“O ‘Partido Militar’ está montando suas alianças para a sucessão. Bolsonaro é descartável. Ele já cumpriu o seu papel. Ele já permitiu que esse grupo ocupasse as entranhas do poder”.

A avaliação é de Marcelo Pimentel, oficial do Exército da reserva, ao TUTAMÉIA. Mestre em ciências militares pela Escola de Comando do Estado Maior do Exército, ele fala sobre a ameaça de golpe, as mobilizações para o 7 de Setembro, as insubordinações nas polícias estaduais, o avanço das milícias e a estratégia política dos militares para a manutenção do poder (acompanhe a íntegra no vídeo e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

“Essa narrativa de golpe tem a finalidade de gerar na opinião pública uma percepção e um temor de que o capitão Bolsonaro é golpista, que ele é o agente central da politização das Forças Armadas, da politização das polícias militares. Ele é um mero sintoma de um fenômeno mais profundo, mais denso, de natureza social e histórica que é esse ativismo político das cúpulas hierárquicas absolutamente anacrônico no século 21”, diz.

Esse clima, afirma, gera a visão de que “o seu entorno, completamente militarizado, pareça razoável e acabe atendendo ao clamor popular, por intermédio de suas representações políticas e institucionais, e acabe contribuindo para impedir o golpe, que é meramente narrativo”.

Assim, defende Pimentel, as cúpulas militares “posam de democratas e de garantidoras da institucionalidade, de salvadoras de pátria, para atingir vários objetivos”.

O primeiro, declara, “é manter o poder político que já têm, e que foi obtido pela via eleitoral. Ao mesmo tempo, descolam a imagem da instituição da candidatura e da figura de Bolsonaro, que não existiria se não fosse a ação política desses generais da sua geração dos anos 1970 da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras)”.

No médio prazo, o objetivo, segundo ele, é fazer a revisão histórica do próprio golpe de 64.
“Mudou o método. Agora não é mais um golpe. Agora eles são os bombeiros que vão aparecer para apagar um incêndio que eles mesmos colocaram ao colocarem aquele incendiário no poder”.

Pimentel enfatiza:

“Foram esses generais que politicamente enganaram o eleitor brasileiro e colocaram esse incendiário vestido de bombeiro. Quando ele chegou no poder, o usaram como Cavalo de Tróia, ocuparam as entranhas do governo e o transformaram, em dois anos, em um espantalho”.

“Não haverá rompimento institucional, embora possa haver alguns fatos, algumas escaramuças, artificializados ou potencializados, para dar a ideia de que existe esse perigo”.

Para o oficial da reserva, é uma insensatez das Forças Armadas “vincular uma instituição inteira a um presidente que politicamente defendeu as milícias, que recebeu o voto e o apoio político de milicianos”.