“No Brasil, a democracia está sob cerco. O controle da mídia por apenas um grupo, o poder econômico conservador, o poder financeiro, a pressão de parte da área militar, a orientação política da Justiça, tudo isso faz do Brasil uma democracia pela metade. Uma democracia em que é possível, com base em acusações falsas e em um julgamento injusto, varrer das campanhas políticas o candidato mais popular, isso não é um país totalmente democrática.”

Essa é a avaliação que faz Massimo D`Alema, primeiro-ministro da Itália de 1998 a 2000, mais tarde ministro das relações exteriores e hoje um destacado dirigente do partido Democrata italiano. D`Alema esteve no Brasil na semana passada: visitou o presidente Lula na prisão em Curitiba, participou do seminário “Ameaças à Democracia e à Ordem Multipolar”, promovido pela Fundação Perseu Abramo, e concedeu entrevista ao TUTAMÉIA em que avaliou a situação no Brasil.

Na opinião dele, os golpistas foram surpreendidos pela reação dos brasileiros, não contavam com a capacidade de resistência do povo.

“O impeachment ilegal da presidenta Dilma –não havia bases legais, foi um golpe político—e a perseguição a Lula fazem parte de uma iniciativa. Eles acreditavam de fato, eu acho, que a campanha contra Lula, a condenação de Lula tornaria possível eliminar não apenas Lula, mas também o PT e a esquerda.”

E continua: “Isso foi impossível por causa da resistência do povo. Os promotores dessa iniciativa subestimaram a capacidade de resistência do povo brasileiro. É impressionante! É surpreendente! Apesar de toda a campanha contra Lula, a maioria dos brasileiros confia em Lula, apoia Lula. E, se ele fosse candidato, venceria no primeiro turno”.

ESPÍRITO DE LUTA

D`Alema, 69, contou ao TUTAMÉIA que conhece Lula desde os anos 1990, quando o brasileiro participou de encontros com a esquerda italiana: “É uma grande personalidade, um grande líder, um homem apaixonado”.

O italiano, por sua vez, veio ao Brasil em 2002, engajando-se na campanha de Lula. Anos depois, como ministro das relações exteriores da Itália, participou da cerimônia.

Agora, visitou o amigo na prisão e relata: “Lula está um pouco magro, tenso, é claro, está sofrendo. Mas está determinado, lúcido, e tem a mesma visão, a mesma paixão que ele tinha quando estava na Presidência. Não há diferença entre o Lula do Palácio do Planalto e o Lula no prédio da Polícia Feral em Curitiba. É a mesma pessoa, a mesma visão política…

“Nós tivemos uma longa conversa. Ele está lendo um livrão sobre a fome no mundo, assunto em que ele é especialista. A luta contra a fome no Brasil foi uma das mais importantes conquistas do governo Lula. Nós conversamos sobre o Brasil, a situação do Brasil. Ele está firmemente decidido, com prometido a apoiar o candidato do PT, Fernando Haddad, e fica pensando o que pode fazer para ajudar, apesar nessa difícil situação que está vivendo.”

Na avaliação de D`Alema, Lula “é vítima de uma injustiça brutal. O julgamento foi injusto, sem garantias para a defesa, e condenação foi sem nenhuma prova”.  Mas é “um lutador”.

“Ele não falou sobre a injustiça que lhe foi imposta, o que é uma mensagem positiva, eu acredito. Significa que o homem está bem. Ele não está fechado em si mesmo. Está pensando no mundo, nos outros, nos brasileiros, sobre o futuro de seu país. Isso é bom. Porque significa que ele está bem.”

IMPORTÂNCIA DO BRASIL

Ao TUTAMÉIA, o dirigente político italiano destacou a importância de o Brasil recuperar o caminho da democracia e da luta contra a desigualdade.

“É possível reverter o quadro de cerco à democracia por meio das eleições”, afirma ele. “As eleições são muito importantes. O que está em jogo não é apenas a chance de retomada do caminho da justiça social, o que está em jogo é a democracia no mundo. É por isso que democratas do mundo todo olham para a situação brasileira com preocupação, mas também com solidariedade e expectativa. É por isso que estamos aqui, porque a democracia é um valor universal. E nós tempos que defender e proteger a democracia em toda a parte, inclusive aqui no Brasil.”

A vitória de Lula ou de seu indicado, de um candidato progressista, terá consequências planetárias, avalia D`Alema:

“O que acontece no Brasil é importante para o mundo. É um grande país, um país que se tornou protagonista no cenário internacional, especialmente nos últimos anos, especialmente graças a Lula. O Brasil com um governo de esquerda e o México, com Lopez Obrador, significa 70% da América Latina. Isso é muito importante no equilíbrio de poderes no continente e no mundo.”