“Estou aprendendo profundamente o sentido da palavra transtornado. Estou me sentindo absolutamente transtornado”. É assim que Ivo Herzog começa sua avaliação do momento atual em entrevista ao TUTAMÉIA (acompanhe no vídeo acima). Filho do jornalista Vladimir Herzog, assassinado pela ditadura militar há 43 anos, ele fala de sua “oposição veemente” a Jair Bolsonaro –que ele chama de “Coiso”.
Para Herzog, a situação de hoje é “pior do que tudo que a gente viu na nossa história democrática. Ele, o Coiso, não tem uma postura democrática. Isso é inédito na história das eleições”. E afirma:
“Defendo o voto em Fernando Haddad no domingo. Eu sou petista? Não sou petista. Nunca fui”.
E argumenta:
“Há algumas a coisas que, para mim, são verdades absolutas: defender a vida, defender a liberdade, a diversidade, a democracia. Essas coisas estão numa caixinha que, para mim, são invioláveis. Você pode ser de direita, de esquerda, de Plutão se você quiser, mas isso aqui tem que ser uma coisa comum. Aquele que não acredita nisso ou desrespeita esses elementos universais eu não quero que seja o pensamento predominante, não quero que seja o líder de nada, nem de um grêmio estudantil. É uma pessoa que tem problemas. Vai contra princípios religiosos, éticos, na dimensão que você quiser pegar: vida, justiça, democracia, liberdade, diversidade. Como alguém pode ser contra isso? Essa, para mim, é a eleição mais fácil de decidir em quem votar. Porque tem alguém que é absolutamente contra isso”.
E segue:
“Qualquer pessoa que estiver tentando criar um contraponto a essa pessoa que não respeita esses valores básicos tem o meu apoio irrestrito. Não é um apoio crítico. Esses valores não têm preço. Qual o preço de uma vida, da nossa liberdade? São valores inegociáveis. As outras questões sobre o PT têm instituições do Estado que estão cuidando delas. Não vou entrar no mérito. Tem alguns momentos em que a gente tem que tomar um lado, tomar partido em relação a de que lado você está. Mais do que nunca tem que tomar partido de uma maneira absolutamente explícita”.


E ressalta: “O ponto de partida do nosso racional não deve ser o cara errou. O ponto de partida deve ser essa caixinha de valores fundamentais da humanidade, o que nos define como seres humanos civilizados. Civilizados. O que está na caixinha? Defender a vida, a liberdade, a democracia, a dignidade humana. Aquele que discute essa caixinha está em outro ponto da curva de Darwin, da evolução humana”.
Herzog comenta o fato de conhecer pessoas que votam em Bolsonaro:
“As pessoas podem votar no Coiso, mas eu também sou livre para escolher meus amigos. E essas pessoas não vão ser meus amigos. Não interessa que eu conheça a 15, 20, 30 anos. O Coiso desrespeita a morte de meu pai. Se a pessoa é minha amiga, ela conhece isso. Se a pessoa é amiga nossa, ela compartilha valores conosco. Eu estou descobrindo que algumas pessoas que eu achei que eram minhas amigas, na realidade, eu abomino muito a maneira como elas pensam. Não vou condená-las, não vou brigar com elas, mas elas vão deixar de ser minhas amigas”.
Herzog ressalta que faz a análise “simplesmente sobre o que ele fala, não sobre o que acha que ele vai fazer. “Ele está desqualificado. O que ele fala é tipificado como crime, artigo 286 (incitação ao crime) e 287 (apologia do crime) do Código Penal. Ele deveria estar preso. Se o nosso Judiciário funcionasse como deveria funcionar, deveria ter sido aberta uma denúncia crime contra ele e ele seria inelegível. Pelo discurso de ódio”.
Herzog afirma estar fazendo tudo o que é possível para a vitória de Haddad no domingo: “Acho que dá para virar. Tem um dinamismo da sociedade muito forte. As pessoas perceberam que podem fazer mais, estão entusiasmadas, emocionalmente conectadas nesse momento do Brasil. Isso tem feito diferença. Aqui em São Paulo já virou. Esses movimentos estão acontecendo”.