De sua casa no deserto do Arizona, o linguista Noam Chomsky, maior intelectual no planeta, deu entrevista ao TUTAMÉIA em que avalia os efeitos da pandemia do coronavírus (clique no vídeo acima para ver a íntegra). Analisa as ações de diversos governos, desde a China até os Estados Unidos, e aponta que o mundo está chegando cada vez mais próximo a um ponto de ruptura. Fala do risco das armas nucleares, do aquecimento global e da nova ameaça à humanidade: a destruição das democracias no planeta.

Condena a atuação de Donald Trump: “Ele está agindo para aumentar a contagem de cadáveres”. Para comprovar sua afirmação, alinha as diversas políticas e idas e vindas do presidente norte-americano, que agora busca fugir de suas responsabilidades frente ao desastre que ocorre nos Estados Unidos.

Quando lembramos que as palavras e ações de Trump são imitadas quase ao pé da letra por Bolsonaro no Brasil, Chomsky afirma que ambos atuam no sentido da destruição de seus país. E diz: “Vocês lembram a famosa frase Karl Marx, que dizia que a história se repetia, uma vez como tragédia, outra como farsa. Trump é a tragédia, Bolsonaro é a farsa, seguindo as pegadas de seu senhor.”

Segue comentando: “É muito surpreendente o que aconteceu no Brasil. Nos primeiros 15 anos deste século, o Brasil era um dos países mais respeitados do mundo, liderando as discussões nos assuntos internacionais, com Lula e Celso Amorim sendo considerados grandes estadistas. O Brasil era a voz do Sul, havia enormes elogios para seu desenvolvimento interno, mesmo por parte de instituições financeiras internacionais”.

“O Banco Mundial, em 2016, fez uma avaliação da economia brasileira afirmando que o Brasil tinha vivido sua década de ouro, única na história do país: milhões de pessoas saíram da pobreza, houve aumento da inclusão social, com grandes partes da população deixando a marginalidade por conta dos programas econômicos e sociais.”

“E veja a situação hoje: o Brasil é um dos países mais ridículos do mundo, considerado uma piada. As políticas que estão sendo adotadas são grotescas e projetadas para piorar a situação do país. A política econômica de Guedes é privatizar tudo, garantir que o país seja vendido a investidores estrangeiros e para os superricos, sem deixar nada para o povo”.

Chomsky comparou a situação internacional de hoje com a dos anos 1930, quando a humanidade se deparou com dois caminhos: o nazismo e o estado do bem estar social. Falou da ascensão da China e afirmou que o soft power americano está em declínio, ainda que o poder econômico e militar dos Estados Unidos permaneça dominante.

Apesar de traçar um quadro dramático da situação do mundo, apontando com os poderes do planeta estão se unindo para que o status quo seja mantido depois do final da pandemia, lembra que há opções e que a história não está escrita.

Fala, por exemplo, da Internacional Progressista, em formação para criar alternativa à doutrina neoliberal. Diz acreditar nos movimentos populares e em possíveis saídas que venham a construir. E volta a citar o Brasil para mostrar que nada é definitivo: “Vocês viveram uma ditadura e saíram da ditadura. É possível sair dessa situação também”