Esportistas amadores, lideranças sindicais, representantes de partidos políticos, delegação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e integrantes do grupo Poetas pela Democracia participaram de uma caminhada no início da manhã de ontem, 9 de Julho, abrindo as manifestações do Dia da Luta Operária. A data homenageia a memória de José Martinez, jovem sapateiro assassinado pela repressão naquele dia, em 1917, durante piquete na primeira greve geral do Brasil. É também um contraponto à celebração que a elite paulista faz da fracassada tentativa golpista de 1932, que tentou minar o governo progressista de Getúlio Vargas.

A defesa da democracia contra o golpismo que hoje ameaça até mesmo a realização das eleições em nosso país e a necessidade de luta pela revogação da reforma trabalhista foram as marcas da manifestação de ontem, nas ruas do Brás e na antiga fábrica onde aconteceu o evento principal.

Convocada pelo coletivo de Caminhantes e Corredores Lula Presidente, com o apoio de sindicatos e mandatos de políticos progressistas de São Paulo, a caminhada começou no Largo da Concórdia, marco histórico das lutas dos trabalhadores paulistas: foi lá que, durante manifestação da greve de 1917, foi cantada pela primeira vez em português o hino operário “A Internacional”.

Na praça, o ponto de concentração foi também simbólico: os caminhantes se reuniram em torno do Monumento ao Migrante Nordestino, de onde partiram em direção ao local do evento, em que seriam homenageadas figuras do movimento sindical (fotos e vídeos feitos por integrantes do coletivo e participantes da caminhada).

Logo na saída, um pequeno incidente: policiais mal informados tentaram impedir a saída do carro de som, gentilmente colocado à disposição do movimento pela Força Sindical. Chegaram mesmo a “fechar” o carro e ameaçar multar, mas logo foram dissuadidos por integrantes do pessoal do Trânsito da PM, que logo se fizeram presentes para dar segurança aos manifestantes, fechando o trânsito no percurso da caminhada.

Sem mais delongas, o grupo partiu pelo viaduto da rua do Gasômetro. À frente dos manifestantes, levando a faixa do Coletivo com ilustração da cartunista Laerte, se revezaram figuras como o vereador Antonio Donato, autor da lei que criou o Dia da Luta Operária em São Paulo, o dirigente sindical João Carlos Juruna, dos Metalúrgicos e da Força Sindical, assim como representantes do coletivo Caminhantes e Corredores por Lula Presidente. Também estavam presentes representantes dos mandatos da vereadora Juliana Cardoso e do deputado Nilto Tatto, que apoiam e participam do coletivo.

“A ideia da caminhada engrandeceu o Dia da Luta Operária, que está se consagrando no calendário do movimento sindical e da cidade resgatando ano a ano a memória da greve de 1917. Uma iniciativa do vereador Donato que valoriza os trabalhadores, e que agrega diversas atividades, políticas, culturais e esportivos. Nós da Força ficamos muito satisfeitos com o evento”, disse Juruna.

E Ana Lúcia Duarte, da Escola Nacional Florestan Fernandes, do MST, afirmou: “Participar da caminhada em defesa dos direitos da classe trabalhadora foi muito importante para nós. Ao participar dela tivemos a oportunidade de dialogar com a sociedade sobre a importância da luta operária nesta conjuntura bem como a conquista de direitos através dessas lutas. Outro aspecto relevante foi poder pautar a eleição 2022 e a defesa de nosso Projeto Popular”.

 

Para o professor Neilton Ferreira Júnior, autor  da primeira tese de doutorado sobre racismo e esporte na Escola de Educação Física da USP e participante da caminhada, “O último dia nove foi, dentre outras coisas, um momento de recolocar o corpo em movimento na centralidade da política. O protagonismo popular só poderá crescer se permitirmos com que a classe trabalhadora tenha tempo livre para pensar sua existência e sua necessidade de organização. Trabalhando menos, trabalharemos todos! Com mais tempo livre, poderemos cuidar melhor da vida, do mundo”.

Lacas Camargo, do MST, comentou: “Foi muito importante pra nós da Escola participar do Dia da Luta Operária. Nós da ENFF estivemos no ato somando junto com sindicatos e movimentos sociais pela defesa dos direitos da classe trabalhadora, e para lembrar a data como um legado de resistência”.

No carro de som, a dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos Alsira Lima dava a letra da luta, como você pode ver CLICANDO AQUI.

A defesa da candidatura de Lula como caminho para o país sair do pântano em que vivemos hoje estava firma da marcha e no canto dos caminhantes, como mostra o vídeo a seguir:

Na sua reta final, a caminhada enveredou pela rua Monsenhor Andrade, onde em 1917 aconteceram os primeiros conflitos sangrentos entre a repressão e os grevistas. Foi lá, em frente à tecelagem Mariangela, que Martinez foi assassinado. A revolta contra o crime serviu como um rastilho para a greve, que tomou conta da cidade: dois dias depois, cerca de 70 mil pessoas, na cidade que mal tinha 200 mil habitantes, acompanharam o cortejo até o enterro do corpo do jovem sapateiro.

E assim os caminhantes enfim chegaram ao prédio da antiga fábrica onde seriam realizadas as homenagens do Dia da Luta Operária.

 

No evento, aberto em ritmo de alegria e disposição de luta pela centenária Corporação Musical Operária da Lapa (fundada em 1881), foi entregue o troféu José Martinez a Clara Ant, arquiteta, ex-vice-presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e ex-dirigente da (CUT) Central Única dos Trabalhadores, e ao representante de João Guilherme Vargas Netto, jornalista, consultor sindical e membro do DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar).

In memorian, foram homenageados o metalúrgico José Calixto Ramos, ex-presidente da NCST (Nova Central Sindical dos Trabalhadores) e da CNTI (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria), e o metroviário Wagner Gomes, ex-presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo e ex-presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil).

O evento é uma iniciativa do mandato do vereador Antonio Donato (PT) em parceria com as centrais sindicais Intersindical Central da Classe Trabalhadora, CSP-Conlutas, CSB, CTB, CUT, UGT, Força Sindical, NCST, Pública e Intersindical Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora. Também participam da homenagem o Centro de Memória Sindical, o Cedem-Unesp, Instituto Astrogildo Pereira, IIEP, Memorial da Resistência e Oboré.

Ao final, lembrando a história da data, o do músico, poeta e chargista Caio Muniz interpretou ao violão “A Internacional”, fechando com coro de todos os presentes.

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PS:
Para saber mais sobre o Dia da Luta Operária, a greve de 1917 e as lutas dos trabalhadores nos dias de hoje, acompanhe esta entrevista de TUTAMÉIA com Donato e Carolina Maria Ruy, coordenadora do Centro de Memória Sindical: