O título desta reportagem pode parecer elucubração saída dos escaninhos da mente irrequieta de Torquato Neto, mas emerge dos temas da entrevista de TUTAMÉIA com o jornalista Fernando Rosa, ativista político e produtor cultural.

Egresso da zona rural de Taquara, no interior do Rio Grande do Sul, Rosa tem uma longa trajetória nos dois terrenos. Como jornalista, atuou na imprensa de resistência e combate à ditadura militar e, depois da redemocratização, disse presente em diversos fronts –foi assessor da então ministra Dilma Rousseff, trabalhou na EBC e hoje integra o grupo de comunicação do PT no Senado.

Amante e pesquisador da música brasileira, latina e interplanetária, organiza e produz desde o início deste século o festival El Mapa de Todos, que traça um panorama da música da América do Sul.

Sobre essas duas vertentes, escreve, escreve e escreve um pouco mais compulsivamente. No seu blog Senhor F, que é ainda mais um monte de coisas além de blog, tem milhares de textos sobre música e cultura, roque, lambada e cúmbia. Espalhados pela internet afora, seus artigos sobre conjuntura, democracia, razões do golpe, motivações da Lava Jato e quejandos constroem um retrato e uma crítica dos tempos em que vivemos.

Não é de surpreender que tanta produção viva momentos de consolidação.

No terreno políticos, seus artigos sobre os antecedentes e desdobramentos do golpe contra Dilma Rousseff viraram três volumes em e-book, “Um Golpe Americano”; agora está lançando “A Ousadia dos Canalhas” –livro físico e, em breve, e-book–, que tem o revelador subtítulo “A Lava Jato Que O Brasil Não Viu” e conta com apresentação da deputada federal Gleisi Hoffmann, presidenta do PT.

As incursões nos intestinos da música brasileira já ganharam sustança nos festivais, em playlists e programas de rádio. Uma pesquisa mais recente –mas que lhe tomou vários anos—aparece agora em livro. É o dito “Ondas Tropicais”, cujo subtítulo aponta sua linha de recuperação da memória musical do norte do país: “A Invenção da Lambada e do Beiradão da Amazônia Moderna”.

Na conversa com TUTAMÉIA –que foi também um reencontro de amigos de longa data, pois Fernando é padrinho do casamento de Eleonora e Rodolfo–, ele apontou que o Brasil é hoje um peão, uma peça em uma verdadeira guerra em curso no planeta, em diversas esferas, que vão dos bombardeios e enfrentamentos militares à propaganda, às mentiras disseminadas pela mídia e aos enfrentamentos no terreno jurídico.

“O principal front no terreno tecnológico hoje é o 5G”, disse, referindo-se à nova tecnologia internética em que a China está a cavaleiro e os Estados Unidos correm atrás, tentando impedir a consolidação da rival.

O governo e o establishment norte-americanos procuram voltar ao passado, notadamente pós-queda do muro de Berlim, quando os EUA tomaram o mundo de assalto.

“O mundo unipolar acabou, e os Estados Unidos precisam se convencer disso”, afirma.

O fato é que os EUA perseguem o domínio, e usam o Brasil nesse projeto, com animada aquiescência do governo Bolsonarista: “O nível de sabujice, de vassalagem do governo Bolsonaro está fora de qualquer padrão histórico”.

Nessa subserviência, aponta o jornalista, o governo vem conseguindo, por enquanto, arrastar o Exército brasileiro –ou , pelo menos, parte importante dele–, o que pode trazer consequências danosas para a instituição, que vai vendo sua imagem ligada a de um presidente entreguista, antinação e antipovo.

Quanto à oposição, grande parte parece engambelada pela estratégia do diversionismo bolsonarista: “Eles lançam um plano diabólico maquiavélico por semana, e o povo corre para a lacração nas redes sociais”, comenta.

Claro que certas coisas não podem ficar sem resposta, mas isso não pode obliterar a visão maior, de denúncia dso verdadeiros crimes que o governo vem fazendo contra a nação brasileira, contra a economia do país, contra o futuro de nosso povo.

Aí, a palavra chave é soberania, como vem apontando presidente Lula. “Sobre isso, não precisa muita discussão. Soberania é isto: ou você defende a sua casa ou você não defende a sua casa”, resume Rosa.