Por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4

Inicio pedindo licença para mudar o destinatário desta missiva. Perdoem-me, mas fiquei cabreiro de me dirigir a todos vocês numa carta só. Sendo assim, me reportarei a Marcelo Segreto, o arranjador, compositor do grupo e produtor musical do novo CD da banda: PSSP (YB Music e gravadora experimental da Fatec Tatuí). Foi mal, galera. Eu espero que compreendam a dificuldade que pintou meio que de repente, sei lá.

Mas vamos em frente. E aí, Segreto, beleza? Fiquei feliz ao saber que a Filarmônica de Pasárgada foi criada em 2008 por alunos do curso de música da USP, apenas para interpretar suas canções, cara, que barato! E outra coisa, véio, achei porreta o PSSP ser todo em homenagem à cidade de São Paulo.

Para tanto, você se valeu de fatos concretos ou idealizados, né? – tratados com humor, às vezes com ironia. A concepção poético-musical vê a beleza múltipla desta terra em que todos os que a habitam têm tatuada na alma a certeza do pertencimento, tipo: nasci aqui, sou daqui; cheguei aqui, sou daqui. Simples assim.

Convém também registrar, Segreto, que estou escrevendo esta cartinha em pleno 25 de janeiro, dia em que a capital paulista comemora 469 anos. A emoção brota dos poros. E não é pra menos, há trinta anos cheguei aqui para ficar. Aqui nasceu minha filha mais nova… e daqui não saio, daqui ninguém me tira! Será? Sei lá…

Mas diga aí, Segreto, o que é essa lista de convidados, amigo? Tom Zé (sempre ele!), Barbatuques, Trupe Chá de Boldo, Música de Montagem, Mestre Zelão e Escola Mutungo de Capoeira Angola… Desbundante!

Ouvindo PSSP, não há como não concordar, mais uma vez, com Luiz Tatit, que assim escreveu a respeito: “É o próprio Marcelo quem escreve os arranjos para instrumentos, muitas vezes alterados eletronicamente, mas também para clarinete, fagote, trombone e percussão de toda ordem e diversos tipos de vozes e coros. Na busca desses timbres inesperados e na maneira de digerir as modas e os comportamentos sociais transformando-os em obras cancionais, o compositor não poderia deixar de flertar com o papa desse gênero de experimento musical: Tom Zé (…)”. Bingo!

Voltemos ao PSSP. Assim como Tatit, sinto que Tom Zé está presente em cada acorde, em cada verso das músicas inéditas criadas por você, Segreto. Sua percepção musical encontrou em Antonio José a explosão seminal para se tornar planetária. A desconstrução de “meias-verdades musicais”, sempre presente na obra do baiano de Irará, você sabiamente congregou ao seu trabalho. Tal proeza, que é gigante, trouxe um arejamento para o som da Filarmônica de Pasárgada como há muito não se ouvia na cena paulistana. A virtude de gerar momentos tão inesperados quanto admiráveis faz da banda depositária da fé em ver a Música dando novos e promissores passos à frente.

Por fim, Marcelo Segreto, peço-lhe que transmita efusivos parabéns aos musicistas da Filarmônica de Pasárgada, mestres que vitalizam as músicas que tocam. E a ti, maestro, um fraternal abraço.

Aquiles