Chovia no Araguaia no Natal de 1973. O pelotão comandado pelo major Curió seguia pela mata à caça de guerrilheiros. Ainda antes do fim da manhã, por volta das onze e meia, os soldados encontraram o grupo, nada menos que a Comissão Militar da guerrilha. Começou o tiroteio. Foi uma chacina.

Em homenagem aos cinco combatentes da democracia assassinados pela repressão, a equipe TUTAMÉIA fez neste dia 25 de dezembro uma caminhada por São Paulo passando por locais que lembram as lutas democráticas do povo brasileiro.

Nos cinco quilômetros do percurso, tangenciamos o cemitério do Araçá, onde foram enterrados em vala comum mulheres e homens que participaram da greve geral de 1917; vimos o hospital Emílio Ribas, onde foram tratados doentes da epidemia de meningite censura pela ditadura militar; cruzamos ao largo do cemitério onde estão enterrados os restos mortais de Luiz Gama, atravessamos o palco da Batalha da Maria Antônia e lembramos a caminhada que, liderada por Audálio Dantas, saiu da sede do Sindicato dos Jornalistas rumo à catedral da Sé para participar da missa em memória de Vladimir Herzog, em 1975. Fechamos o trajeto com um “abraço caminhado” em torno do prédio onde funciona a Fundação Maurício Grabois, nomeada exatamente em honra do comandante da guerrilha, um dos mortos no Dia de Natal, em 1973. (Clique no vídeo acima para acompanhar todo o percurso e saber mais informações sobre os locais visitados; aproveite e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

No grupo de quinze guerrilheiros, Grabois foi logo identificado pelo comandante das forças da repressão, segundo conta o jornalista e historiador Osvaldo Bertolino no livro Maurício Grabois — uma vida de combates”.

Diz o texto:

“O major [Curió] viu entre eles aquele que o relatório do CIEx classificou como o comandante militar da Guerrilha, que se destacava dos demais pela idade — estava com 61 anos. Maurício Grabois recebeu um tiro de fuzil no braço esquerdo, abaixou-se, puxou o revólver e de joelhos atirou até ser atingido mortalmente na cabeça.”

E segue o relato do historiador:

“No tiroteio contra a Comissão Militar naquela manhã de Natal, dos 15 que estavam no grupo dez sobreviveram. Os mortos foram, além de Maurício Grabois, seu genro Gilberto Olímpio Maria, Líbero Giancarlo Castiglia, o “Joca” — que chegou com ele e Elza Monnerat à região em 1967, e possivelmente foi preso ainda com vida —, Paulo Mendes Rodrigues e Guilherme Gomes Lund. Os demais guerrilheiros estavam acampados num local mais abaixo ou realizando tarefas nas redondezas.”