“Há um elo entre toda essa história do garimpo [em áreas yanomamis] e o que aconteceu com o Bruno Pereira. Há notícias de que o norte inteiro está sob ocupação de organizações criminosas. É gravíssimo –e parece que não é só boato. No fundo, a soberania do Brasil sobre o norte está em questão, por causa das organizações criminosas. Isso é uma coisa absurda”.
O alerta é da antropóloga Manuela Carneiro da Cunha em entrevista ao TUTAMÉIA. Autora de “História dos Índios no Brasil”, ela é uma das mais importantes intelectuais do país. Professora na USP, Unicamp e Universidade de Chicago, integra a Comissão Arns.
Ao TUTAMÉIA, ela fala da visão e da organização yanomami, do grande capital envolvido no garimpo, do poder do narcotráfico, do papel das Forças Armadas e do aumento da mobilização dos povos indígenas e da sociedade brasileira.
“Hoje em dia, o custo do maquinário para garimpar é coisa de muito capital. É uma coisa altamente capitalizada. Muitos dos que estão lá estão fazendo um ilícito flagrante e manejando muito capital. Os mundurucus estão na mesma situação que hoje os yanomamis, uma destruição do território, uma coisa pavorosa”, aponta Manuela.
“E há aliciamento também. Há aliciamento de jovens, de jovens para levar as suas irmãs para serem prostituídas. Coisas abomináveis. Além disso, é uma destruição da floresta. Aquelas poças d’agua são criadores de mosquito da malária”.
“Essa guerra ao garimpo hoje é uma guerra de proporções muito maiores do que á foi no passado. Há uma grande responsabilidade desses anos [Bolsonaro] não só de descaso, mas de permissividade e de incentivo ao garimpo”.
Nesta conversa no estúdio do TUTAMÉIA, a primeira presencial desde o início da pandemia, a antropóloga trata das principais pesquisas e publicações realizadas sobre os yanomamis. Aos 79 anos, Manuela relembra dos debates na Constituinte sobre a questão indígena e até de uma missão à região norte com Severo Gomes (acompanhe a íntegra no vídeo e se inscreva no TUTAMÉIA TV).
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