“A grande revolução que Lênin trouxe é esta: passar a conceber a transformação socialista como condicionada pela revolução proletária, por sua vez condicionada pela luta anticolonial”, afirma o historiador João Quartim de Moraes em entrevista ao TUTAMÉIA em programa especial pela passagem dos 150 anos do nascimento de VLADIMIR ILICH ULIANOV, o comandante da Revolução Soviética (assista ao vídeo clicando no link acima e se inscreva no canal TUTAMÉIA TV).

Depois de falar um pouco sobre as condições da Rússia em que Lênin nasceu, em 22 de abril de 1870 em Simbirsk, da família e do início da militância do revolucionário, Quartim destacou algumas das obras, como “O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia”, escrito quando ele estava exilado na Sibéria.

“Quando ele começou a pensar, a travar uma luta teórica, a assimilar teoria e a travar uma luta teórica, ela já aparece convencido de que a revolução de nossa época é uma revolução cujos fundamentos estão em “O Capital” e cujas diretrizes estão no movimento marxista. Ele começa muita cedo.  “O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia” é um livro que mostra uma assimilação muito grande do Capital. Ele já dominava, com vinte e poucos anos, um texto difícil e complexo como “O Capital”. Não só dominava no sentido de conhecer, mas produzia teoria a partir desse conhecimento”, destaca Quartim.

O historiador também aponta o papel de Lênin na construção do partido que conduziu o processo revolucionário na Rússia: “No exílio, desenvolveu uma atividade febril de organização do movimento revolucionário russo, do POSDR, o Partido Operário Social Democrata da Rússia. Esse partido estava desdobrado em duas tendências. A tendência na qual Lênin logo emergiu como um dos principais ou o principal organizador era a Bolchevique, majoritária, que era a maioria revolucionária, partidária de um partido disciplinado, extremamente centralizado, para travar o combate nas mais difíceis condições, na clandestinidade e num país imenso como a Rússia.”

Concepção que é discutida em uma das suas mais conhecidas obras, como destaca o historiador na entrevista ao TUTAMÉIA: “O famoso “Que Fazer”, muito citado, é uma grande obra política, de teoria política, mas não de teoria de ideias, é uma grande obra de organização política. É uma fundação da ação política. Lenin se dedicou, em “Que Fazer”, à organização dessa ala bolchevique, no sentido de torna-la um partido de combate, combate de ideias. Em “Que Fazer”, ele discute o que é propaganda, o que é agitação, e o que ele propõe é a construção de um jornal para toda Rússia. Isso era o centro da preocupação dele.”

Quartim fala mais sobre o desenrolar da luta política e militar na Rússia, as consignas usadas pelos revolucionários e o processo que conduziu até a tomada do poder. Destaca a capacidade de criação de Lênin, capaz de inovar conceitos em meio às batalhas políticas e concretas: “Ele não era de imitar, era de inventar”, resume Quartim de Moraes.

E logo aponta aquela que considera uma das maiores, se não a maior “virada política” concebida pelo já então vitorioso líder da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas:

“Ele aponta que a grande contradição de nosso tempo é entre o punhado de nações que dominam o resto do mundo, e a imensa maioria da humanidade que é explorada por essas nações. Claro que isso não abole a contradição entre capital e trabalho, mas essa é contradição que está na frente dos acontecimentos. A outra está latente, mas a grande oposição é essa. Isso é algo que um certo purismo marxológico nunca admite. A grande revolução que Lênin trouxe é essa: passar a conceber a transformação socialista como condicionada pela revolução proletária, por sua vez condicionada pela luta anticolonial.”

E segue o historiador, em defesa de seu ponto: “Tanto isso é verdade que em 1924 mudaram o dístico da Internacional Comunista, que dizia: “Proletários de todo o mundo, uni-vos. Passou a ser “proletários e povos coloniais do mundo inteiro, uni-vos”. E é assim que se entende o século 20. Alguém entende o século 20 sem a revolução anticolonial, sem as lutas de libertação nacional?”