Com gritos de “Lula Livre!” e os braços erguidos, as mãos no alto formando o “L” que virou marca da campanha pela libertação do ex-presidente, a equipe TUTAMÉIA MARATONANDO fez neste domingo (25.8) sua estreia em corridas de rua. A 14ª Corrida do Juventus, na Mooca, no início da zona leste de São Paulo, teve a participação de Laura Lucena e Rodolfo Lucena, que completaram a distância de cinco quilômetros em trinta e cinco minutos e meio.

A prova do debute foi escolhida a dedo, em homenagem ao clube, é claro, mas também –e principalmente—como celebração das lutas populares que, no século passado, tiveram como palco as ruas da Mooca.

Foi no Cotonifício Rodolfo Crespi, na esquina das ruas Taquari e Javari, que começou a paralisação operária que virou a primeira greve geral de São Paulo e do Brasil –o movimento de 1917 se espalhou para outros estados, como Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

Nas ruas do entorno, sete anos depois, apoiadores do movimento tenentista de 1924 –também conhecido como Revolução Esquecida—formaram barricadas tentando barrar o avanço das forças federais. Fizeram operações de sucesso, mas foi impossível fugir ao morticínio provocado pelo bombardeio da cidade –o maior ataque aéreo já sofrido por uma cidade do continente em toda a história.

O Juventus, de certa forma, é filho dessas mobilizações –ou da resposta dos poderosos às mobilizações. O Cotonifício Rodolfo Crespi Futebol Clube, fundado em 1924 e resultado da fusão de outros dois times, também eles formados principalmente por empregados da fábrica de tecidos. No ano seguinte, o patrão, conde Rodolfo Crespi, cede ao clube um terreno para que seja construído o campo de futebol –é o famoso estádio da rua Javari. É de Crespi, também cofundador do clube, a ideia de troca de nome, ocorrida em 1930.

Rebatizado, o time disputa naquele ano, pela primeira vez, o campeonato da primeira divisão estadual. E faz um estrago, vencendo o Corinthians logo na primeira vez em que enfrenta o Timão. Foi uma travessura do Moleque, registrou a crônica esportiva da época, dando as bases para o simpático apelido do Juventus: Moleque Travesso.

Correr, de certa forma, também é uma saudável molecagem, uma brincadeira de criança que adultos de todas as idades, tamanho, gênero ou qualquer outra classificação dos humanos podem realizar. É uma forma de a gente se divertir e melhorar um pouco a condição física, o que melhora nossa saúde, condição geral, com ganho de qualidade de vida –e maior disposição para a vida, para o amor e para a luta.

Acreditando nisso, TUTAMÉIA tem desde sempre a editoria MARATONANDO, que abriga temas esportivos, de saúde e qualidade de vida. Mas, para nós, a corrida não é apenas assunto de reportagem, é instrumento de trabalho, ferramenta de mobilização e de divulgação da história e das lutas populares.

Exemplo disso é o projeto MARATONANDO COM O MST, iniciado em 2015, marcado pela realização de corridas e palestras sobre atividade física em acampamentos e assentamentos dos sem terra em todo o país; a atividade era complementada por reportagens especiais sobre a trajetória e as lutas dos trabalhadores rurais nas regiões visitadas.

No ano seguinte, em São Paulo, fizemos a CORRIDA POR MANOEL, em memória dos quarenta anos do assassinato do operário MANOEL FIEL FILHO. Foram quarenta corridas, cada uma delas lembrando momentos das lutas democráticas e da vida do metalúrgico assassinado nas câmaras de tortura da ditadura militar.

TUTAMÉIA MARATONANDO busca não apenas recuperar esses trabalhos, essa memória, como também trazer para nosso site o debate sobre atividade física, saúde, qualidade de vida –com atenção especial para os que estão chegando ou já chegaram à terceira idade, hoje tão esquecidos e maltratados pelo governo.

E TUTAMÉIA MARATONANDO também vai correr. A prova de hoje, num terreno com leves descidas, subidas desafiadoras e algumas ruas mais planas, nos deu um gostinho do sabor das corridas de rua, do esforço, do suor, da sensação de descoberta e do gosto de conquista. A gente quer mais.

Vamo que vamo!