Num Vaticano onde os termômetros mostravam 40 graus, foi com interesse e preocupação que o Papa Francisco ouviu nesta sexta-feira, 3.8, relatos de brasileiros sobre o golpe que afeta a democracia do país.

Depois de um encontro, no dia anterior, com Celso Amorim, ministro dos governos Lula e Dilma, o sumo pontífice recebeu uma delegação de quatro brasileiros: Paulo Sérgio Pinheiro, secretário de direitos humanos no governo Fernando Henrique Cardoso e coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Carol Proner, advogada e co-autora de livro que expõe a parcialidade do processo contra Lula, Marinete Silva, mãe de Marielle Franco, vereadora do Psol assassinada no Rio de Janeiro, e Cibele Kuss, pastora luterana.

Marinete Silva, Carol Proner, papa Francisco, Paulo Sérgio Pinheiro e Cibele Kuss – foto Arquivo pessoal

Em depoimento exclusivo ao TUTAMÉIA, Paulo Sérgio Pinheiro contou que relatou ao papa “os ataques à democracia e aos direitos humanos desde o golpe do impeachment” (clique no vídeo no alto da página para acompanhar o depoimento completo).

Afirmou que “a elite econômica e política que tomou de assalto o poder” está impondo “uma política de austeridade consistente e coerente contra os direitos da maioria da população”. Tratou da desmontagem das agendas sociais, de proteção aos direitos humanos, de acesso à saúde e à educação, que terá “repercussões para várias gerações”

Pinheiro enfatizou ao Papa o fato de o Brasil ser campeão dos assassinatos de defensores de direitos humanos e do ambiente. “No Brasil, hoje, aqueles que denunciam essas violações e os direitos dos mais vulneráveis correm enormes riscos, como foi o caso da Marielle Franco e mais de 50 defensores de direitos humanos assassinados em 2017”.

Na sua exposição, ele falou das violências contra a população, especialmente os afrodescendentes, jovens adolescentes negros que são eliminados pelo país, num processo de execuções de civis. Citou o dado: 66 mil homicídios por ano –“o que nos coloca numa posição alarmante”, afirma o professor de ciência política.

A mãe de Marielle levou de lembrança para o papa uma camiseta com a foto da vereadora assassinada no Rio de Janeiro. A advogada Carol Proner presenteou o papa com dois livros em que especialistas em direito analisam os recentes ataques à democracia no Brasil: o processo de impeachment da presidenta Dilma e o julgamento do presidente Lula.

Proner contou à imprensa que o papa comentou que “tem observado que alguém acusado por corrupção através da mídia é destruído publicamente. Depois o juiz inventa uma legislação, não respeitando direitos, para confirmar o processo de condenação antecipado”.

Declaração que se soma às suas falas do dia anterior, no encontro com, o ex-chanceler Celso Amorim. O brasileiro levou para o Papa Francisco o livro de Lula, “A Verdade Vencerá”. E conseguiu de volta um tesouro: em um segundo exem,plar, o religioso fez uma dedicatória endereça a Lula em que pede a ele orações.