O golpe contra Brasil se aprofundou nesta semana. O cerco a Lula foi apertado e a sua prisão é provável. Para as forças progressistas, o caminho é reforçar e ampliar o apoio à candidatura do ex-presidente –principal alvo das forças antidemocráticas, antinacionais e antipopulares que tomaram o poder em 2016. Debater filigranas, planos B e outras quizombas é tergiversar sobre o que é principal.

A decisão unânime dos três desembargadores do TRF4 foi uma mensagem clara: o golpe não brinca em serviço, passa o trator e tem o sentido de sufocar e destruir a principal liderança popular do país nos últimos 50 anos. As forças reacionárias, oligárquicas, escravocratas vieram com tudo e tentam desarticular, dividir, deprimir os que defendem as políticas de independência, desenvolvimento, distribuição de renda e direitos sociais.

A partir da divulgação do resultado do julgamento do dia 24, as interpretações da direita caminharam em torno de três pontos: 1) Lula é corrupto e está fora do páreo; 2) Lula e o PT estão isolados e vão encolher; 3) apoiadores e simpáticos a Lula devem buscar outro candidato _não há outra saída.

No dito mercado houve euforia, alta das bolsas, queda do dólar. Os operadores não gostam de Lula, de eleição, de democracia, de povo. Tudo isso “atrapalha” os negócios _repetem todo o dia. Melhor seria viver numa simples ditadura e ter uma população escrava e muda, parecem pensar. Esse capitalismo turbinado pelas finanças execra o voto livre –no Brasil e no mundo.

A decisão de ontem de reter o passaporte de Lula é sinal desse avanço golpista: um juiz do Distrito Federal se sentiu liberado a agredir o ex-presidente. Sobre esse ponto, Celso Amorim, ex-ministro das relações exteriores dos governos Lula declarou hoje:

“O presidente Lula é muito forte e tem enfrentado toda essa perseguição com realismo e firmeza. Mas, como se viu pela decisão de ontem, a imaginação sádica dos algozes não tem limites. A proibição da viagem é descabida, desnecessária (mesmo do ponto de vista deles). E provavelmente ilegal. Tanta mesquinharia só se explica pelo ódio e pela inveja. Lula é festejado por nossos irmãos africanos pela atenção que lhes deu e pela contribuição ao desenvolvimento da agricultura familiar e o combate à fome em todo o mundo”.

Do lado das forças progressistas, há sinais de frustração. Alguns acreditaram, talvez ingenuamente, que seria possível obter um resultado menos acachapante no TRF4, possibilitando maiores opções para a defesa de Lula. Agora, as estratégias ficaram muito mais estreitas. Há ainda um caminho no campo jurídico para a busca da participação do ex-presidente na telinha de votação em 7 de outubro. No curto prazo, a questão da prisão é a mais aflitiva.

No dia seguinte ao julgamento, o PT anunciou a candidatura Lula, num gesto de apoio e reforço ao ex-presidente. O partido promete organizar comitês em defesa de Lula e da democracia. Resta saber se a mobilização será maior do que a que aconteceu até agora contra o golpe.

O movimento mais forte ocorreu em abril passado, com a greve geral contra as medidas de esfarelamento das leis trabalhistas, de aniquilação de direitos e de desmonte da aposentadora pública. Agora, existe a convocação para paralisações, contra a dita reforma da previdência, cuja cotação seria no dia 19 de fevereiro.

Assim como o terreno é pedregoso no universo jurídico, a batalha política –que é a decisiva– não será fácil para Lula. Ampliar, mobilizar, resistir e não esmorecer são as palavras de ordem.

Cerrar fileiras em torno de Lula é o caminho para defender a democracia e combater o processo de destruição do país e dos direitos do povo, como apontou hoje Eugênio Aragão, ministro da Justiça no governo Dilma:

“Manter a candidatura de Lula, mesmo com a pífia manutenção da condenação do TRF, é a síntese dessa luta, em que insistimos em participar da via institucional, mas nos mobilizamos para demonstrar que quem quer romper a institucionalidade é o judiciário,  com apoio da mídia. No seu esquema formal, nós é que nos afirmamos como democratas e eles como golpistas! Essa sua desmoralização os aproxima cada vez mais de seu abismo. Não devemos alimentar nem ilusões e nem desesperança. A história não para com os golpes de tiro curto dos atores da repressão. Ela está inexoravelmente a nosso favor.”

A questão em jogo é muito mais do que a disputa eleitoral. Afinal, o país está sob ataque. Depois que descobriu o pré-sal, que adotou uma política fora da órbita de Washington, que passou a desenvolver políticas de inclusão social, foi podado. Há interesses externos no golpe, apontam muitos analistas.

O bispo emérito de Blumenau, dom Angélico Sândalo, Bernardino, concorda:

“Que existam interesses econômicos internacionais é evidente. Então é preciso realmente que nós trabalhemos sem cessar para que os poderes, as dificuldades que envolvem os Poderes Judiciário, Legislativo, Executivo, eles realmente ganhem um banho de isenção, ganhem um banho de ética e estejam efetivamente a serviço da verdade e do bem comum. Isso que nós precisamos.”

Enquanto isso, a alardeada recuperação mostra ter pés de barro. Dados oficiais divulgados hoje mostram que o país fechou 20.832 vagas de carteira assinada no ano passado, o terceiro no vermelho para o emprego. No total, são mais de 12 milhões de desempregados no país.

Esses pontos e muitos outros foram o destaque de hoje nos nossos comentários no Remelexo da Notícia (vídeo acima), que também apresentou a íntegra do discurso do ex-presidente Lula no comício-monstro de 23 de janeiro em Porto Alegre (foto na página inicial) e dicas para quem deseja ir ao cinema.