Nas periferias de São Paulo se vive um clima de salve-se quem puder. Há um colapso total no atendimento à saúde. O que vigora é desinformação, falta de vagas, de oxigênio, de medicamentos. Fome, desemprego e desorientação fazem parte do cotidiano.
“As pessoas estão alugando aqueles cilindros de gás para pessoas que não estão hospitalizadas. Estão pagando do bolso 300, 400 reais por dia por um cilindro médio, do tamanho de um extintor de incêndio. Ficam calculando a vazão do gás na mão, sem as técnicas hospitalares”, afirma Adriano Diogo ao TUTAMÉIA.
Geólogo, histórico militante em defesa dos direitos humanos, ex-deputado estadual pelo PT de São Paulo, ele presidiu a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva. Nos últimos tempos, tem publicado nas redes sociais relatos do impacto na pandemia nas periferias paulistanas. Informa sobre a morte de militantes de esquerda, lideranças populares e da sociedade civil.
“A pandemia se disseminou na periferia de uma forma impressionante. Numa casa chega a ter seis, sete pessoas, todos contaminados. Quando a doença começa a se agravar, não tem para onde levar. As pessoas vão para as UPAs e não conseguem ser internadas”, relata (acompanhe a íntegra no vídeo e se inscreva no TUTAMÉIA TV).
São cenas como as que ocorreram em Manaus que estão se repetindo nas regiões onde moram os trabalhadores da cidade.
“A periferia está abandonada à própria sorte. Além da fome, do desemprego, de ausência total do estado, há desorientação. As escolas deveriam manter os seus padrões de alimentação para a população, distribuir as cotas de merenda. A prefeitura e governo do Estado vivem em choque. Hospitais estaduais desativaram seus pronto-socorros. A ausência de informação sobre vacinação é brutal, cria-se o caos. Na periferia não tem TV a cabo. Além disso, contratos de trabalho regular foram terceirizados. O número de maldades na pandemia foi impressionante”, desabafa Diogo.
“As pessoas acham que ditadura é só assassinato de militantes políticos. E o assassinato de um povo, de uma geração? Eu posto todo o dia as pessoas que estão morrendo. Era preciso fazer um cadastro de militantes perdidos. A pandemia é o maior projeto de assassinato em massa”, declara.
Para ele, cabe às organizações populares e aos partidos de esquerda agir:
“Deveriam fazer o socorro vermelho para fazer circular as informações sobre o abandono da periferia, a falta de mobilidade, a ocupação de leitos, as ações de solidariedade. As organizações populares deveriam ter um site nacional de informação. Partidos de esquerda e as organizações deveriam fazer uma frente nacional e criar um socorro. Pode se chamar também socorro democrático. Temos que informar a população. Perguntar se as pessoas foram se vacinar, falar da importância da vacinação, que elas não virar jacaré, sobre os efeitos colaterais. Tinha que ter algum lugar”.
Diogo conta que, durante a ditadura militar, um mecanismo assim foi criado para saber quem estava preso ou passando fome, quem tinha desparecido, quem tinha sido morto. Ele considera insuficiente ficar alardeando os casos de sucesso no enfrentamento da pandemia em lugares governados pela esquerda, como o Piauí ou Araraquara.
“Tínhamos que fazer um socorro vermelho que tivesse um foco de mobilização e conscientização do povo. Esse bom mocismo, de dizer que somos o primeiro aluno… O povo está morrendo!”
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