Ufa! Chegamos aos cinco quilômetros!

Alguém pode dizer: “Cinco quilômetros! Isso é coisa de maricas para quem já fez provas de cem quilômetros”. E eu digo: “Toda distância importa! Cada um é seu cada qual, cada treino é treino, e o percurso só acaba quando termina”.

Pois hoje fizemos o percurso mais longo e a corrida mais intensa desde que a EQUIPE TUTAMÉIA DE CORRIDAS retomou os treinos de rua –de máscara e em horário de pouco movimento. Registre-se que as poucas pessoas por quem passamos e mesmo a maior parte dos motoristas em seus carros, todos em geral usando máscara, o que é um alívio, de um lado, e uma esperança, indicando que pelo menos uma parte da população não dá ouvidos às baboseiras criminosas emanadas do Palácio do Planalto.

Nesta pandemia, nunca deixamos de treinar, fazendo caminhadas e exercícios em circuitos internos desde o início de nossa quarentena, em 12 de março passado. Não estávamos nos preparando para nada, apenas mantendo o corpo em ação, em movimento, tentando reduzir as perdas provocadas pela parada obrigatória, involuntária. Mas só em outubro achamos razoável voltar a fazer caminhadas nas ruas.

O primeiro treino com corrida foi no dia 11 de outubro. Iniciamos como se nunca tivéssemos corrido –e é mais o menos como o corpo fica, depois de sete meses de quase sedentarismo. Progressão lenta e gradual, bem lenta e bem gradual.

As jornadas das iniciais da EQUIPE TUTAMÉIA DE CORRIDAS –minha filha mais velha, Laura, e o pai dela mais velho ainda, Rodolfo– foram de quatro quilômetros, divididos em dez blocos em que combinamos cem metros correndo e trezentos metros caminhando. De modo geral, nossa ideia é fazer o mesmo treino durante três semanas, daí avançar para algo um pouco mais exigente, manter por três semanas, avançar e assim por diante.

Seguindo esse programa, passamos para oito blocos de duzentos metros correndo e trezentos caminhando, aumentando a exigência, mas mantendo a mesma distância total dos primeiros treinos.

Funcionou um pouco, mas logo vimos que aquilo estava demais para aquele momento. Voltamos aos blocos de cem por trezentos por uma semana, para então partirmos novamente para os blocos de duzentos por trezentos.

Já não teve alguém que escreveu que a vida é assim, esquenta e esfria? Pois nos treinos também: há avanços e recuos, pausas, descansos e retomadas para novos avanços e assim por diante. O que a vida e a corrida querem de nós é coragem.

Nossos treinos são feitos nas ruas do bairro, em circuito bem arborizado e com pouco movimento de carros. Há algumas subidas bem exigentes –a gente só corre em subida; quando descemos, é sempre caminhando, para não forçar os joelhos.

Conseguimos dominar bem a maior exigência de tempo correndo, um pouco mais de suor, um pouco mais de cansaço. Dava para ampliar.

Foi hoje! DEZ blocos de duzentos metros correndo por trezentos metros caminhando, sem paradas, sem descanso para beber água, encarando as subidas que vinham pela frente, dominando as descidas, acelerando nos trechos planos  –nunca planos, sempre ondulados.

Terminamos suados, cansados, sob um sol gostoso e com espírito de quero mais. Tomara que a gente e todo o Brasil e todo o mundo consigamos superar esse momento, enfrentar essa tragédia que se abate sobre a humanidade, apesar dos governos negacionistas, irresponsável, criminosos, que se abraçam ao vírus para provocar mortandade, angústia e terror na população.

A corrida não é saída nem solução, mas é um jeito de a gente se ajudar a ficar mais ou menos saudável e com a cabeça funcionando. É também uma resposta aos negacionistas e agentes da necropolítica. Como já disse alguém, nossa vingança é ficarmos vivos.