Quando ouviu pelo rádio a notícia do deslocamento de tropas golpistas saindo de Juiz de Fora, Jair Krischke correu para o centro de Porto Alegre. Encontrou um companheiro bancário com uma bandeira do PTB na esquina da rua da Praia com a rua Uruguai. Desesperado, ele falava em resistência. Mas não havia nada.
“Onde estavam os companheiros? A gente não encontrava, era um ou outro. E sem noção do que fazer. Foi um momento muito difícil”, lembra o historiador Krischke ao TUTAMÉIA. Nascido em 1938, ele é fundador e presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, uma organização que contabiliza 2 mil pessoas salvas de ditaduras no Cone Sul.
A desarticulação que Krischke constatou naquele 31 de março contrastava com a mobilização na campanha da Legalidade, que, sob a liderança de Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, bloqueara o golpe que queria impedir a posse de João Goulart após a renúncia de Jânio Quadros.
No mesmo centro de Porto Alegre, na virada de agosto para setembro de 1961, a mobilização popular enchera as ruas e tomara a praça da Matriz, na frente do Palácio Piratini. Krischke estivera lá.
Nesta entrevista, ele narra suas andanças entre os arredores do Piratini ao prédio conhecido como Mata-borrão, onde as pessoas se inscreviam para lutar em defesa da posse de Jango, em 1961. Viu, por exemplo, trabalhadores da Carris, a empresa de bondes, marchando rumo ao alistamento.
“Talvez essa resistência vitoriosa tenha criado em todos nós a certeza de que não haveria o golpe”, avalia ele 60 anos depois. E completa: . “A resistência de Brizola, mobilizando a sociedade brasileira, nos encheu de esperança. 64 nos pega de calças curtas”.
Na conversa, gravada em 8 de fevereiro de 2024, ele descreve a história do movimento e relata casos em que sua atuação foi fundamental para garantir vidas.
O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira.
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