“A guerrilha de Caparaó foi um marco do início da resistência no Brasil, uma marca emblemática demonstrando o não pensamento hegemônico nas Forças Armadas de que aquela solução dada em 1964 era a solução de que o Brasil precisava. Havia quem questionasse isso.”

Assim o jornalista José Caldas da Costa define a importância histórica daquele movimento de resistência armada ao regime militar. Premiado autor de “Caparaó – A Primeira Guerrilha Contra a Ditadura”, Costa fala ao TUTAMÉIA nos 55 anos do final daquele projeto, que durou nove meses até que o último guerrilheiro foi preso em primeiro de abril de 1967 (clique no vídeo para acompanhar a entrevista completa e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

Apoiada por Leonel Brizola, então no exílio, a guerrilha reuniu basicamente um pequeno grupo de ex-militares que haviam participado de fracassadas tentativas de resistência ao golpe de 1964. No seu curto período de duração, teve a participação de cerca de duas dezenas de militantes –nem todos presentes o tempo todo na serra do Espírito Santo—e mobilizou, nos cálculos do jornalista, cento e vinte pessoas no seu círculo de apoio.

Na conversa, Costa conta algumas histórias da resistência, fala de erros e pequenas conquistas, comenta a trajetória de combatentes e fala sobre a perseguição aos guerrilheiros e a destruição da organização. A derrota também cobrou um preço ao regime militar, como afirmou o guerrilheiro Jelcy Rodrigues Corrêa, que morreu de covid em julho de 2020, aos 87 anos. Em depoimento registrado no livro e citado na entrevista, ele diz:

“Caparaó era uma vergonha para o novo regime porque foi feito por militares; uma vergonha porque fomos presos pela Polícia Militar, não por eles; uma vergonha porque levaram vinte mil homens para lá quando tínhamos apenas treze e, quando chegaram lá, não havia mais ninguém.”

Com o que concorda o jornalista, resumindo assim o legado da guerrilha:

“Caparaó coloca um carimbo: não é todo mundo que pensa igual a vocês. E há uma necessidade de resistência. É um grito de uns poucos homens, mas é um grito que fica ecoando até hoje, pois a gente está falando deles aqui, cinquenta e cinco anos depois.”