“Diante desse quadro que está aí, eu não tenho dúvida de que o Brizola estaria na luta pela derrubada de tudo isso. Ele não titubearia em se jogar nisso. E a solução para derrubar isso está muito clara. O caminho do povo brasileiro está apontando para o Lula, e Brizola não teria dúvida disso daí, porque Brizola era de pensamento. Ele tinha visão estratégica de nação, de país, dos destinos do Brasil. Essa é uma grande marca do Brizola.”
Palavras do deputado constituinte Vivaldo Barbosa, falando com a autoridade de quem coordenou o grupo de estudos e projetos da campanha de Leonel Brizola para o governo do Rio nas eleições de 1982 e, no governo, assumiu a secretaria de Justiça.
Entrevistado na série de programas de TUTAMÉIA que debatem a trajetória e o legado no líder trabalhista gaúcho, no momento em que se completam cem anos de seu nascimento, Barbosa afirma: “Brizola tinha consciência dos destinos do Brasil, de qual é o lugar do Brasil no mundo. Essa era a questão fundamental da linha política.”
Foi isso que o levou a apoiar Lula no segundo turno nas eleições presidenciais de 1989, mesmo depois de os dois terem “trocado cotoveladas” na campanha, como lembra Barbosa (clique no vídeo para acompanhar a entrevista completa e se inscreva no TUTAMÉIA TV):
“Quando Brizola viu a opção que estava sendo construída para o povo brasileiro pelas elites e pela mídia, não pestanejou: aderiu ao Lula e foi fazer a campanha dele da melhor maneira possível. Jogou-se por inteiro porque percebeu que, diante dos destinos do Brasil, ele tinha de aderir ao Lula”.
Aliás, bem antes desse momento, Lula e Brizola já tinham estado juntos, no mesmo palanque, na mesma luta, defendendo o mesmo ideal democrático, como mostra a foto de Luiz Eduardo Robinson Achutti utilizada na página de abertura de TUTAMÉIA, retratando comício das Diretas em Porto Alegre, nos anos 1980 (obrigado, Achutti, por permitir o uso da imagem).
Toda essa experiência faz com Vivaldo Barbosa afirme, sobre o tempo presente: “O Brasil vive esses dois momentos a se registrar, a recuperação do povo brasileiro do torpor que viveu e a ligação com Lula e com o caminho que Lula está apontando para liderar o Brasil. Brizola diz que a gente não deve perder o sentido do caminho do povo. Ele não teria dúvida de estar ao lado do povo brasileiro neste momento, que é estar ao lado de Lula.”
Ele diz ainda: “Hoje o trabalhismo, o brizolismo e o lulismo são uma coisa só, é um caminho só, que é o caminho do povo brasileiro”.
CAMINHOS DO BRIZOLISMO NÃO PASSAM POR CIRO
Explica: “A luta do povo brasileiro hoje é defender os seus direitos, a legislação trabalhista –o trabalhismo deu o salário mínimo ao Brasil, o trabalhismo deu a aposentadoria ao povo brasileiro, e o povo tem consciência disso, do valor disso. O trabalhismo tem a ver com a luta atual do povo brasileiro. E as estatais estratégicas: há uma consciência de que, através das estatais estratégicas, você promove o desenvolvimento, promove a geração de emprego, você há avança. Há a questão da estruturação do estado nacional, o enfrentamento dos grupos econômicos, isso tudo tem a ver com o trabalhismo, isso tudo tem a ver com Brizola. E isso hoje é a luta que se confunde com Lula, a luta que se confunde com o PT. O PT hoje é a expressão dessa luta”.
E conclui: “Então é preciso termos a consciência de que temos de estar juntos. O povo brasileiro está apontando o nosso rumo. Temos de aderir, temos de estar juntos para poder inclusive corresponder à postura e ao sentimento que Brizola representou”.
Para ele, o PDT, onde atuou por muitos anos, já não representa esses ideais: “Não vejo nenhuma ligação do Ciro Gomes, das suas posturas, da sua pregação com o trabalhismo, com Brizola. Não vejo qualquer explicação, inclusive, para o PDT se julgar brizolista, se julgar trabalhista e endossar a candidatura de Ciro Gomes. Os caminhos do brizolismo, do trabalhismo, não passam por Ciro.”
VIOLAÇÃO DA VONTADE POPULAR
Por causa de falha no serviço da Vivo, que cortou a internet enquanto conversávamos com Vivaldo Barbosa, a entrevista foi realizada em duas etapas. Na primeira parte, que você pode acompanhar clicando no vídeo ao final deste texto, ele fala um pouco sobre a própria trajetória, conta como conheceu Brizola –um encontro no exterior, quando o líder trabalhista ainda estava exilado—e lembra a campanha eleitoral de 1982 e o trabalho no primeiro governo brizolista no Rio de Janeiro.
Trata em detalhes da operação criminosa conhecida como “Caso Proconsult”, tentativa de fraudar aquelas eleições. Sobre aquele momento, afirma: “Ao logo do tempo, as elites procuraram sempre violar a vontade eleitoral do povo brasileiro”.
Para Barbosa, o governo de Brizola no Rio teve dois significados expressivos: “A questão da educação, a salvação das crianças, esse era o sonho de vida política do Brizola, e a questão dos direitos humanos, a proteção dos direitos humanos. Desde a campanha, ele já dizia: ‘No meu governo, ninguém vai abrir porta de qualquer barraco, de qualquer casebre, a botinaço!’”
O ex-secretário de Justiça também comenta as origens do trabalhismo: “O trabalhismo se assentou em cima de como o Brasil foi evoluindo a partir da Revolução de 30, como as coisas puderam se desenvolver a partir dali, aos trancos e barrancos, como dizia Darcy Ribeiro. O Brasil organizou uma legislação trabalhista da melhor maneira possível, no mundo; organizou a previdência social pública. Como é que o Brasil conseguiu organizar isso, diante desse quadro das elites econômicas, dos bancos internacionais, gente sugando o Brasil de todo canto? O Brasil conseguiu organizar um estado nacional de maneira razoável, proteger nossa soberania, ter um estado sólido e forte o suficiente para enfrentar os grupos econômicos e tentar barrar a espoliação de nosso povo”.
O que ajuda a compreender o pensamento e ação política de Leonel Brizola, como diz Vivaldo Bosa, destacando três pontos:
EDUCAÇÃO
“A devoção do Brizola à educação demonstra a solidariedade de Brizola ao povo brasileiro, o sentimento de identificação de Brizola com o povo, com o Brasil. Porque Brizola sabe que só se constrói uma nação com educação. Essa é uma marca.”
NACIONALISMO
“A questão do patriotismo, a questão do nacionalismo também uma marca de Brizola. Lá atrás, no final dos anos 1950, como governador do Rio Grande do Sul, expropriou a empresa de energia elétrica e a empresa de telefonia, duas multinacionais gigantes, mas que não ajudavam o Rio Grande do Sul a se desenvolver, a avançar. Brizola teve a coragem de enfrenta-los. Era um ato de coragem, de desafio. Ele sabia que as empresas eram gigantes, mas o interesse do Brasil, do Rio Grande do Sul, era o que valia para ele. Esse sentimento do Brasil, de pátria, o Brizola tinha muito, a compreensão do Brasil, de brasilidade. E Brizola tinha a compreensão do poder do império e tinha coragem para desafiar, não apenas nesses atos, mas no geral.
PODER DA COMUNICAÇÃO
“Brizola sabia do poder dos meios de comunicação, e a que eles serviam. Ele não tinha problema de enfrentar isso, tinha coragem cívica para fazer esse enfrentamento. Ele dizia: “Se nós nos dobrarmos aos meios de comunicação, à rede Globo, aonde nós vamos parar?” São questões que estão aí ainda hoje. E vejo com satisfação que Lula adquiriu uma consciência muito clara do papel da TV Globo, adquiriu uma consciência muito clara do poder do império. Registrei com muita satisfação o Lula pontuar que é preciso enfrentar a Rede Globo e que é preciso enfrentar o império.”
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