“Vinte, vinte e cinco por cento do PIB estão sendo drenados por gente improdutiva, através do sistema de computadores, simplesmente um dreno, e com toda a ajuda e solidariedade do BC do Campos Neto e dos interesses internacionais em torno disso, dos grandes grupos. O sistema faz agiotagem generalizada que paralisa o país”.

Assim o economista Ladislau Dowbor descreve a situação do país em entrevista ao TUTAMÉIA. Professor da PUC de São Paulo, secretário municipal no governo Erundina, consultor da ONU e autor de mais de 40 livros, ele está lançando “No Horizonte do Bom Senso: Aforismos” (Edições Sesc).

Para ele, o Brasil é usado como uma vaca leiteira, com esse dreno financeiro que enriquece grandes grupos nacionais e internacionais. Ao mesmo tempo, fornece matérias primas a preço de banana, sem cobrar imposto de exportação (acompanhe a íntegra da entrevista no vídeo e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

“Eles se chamam investidores; não são investidores; isso não é investimento. O cara ganhou dinheiro comprando ações no momento certo e vendendo no momento certo; com esse ganho não apareceu nem uma escola a mais, nenhuma estrada a mais. Esse dreno paralisa. 79% das famílias estão atoladas em dívidas pagando esse tipo de juros. Isso paralisa a demanda. As empresas também estão atoladas em dividas também porque estão pagando juros que são completamente surrealistas. 23,1% para as empresas. Você tocar negócios pagando praticamente um quarto do que você ganha para juros! É inviável. Na Europa vai ser 3%, 4% ao ano”, afirma.

O juro surreal, na visão do professor, “paralisou o consumo das famílias, a atividade empresarial e a capacidade de investimento do Estado, porque tira, por meio da taxa Selic, R$ 600 bilhões. O dreno são R$ 600 bilhões sobre a dívida pública, R$ 1,5 trilhão de crédito privado sobre empresas e famílias, R$ 570 bilhões de evasão fiscal, R$ 470 bilhões de renúncias fiscais e por aí vai. Com isso, esqueça que o país possa se desenvolver”.

Autor de “A Era do Capital Improdutivo”, Dowbor chama atenção para uma nova forma de exploração.

“A massa da população simplesmente não entende lhufas desse negócio de finanças. As formas antigas de você explorar as pessoas era pagando baixos salários. Isso o pessoal entende. Tem baixo salário, você briga, faz greve. Hoje não. Recebi um SMS do Santander me propondo uma oportunidade. Se eu estou no sufoco, eles me emprestam dinheiro a 5,9% ao mês! Isso dá 100% ao ano! Você tem uma incompreensão que permite um sistema de agiotagem generalizado. Há uma perda de controle que se mantém porque as pessoas não têm a compreensão que lhes permita reagir. Esse tipo de dreno é crime. Na França, em empréstimos acima de 6 mil euros, se você cobrar mais do que 4,9% ao ano você tá em cana”, afirma.

Sobre o cenário internacional, sob o impacto da crise bancária, Dowbor opina:

“A realidade é a seguinte: o FMI não apita nada, não tem autoridade financeira mundial nenhuma. Tem o BIS, na Basiléia, que não apita nada. Quanto muito, recomendam que os bancos não emitam mais do que nove vezes o dinheiro que eles têm. Aprendi na Suíça com bons banqueiros quando estudei economia lá que o banqueiro ganha dinheiro não é porque ele recebe dinheiro de alguém que deposita e ele paga o juro para o depositante e ele vai emprestar esse dinheiro para uma indústria que vai pagar juros elevados e no meio tem o spread. Isso é só uma palhinha. O essencial é o dinheiro que eles emprestam sem ter esse dinheiro, porque é lucro líquido”, diz. E ressalta:

“Esse é o processo que gerou a maior desigualdade que já se conheceu nesse planeta. Essa situação absolutamente dramática de distância entre ricos e pobres e que está aumentando de maneira radical”.