“Os Estados Unidos não permitirão jamais o Zelensky ir para uma negociação. Esse é um problema sério. A Rússia tem de fazer uma negociação com o governo Zelensky, mas esse governo não tem autonomia, não tem liberdade para fazer a negociação. Quem comanda está muito longe, lá do outro lado do Atlântico, mandando muitas armas, muito dinheiro. É uma situação complexa.”

Essa é a avaliação do jornalista e ex-senador italiano José Luiz Del Roio, falando ao TUTAMÉIA horas depois do fulgurante desfile militar russo em comemoração ao 77º aniversário do Dia da Vitória, quando as forças nazistas assinaram a rendição ao Exército Vermelho, oficializando a tomada de Berlim. Nas comemorações, também houve importante discurso de Vladimir Putin, que buscou inspiração nas lutas passadas para falar do presente (leia a íntegra ao final deste texto).

“Foi um discurso sem ameaças. Apenas afirma: a Rússia resiste sempre!”, comenta Del Roio, lembrando trechos da fala do dirigente russo:

“Hoje Putin fez um discurso nacionalista, da Rússia profunda. Um discurso calmo. Um discurso melancólico, quase triste. Ele fala da história profunda da Rússia, chama a memória de heróis e heroínas russas, generais que combateram contra a invasão napoleônica de 1812 ou que morreram na Guerra da Criméia, quando foram atacados pela Inglaterra, pela Itália, pela França. Foram atacados pelo ocidente. Ele cita esses heróis para lembrar a situação atual: a Rússia sempre foi atacada. Disse: ‘Somos uma grande nação, sempre fomos atacados e sempre resistimos, nunca fomos derrotados’. Ele chama a esse patriotismo histórico do povo russo.”

Del Roio diz ainda (clique no vídeo para acompanhar a entrevista completa e se inscreva no TUTAMÉIA TV): “Ele também chama à unidade das várias nacionalidades que há na Rússia, o país dos cem povos. Todas essas nacionalidades mandaram soldados, nesse momento, para resistir ao ataque da Otan na região do Donbass. Diz que as famílias dos que foram mortos e feridos não serão abandonadas. Mas não faz ameaças. Apenas afirma: a Rússia resiste sempre!”

E não deixa de falar sobre a situação do presente conflito, num trecho que Del Roio analisa assim:

“Putin falou sobre a operação militar especial, dizendo que a Rússia tentou tudo para que isso não acontecesse: fez propostas de paz, procurou fazer com que o Ocidente entendesse a posição da Rússia, declarou que a Rússia só interveio porque estavam a poucas horas de uma operação muito forte contra a população russa na Ucrânia. Hoje Putin foi muito moderado. Está implícita uma possibilidade de negociação. Mas com quem? Esse é o grande impasse.”

“FALO AGORA ÀS NOSSAS FORÇAS ARMADAS E ÀS MILÍCIAS DE DONBASS. VOCÊS ESTÃO COMBATENDO PELA PÁTRIA, PELO SEU FUTURO, PARA QUE NINGUÉM ESQUEÇA AS LIÇÕES DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL. PARA QUE NO MUNDO NÃO HAJA TORTURADORES, PUNIDORES E NAZISTAS”

Durante o desfile militar na Praça Vermelha pelo Dia da Vitória, em 9 de maio de 2022, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, parabenizou os cidadãos do país, lembrou os heróis da Grande Guerra pela Pátria e destacou as ações da OTAN na Ucrânia, explicando as razões da operação especial da Rússia em Donbass. Leia a fala do presidente na íntegra:

Prezados cidadãos da Rússia! Prezados veteranos! Camaradas soldados e marinheiros, sargentos, alferes e tenentes! Camaradas oficiais, generais e almirantes!

Parabenizo todos vocês pelo Dia da Vitória!

A defesa da Pátria, quando o seu destino estava sendo decidido, sempre foi algo sagrado. Foi com tal sentimento de verdadeiro patriotismo que os combatentes de Minin e Pozharsky lutaram pelo país, que os soldados se lançaram ao ataque no campo de Borodino, lutaram contra o inimigo nos arredores de Moscou e Leningrado, Kiev e Minsk, Stalingrado e Kursk, Sevastopol e Carcóvia.

Da mesma maneira, agora vocês estão lutando pelo nosso povo em Donbass. Pela segurança da nossa Pátria, a Rússia.

9 de maio de 1945 ficará para sempre na história mundial como um triunfo do nosso povo soviético, da sua união e poder espiritual, um feito sem precedentes na frente e na retaguarda.

O Dia da Vitória é uma data próxima e muito importante para cada um de nós. Não há uma família na Rússia que não tenha sido atingida pela Grande Guerra pela Pátria. A sua memória nunca se desvanece. Neste dia, na marcha interminável do Regimento Imortal, estão os filhos, netos e bisnetos dos heróis da Grande Guerra pela Pátria. Eles levam as fotos de seus familiares, soldados mortos, que permanecem jovens para sempre, e dos veteranos que já nos deixaram.

Temos orgulho na geração dos vencedores corajosos e invictos, de sermos seus herdeiros. Nosso dever é guardar a memória dos que venceram o nazismo, que nos legaram para estarmos vigilantes e fazermos tudo a fim de que o horror de uma guerra global não volte a acontecer.

Por isso, apesar das discórdias nas relações internacionais, a Rússia sempre defendeu a criação de um sistema de segurança indivisível e igual, um sistema que é vital para toda a comunidade internacional.

Em dezembro do ano passado, propusemos fazer um acordo sobre as garantias de segurança. A Rússia apelou ao Ocidente para um diálogo justo, para procurar compromissos, para considerar os interesses de cada uma das partes. Tudo em vão. Os países da OTAN não quiseram nos ouvir, o que significa que, na realidade, eles tinham planos completamente diferentes. E estamos vendo isso.

Estavam sendo realizadas preparações para mais uma operação punitiva em Donbass, para uma invasão de nossos territórios históricos, incluindo a Crimeia. Kiev falou da possível aquisição de armas nucleares. A OTAN começou o aproveitamento militar ativo dos territórios adjacentes ao nosso.

Dessa maneira, estava sendo criada sistematicamente uma ameaça absolutamente inaceitável para nós, ao lado das nossas fronteiras. Tudo indicava que um confronto com neonazis e banderistas, nos quais os EUA e seus aliados menores apostaram, seria inevitável.

Repito, vimos como estava sendo implantada a infraestrutura militar, como centenas de conselheiros estrangeiros começaram a trabalhar, havia entregas regulares do armamento mais avançado dos países da OTAN. A ameaça crescia a cada dia.

A Rússia realizou um ataque preventivo à agressão. Foi uma decisão forçada, oportuna e a única decisão correta, a decisão de um país soberano, forte e independente.

Os EUA, especialmente após a dissolução da União Soviética, começaram a falar de seu excepcionalismo, humilhando assim não apenas o mundo todo, mas também seus satélites, que têm de fingir que não notam nada e engolem tudo humildemente.

Mas nós somos um país diferente. A Rússia tem um carácter diferente, nunca abriremos mão de nosso amor à Pátria, da confiança nos valores e costumes tradicionais dos antepassados, do respeito por todos os povos e culturas.

Parece que no Ocidente decidiram cancelar estes valores milenares. Tal degradação moral se tornou a base de falsificações cínicas da história da Segunda Guerra Mundial, incitando à russofobia, à glorificação dos traidores, à zombaria da memória das vítimas, à negação da coragem das pessoas que conseguiram a vitória sofrendo.

Sabemos que os veteranos norte-americanos que queriam vir à parada em Moscou na prática foram proibidos de fazê-lo. Mas quero que eles saibam que estamos orgulhosos de seus feitos, de sua contribuição para a vitória comum.

Honramos todos os militares das forças aliadas, os norte-americanos, os britânicos, os franceses, os participantes da Resistência, os soldados e partisans corajosos da China, todos que venceram o nazismo e militarismo.

Prezados amigos! Hoje, os combatentes de Donbass, junto com os militares das Forças Armadas da Rússia, lutam no seu território, onde os soldados de Svyatoslav e Vladimir Monomakh, de Rumyantsev e Potemkin, Suvorov e Brusilov, onde os heróis da Grande Guerra Patriótica – Nikolai Vatutin, Sidor Kovpak e Lyudmila Pavlichenko resistiram até a morte.

Falo agora às nossas Forças Armadas e às milícias de Donbass. Vocês estão combatendo pela Pátria, pelo seu futuro, para que ninguém esqueça as lições da Segunda Guerra Mundial. Para que no mundo não haja torturadores, punidores e nazistas.

Hoje, curvamos nossas cabeças ante a memória de todas as pessoas que morreram na Segunda Guerra Mundial, a memória dos filhos, filhas, pais, mães, avôs, maridos, mulheres, irmãos, irmãs, familiares e amigos.

Inclinamos nossas cabeças ante a memória dos mártires de Odessa, queimados vivos na Casa dos Sindicatos em maio de 2014. Ante a memória dos idosos, mulheres e crianças de Donbass, os civis que foram mortos por bombardeios impiedosos, ataques bárbaros de neonazistas. Curvamos nossas cabeças ante nossos companheiros de guerra que tombaram corajosamente em uma luta justa pela Rússia.

Anuncio um minuto de silêncio.

A morte de cada um de nossos soldados e oficiais é um pesar para todos nós e uma perda insubstituível para seus parentes e amigos. O Estado, as regiões, as empresas e as organizações públicas vão fazer tudo para cuidar dessas famílias e ajudá-las. Daremos apoio especial aos filhos de camaradas de guerra falecidos e feridos. Um decreto presidencial para esse fim foi assinado hoje.

Desejo aos soldados e oficiais feridos uma rápida recuperação. Agradeço aos médicos, enfermeiros e outro pessoal médico dos hospitais militares por seu trabalho abnegado. Obrigado por lutarem por cada vida – muitas vezes sob fogo, na linha de frente, sem se pouparem.

Prezados amigos! Aqui na Praça Vermelha, estão ombro a ombro soldados e oficiais de muitas regiões de nossa pátria enorme, incluindo aqueles que vieram diretamente de Donbass, diretamente da zona de ações de combate.

Nos lembramos como os inimigos da Rússia tentaram usar gangues de terroristas internacionais contra nós, procurando semear a rivalidade étnica e religiosa para nos enfraquecer e nos dividir de dentro para fora. Nada disso deu resultado.

Hoje, nossos combatentes de diferentes nacionalidades lutam juntos, se protegendo uns aos outros das balas e estilhaços como irmãos.

E nisso está a força da Rússia, a grande e indestrutível força de nosso povo multinacional unido.

Hoje vocês estão defendendo aquilo por que lutaram nossos pais, avôs e bisavôs. O maior sentido da vida para eles sempre foi a prosperidade e a segurança de nossa Pátria. E para nós, seus herdeiros, a fidelidade à Pátria é o valor supremo, um pilar seguro da independência da Rússia.

Aqueles que esmagaram o nazismo durante a Grande Guerra Patriótica nos mostraram um exemplo de heroísmo para todos os tempos. Foi uma geração de vencedores, e nós sempre os admiraremos.

Glória às nossas heroicas Forças Armadas!

Apesar de tudo, em dezembro de 2021, mais uma vez tentamos chegar a um acordo com os EUA e aliados sobre os princípios de segurança na Europa e de não extensão da OTAN. Tudo em vão. O posicionamento dos EUA não muda. Eles não acham necessário negociar conosco essa questão tão importante para nós. Seguindo seus objetivos, eles desprezam nossos objetivos. E com certeza, nessa situação surge a questão: o que fazer, o que esperar?

Sabemos muito bem que no ano 40 e no início de 41 do século passado, a União soviética tentou com todos os meios prevenir ou ao menos adiar o início da guerra. Para isso, tentou, dentre outras coisas, não provocar até o final o potencial agressor, não realizava ou adiava as ações mais necessárias e óbvias para se preparar a repelir um ataque inevitável.

Estes passos, que enfim foram dados, chegaram catastroficamente tarde. Como resultado, o país se viu despreparado para enfrentar com toda a força a invasão da Alemanha nazista que, sem declarar a guerra, atacou a nossa pátria em 22 de julho de 1941. Conseguimos parar e depois destruir o inimigo. Mas o preço foi gigantesco. A tentativa de satisfazer o agressor às vésperas da Grande Guerra pela Pátria acabou sendo um erro, que custou muito caro para o nosso povo.

Nos primeiros meses de ações de combate, perdemos territórios gigantes e estrategicamente importantes, e milhões de pessoas. Não permitiremos que este erro aconteça pela segunda vez. Não temos direito de permitir.