os freios da composição. Adam entrava em alas, arranhava o chão, corria para a porta, saltava incontido, pedia licença para sair: Miguel ia chegar.

Adam era corajoso. Quando, no meio da madrugada, bateram na porta com força, partiu para a defesa da casa, rosnou baixo, em tom gutural, estendeu o corpo, orelhas espetadas, preparando o ataque.

Não eram batidas de alguém pedindo ajuda, não era o toque do amigo, não era o som do desespero. Mais pareciam socos, bordoadas, que vinham acompanhadas de gritos.

“Abre, abre, abre!!!”, exigiam de fora, chamando: “Miguel! Miguel Ángel! Abre, abre, ABRE!!!”

Clara, a irmã enfermeira, foi a primeira a despertar. Saiu do quarto tentando não acordar a mãe e tratou de responder aos gritos. Sem abrir a porta, informou, enquanto tentava acalmar o cão: “Aqui não mora nenhum Miguel Ángel! Nosso Miguel é Miguel Benancio Sánchez, tucumano!”

De fora, não paravam os gritos, os socos, a barulheira, as ameaças. Para tentar impedir que lhe derrubassem a porta, Clara fez o que mandavam os homens. Aos trambolhões, entraram cinco de uma vez. Então o pastor alemão saltou, os rosnados virados em raiva protetora. Não sabia, não podia saber quem eram os invasores; mas sentia que ameaçavam Miguel. E pulou, todo dentes e coragem.

No salto mesmo, levou nas costas a coronha do rifle; caído, foi chutado por uma bota preta, que parecia gigantesca. Atirado a um canto, gemendo, largou-se esquecido enquanto os homenzarrões ocupavam de uma vez a casa toda. Adam ainda tentou se mover, mas não teve forças; ouviu algum agrado de Clara, que se lembrou de agradar o animal –“Ninguém sabe o que faz, como reage nessa hora”–, e ganiu baixinho. Nem a enfermeira nem o cão podiam enfrentar as armas.

Miguel só acordou ao ser arrancado da cama, atirado ao chão seminu, socado, empurrado. “Levanta, te veste já! Pega tuas roupas!”, as ordens vinham aos berros, enquanto os homens mexiam por tudo no pequeno quarto.

Não havia muito: alguns livros, cadernos de anotações, roupas do dia a dia de um bancário subalterno, tênis velhos, calções, camisetas de corrida. Sobre uma cadeira, a bandeira da Pátria.

“Que bandeira é essa?”, gritaram-lhe os homens, como se houvesse alguma dúvida. “Por que tens essa bandeira?, rosnavam acusadores.

“Sou argentino”, respondeu o orgulhoso Miguel. “Aonde eu vou, levo minha bandeira.”

As respostas não lhes importavam, os homens não queriam saber, queriam gritar, dominar, violentar a casota de trabalhadores. No meio da madrugada, soou o despertador.

“Que é isso?, quem vem aí?, quem vocês estão esperando?”, exigiam saber entre truculências e safanões.

“Era a minha hora”, Clara tem forças para responder. O despertar seria às três e meia da manhã, o único jeito para conseguir cumprir o horário do turno de enfermagem no hospital da cidade.

Os homens já não perguntam mais nada. Não há mais o que derrubar, não sobraram gavetas para abrir nem estantes para escarafunchar. Quanto a Miguel, vestido com seu uniforme de corrida, não tem algemas nem cordas nem correntes; dois homens o seguram, um de cada lado; os outros têm os fuzis em riste.

“Posso me despedir de mamãe? Posso lhe dar um beijo?”, foi sua única fala.

“Não precisa! Vais voltar logo”, garantiram os homens, seguindo com os empurrões em direção à porta.

Meio carregado, meio empurrado, de olhos vendados, Miguel atravessou a rua nos braços dos invasores. Outros três outros homens armados com metralhadoras, que tinham ficado na calçada da rua San Martín, à espreita, se somam aos cinco gorilões que tinham ocupado a casa do corredor. Já sem gritar, mas ainda aos golpes grosseiros, violentos, atiram o preso no banco de trás de um Ford Falcon azul. O jovem detido nunca mais foi visto.

O sequestro de Miguel Benancio Sánchez, na madrugada de oito de janeiro de 1978, foi a primeira ação conhecida da ditadura militar argentina contra um atleta. Ainda que o número seja até hoje incerto, organismos de defesa dos direitos humanos calculam que há cerca de 50 desportistas –jogadores de hóquei, tenistas, quase um time inteiro de rúgbi—entre os 30 mil homens, mulheres e crianças desaparecidos durante último período de terror na Argentina.

O caso de Miguel é especial para os brasileiros por ele ser também, ao que se sabe, a primeira vítima da Operação Condor, ação conjunta e integrada dos organismos de segurança do Brasil, da Argentina e do Uruguai que tinha nascido meses antes do sequestro de Miguel. O corredor foi arrancado do convívio com sua família na casa em Berazategui, mas a perseguição a ele provavelmente teve início dias antes, em São Paulo, onde havia participado da São Silvestre.

“Miguel era muito simpático, muito conversador. Gostava de falar com a imprensa. Apareceu na ‘Gazeta Esportiva’ com foto, sempre falando da situação do país, dos militares. Ele lutava pela justiça social, era militante da Juventude Peronista”, me diz sua irmã, Elvira, hoje com mais de 70 anos, mas ainda vivaz, falando em tom enérgico e tão disposta à luta como sempre –é a porta-voz da família e vem participando nos últimos anos de manifestações, encontros e corridas em memória de Miguel.

Naquele final de 1977, até uma poesia escrita pelo corredor foi publicada na imprensa brasileira. O destaque por ele recebido só fez açular a vigilância dos órgãos de segurança, que provavelmente já vinham acompanhando as andanças de Miguel.

Órgãos de defesa dos direitos humanos que investigam a Operação Condor não têm dúvida de que o corredor estava sendo monitorado pela repressão. As suspeitas dos militares eram de que Sánchez fosse um “pombo-correio” de grupos clandestinos de combate à ditadura argentina, talvez um mensageiro dos Montoneros, braço armado da Juventude Peronista. Na época, diversos atletas fizeram esse tipo de ação; como suas viagens eram costumeiras, esperava-se que chamassem menos atenção.

Quando entravam no radar da milícia, porém, dificilmente escapavam. Afinal, não eram militantes clandestinos, não portavam armas; sua ação política, quando havia, era às claras, à luz do dia.

Miguel nasceu a seis de novembro de 1952 em Bella Vista, na Província de Tucumán. Mais novo de dez irmãos, filhos de uma família operária, perdeu o pai aos dez anos. Aos trancos e barrancos, conseguiu completar o ensino primário, mas depois não mais lhe foi possível frequentar a escola.

Em busca de melhores condições, a família, agora comandada pela mão doce e firme da matriarca Cecília, se muda para a capital provincial e, depois, para os arredores de Buenos Aires. Adolescente, o irrequieto Miguel quer progredir mais e aposta na sua habilidade esportiva para alcançar ganhos maiores, talvez até virar arrimo da família.

Como tantos outros garotos, gostava de jogar bola, era inteligente nos dribles e veloz nas arrancadas. Foi o que lhe valeu uma vaga no Gimnasia y Esgrima de La Plata, clube quase amador de Buenos Aires –tinha então 17 anos e já vivia em Villa Espanha, Berazategui, na mesma casa onde foi sequestrado.

“Tudo o que fez foi na tentativa de ser um pouco melhor a cada dia. E realmente estudou, fez datilografia, e vivia correndo: no seu tempo livre, estava sempre correndo”, me diz dona Elvira. De fato, Miguel não recusava trabalho: cortava grama, limpava jardins, pintava paredes. Sempre a buscar nova chance, acabou conseguindo uma vaga subalterna no Banco Província.

Percebeu que seu futuro não viria da bola, mas também não queria deixar de praticar esporte. Lembrando dos elogios que recebia em campo por causa de sua velocidade, passou a correr. Treinava sempre que podia. Às vezes, rodava pela manhã no terreno do clube de golfe da cidade; gostava mais, porém, de correr no fim da tarde, depois do expediente, num parque em Vila Domínico.

Foi lá que conheceu um ídolo argentino, Osvaldo Suárez, tricampeão da São Silvestre (1958, 1959 e 1960). O Maestro, como era chamado Suárez, se tornou guru e incentivador de Sánchez. Foi quem lhe abriu os olhos e colocou na sua mira a prova brasileira; também conversavam muito sobre política: o veterano atleta fora perseguido pela ditadura que sobreveio ao golpe que derrubou Juan Domingo Perón no final da década de 1950.

Miguel, por sua vez, ingressou na Juventude Peronista. Distribuía panfletos, participava de reuniões, fazia amigos, conquistava adeptos. E usava seu estilo expansivo para também angariar apoio para realizar seus sonhos pessoais: vendendo rifas na vizinha conseguiu juntar o dinheiro necessário para as viagens até as corridas.

Participou três vezes da São Silvestre brasileira, que adorava. “Voltava sempre com camisetas de clubes europeus e brasileiros, que conseguia fazendo trocas com os companheiros de corridas”, lembra Elvira.

Depois da corrida na noite de 31 de dezembro de 1977, mal voltou para casa. Passou a virada do ano em São Paulo e, na sequência, viajou para o Uruguai, onde participou da famosa Carrera de San Fernando, no Dia de Reis. Essa prova já foi também muito apreciada por atletas brasileiros de elite e por estrangeiros que viajam até São Paulo para a São Silvestre e desejam aproveitar o esforço para fazer mais uma corridinha cá pelo Cone Sul.

Na volta para casa, deu-se a desgraça. Enquanto os sequestradores saíam em alta velocidade, Clara chorava em casa nos braços da mãe. Ao raiar do dia, começou a via-crúcis dos familiares de perseguidos pela ditadura. Ligou para cada igreja da cidade, pedindo ajuda, consolo, informação. Tudo lhe foi negado, diz hoje com rancor a sobrevivente Elvira.

Religiosa, Cecília, a mãe, pediu ao padre da sua paróquia que rezasse uma missa pelo filho desaparecido. Nada: “É muito perigoso”, disse o suposto líder espiritual.

Por conta de sua luta e do medo que todos tinham de se ligar a alguém perseguido pela ditadura, Clara perdeu o emprego. Elvira se veio de Tucumán, onde dava aulas para adultos, para ajudar a família (vive até hoje na mesma casa).

Durante algum tempo, os colegas de Miguel no banco ainda guardaram em uma sala prêmios que o atleta conquistara representando a instituição. Na casinha da rua San Martín, 176, Elvira ainda hoje cuida de 50 troféus, 30 medalhas e diversas fotos do irmão competindo.

A espera até agora tem sido em vão. Mesmo atemorizada, a família não deixou de tentar descobrir o paradeiro do corredor. Ainda no triste ano de 1978, um dos irmãos de Miguel, Luis Horacio Sánchez, fez a denúncia do sequestro –nunca teve resposta das autoridades.

Em 1984, depois do final da ditadura, a família apresentou seu caso a uma comissão criada pelo governo de Raul Alfonsin para investigar casos semelhantes. Até 1992, quando morreu, Cecília esperou notícias do filho que partiu sem que lhe fosse permitido sequer dar um beijo na mãe.

Ainda hoje, não se sabe aonde foi parar o corpo de Miguel. Ele teria passado pelo Vesúbio, um dos centros clandestinos de detenção usados pela ditadura militar. Lá foram torturados e mortos centenas de homens e mulheres cuja prisão não foi registrada pela Justiça argentina.

Segundo relatos de prisioneiros, lá ficou um certo tempo um jovem muito machucado, muito sofrido. Estava ensanguentado, amarrado e encapuzado. Atirado ao chão, encostado na parede, gritava sempre: “Sou Miguel, sou argentino”. Até que seus gritos foram calados e ele desapareceu também dali.

“Ele não se entregou. Foi assassinado”, diz Elvira. E se cala.

Mas não por muito tempo. Logo vem alguém e a cumprimenta, outro dá um beijo, uma garota pede um abraço. Estamos sentados em cadeiras de plástico, em um dos espaços da Escuela de Educación Media nº 7 Enesto “Che” Guevara, a poucos quarteirões da casa onde viveu Miguel.

Como parte de um projeto escolar e comunitário, professores e alunos de “La Che”, como é conhecida aquela escola secundária, criaram La Carrera de Miguel, para não apenas lembrar o atleta, mas principalmente manter viva a luta para o esclarecimento dos crimes da ditadura, pela verdade e pela justiça.

Participei da décima edição da corrida, num sábado chuvoso de outubro passado [em 2015]. Tive de me conter para conseguir correr sem chorar, acompanhando a emoção, a dor e, principalmente, a determinação e a vontade de lutar de todo aquele povo, homens e mulheres, avós e crianças.

Foi exatamente com os pequeninos do jardim de infância que a cerimônia começou. Alunos de quatro escolas infantis das redondezas deram um “abraçaço” na escola. Todos de mãos dadas, carregando faixas e cartazes, fizeram uma breve passeata em torno do quarteirão da escola, guardando a escola no coração e mostrando que civismo e democracia se aprendem desde pequeno.

Os mais velhos chegaram fazendo barulho, batendo bumbo, dançando e cantando, enquanto os organizadores da prova montavam uma rádio improvisada para dar voz a gente que conheceu Miguel ou lutou sua luta. Falaram Elvira, a irmã, depois um colega de escola, um companheiro de treinos e de lutas sindicais que também quase desapareceu, líderes estudantis, professores.

A corrida, em si, era apenas uma confraternização. Foram menos de oito quilômetros pelas ruas de Villa España, o bairro de Berazategui onde Miguel viveu, militou e correu como fazíamos nós. No peito, levávamos todos o número 142, que Miguel vestiu em uma de suas últimas corridas. Passamos pela casa da família, onde mais tarde uma caminhada cívica faria uma parada para homenagear os que resistiram.

E chegamos todos felizes, ouvindo as palavras de ordem, gritando os slogans, fazendo de cada passo uma afirmação da luta do povo argentino, do povo de Nuestra America. Que Elvira Sánchez, pequena, magrinha, idosa e firme, assim define com precisão: “A CORRIDA DE MIGUEL é a corrida pela vida, pela liberdade, pela democracia. É a corrida de todos, a corrida pela memória, pela verdade, pela justiça. Quem caminha, quem corre, quem participa está correndo por “nunca mais”. A corrida é de todos. É a Corrida de Miguel e dos 30 mil desaparecidos’’.