“Diante da derrocada do governo Bolsonaro, tanto no sentido econômico quanto sanitário, o país está desgovernado. Temos o impacto da crise sanitária, temos uma economia que está paralisada, o desemprego crescendo, a desigualdade crescendo e casos de corrupção cada vez mais claros sendo mostrados em relação ao governo Bolsonaro, ao próprio Bolsonaro e à família Bolsonaro.”

Palavras do deputado federal Henrique Fontana, do PT gaúcho, falando ao TUTAMÉIA na tarde de sábado, 10.7, horas depois de a Brigada Militar ter detido uma senhora de 47 anos que batia panelas nas ruas de Porto Alegre em protesto contra Bolsonaro e a motociata de apoio a seu governo.

“A atitude da Brigada Militar gaúcha deve ser totalmente reprovada –e vamos atrás para que haja uma investigação para ver quem autorizou aquele verdadeiro abuso de autoridade. Era uma senhora, que estava protestando na esquina da Venâncio Aires com João Pessoa, batendo panela como muitos estavam batendo panela, e terminou sendo presa. Felizmente, logo depois foi liberada. Essa atitude, completamente inaceitável, desses policiais que estavam ali e, no meu ponto de vista, agiram em pleno abuso de autoridade, tem relação com a nota que os comandantes militares emitiram há poucos dias, quando um senador da República lançou uma nota absolutamente óbvia, com a qual 90% dos brasileiros concordam: é evidente que existem casos cada vez mais frequentes de militares envolvidos com corrupção dentro do governo Bolsonaro”, disse Fontana (clique no vídeo para acompanhar a íntegra da entrevista e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

O parlamentar, que está no sexto mandato e foi líder do governo em mandatos dos presidentes Lula e Dilma, diz que essas atitudes antidemocráticas fazem parte de um projeto do governo:

“Bolsonaro está apostando num processo de convulsionamento do país. A primeira coisa que impressiona nessas visitas que Bolsonaro faz aos estados é o tipo de agenda que ele faz. Não são as ações normais de um governante normal, com um sentimento de solidariedade em relação ao seu povo. Hoje o que se repetiu aqui foi mais um processo onde ele trabalha metodicamente com a ideia de polarizar o país. O objetivo central de Jair Bolsonaro hoje é polarizar a sua base de apoio, que, felizmente para nós, brasileiros, é cada vez menor, mas é uma base de apoio bastante fanatizada e que vive em uma espécie de realidade paralela, que é construída com um conjunto de informações mandada por toda a rede de fake news que embala o bolsonarismo no país.”

Ele segue:

“O que está acontecendo no nosso Brasil de hoje é que nós temos um presidente da República que trabalha metodicamente essa tentativa de partidarização e, mais do que isso, uma tentativa de milicialização das polícias estaduais no Brasil inteiro. A ação de Jair Bolsonaro é sempre no sentido da quebra de hierarquia. Esses sinais, esses excessos de autoridade, devem ser firmemente coibidos pela sociedade por todos nós. Esse tipo de distorção dentro das polícias civis e militares é algo preocupante, e nós temos de reunir todas as forças políticas, todas as forças na sociedade, que defendem a democracia, para frear essa caminhada absolutamente inaceitável por onde Bolsonaro está levando o Brasil.”

Além das tentativas de intimidar e calar as vozes oposicionistas, Bolsonaro aposta em outros caminhos diversionistas, diz Fontana: “Ele está acuado e está reagindo no sentido dessa proposta de polarização cada vez maior, em torno desse absurdo do voto impresso. Temos um país em chamas, onde os empregos desaparecem numa velocidade enorme, a crise econômica se acentua, explosão de preços, uma degradação do ambiente institucional do país, e ele apostando na pauta do voto impresso, com o único e exclusivo objetivo de desestabilizar mais um dos pilares do processo democrático brasileiro”.

Isso, porém, não está dando resultado, diz o parlamentar, lembrando pesquisas divulgadas no próprio dia da entrevista mostrando que, pela primeira vez, a maioria da população brasileira está a favor do impeachment de Bolsonaro.

“É crescente a compreensão na sociedade brasileira de que foi um erro entregar a presidência da república na mão de Bolsonaro. Nós todos que queremos um Brasil liberto desse fascismo e desse desgoverno, todos nós que queremos superar esse duro momento que o país está vivendo temos de ter muita generosidade, por que daqui para diante nosso assunto não será o ajuste de contas com o passado, o nosso assunto será apresentar as propostas concretas que podem garantir o retorno da democracia, retorno de um ambiente de liberdade cultural nesse país, a busca de empregos, a retomada de programas fundamentais como o Mais Médicos, a volta do respeito aos cientistas e pesquisadores de nosso país.  Vem num crescer o movimento de contestação ao bolsonarismo, ao fascismo e ao desgoverno que ele faz. Ou Bolsonaro será derrotado nas urnas ou sofrerá o impeachment.”

Ele segue defendendo a unidade de todas as forças que hoje, por qualquer razão, se opõem a Bolsonaro: “As forças de oposição temos de insistir, pressionar muito o presidente Arthur Lira para que ele instale a comissão processante do impeachment. Não é uma parada fácil, mas temos de fazer, temos de subir o nosso tom da oposição, ampliando sempre essa relação com todas as forças que querem defender o processo democrático no país”.

Na avaliação de Fontana, a própria base de apoio da ultradireita está perdendo força: “O nível crescente que ele sofrerá nas próximas semanas de abandono da sua base de apoio, a base originária, que o elegeu, será bastante razoável no meu entender. E isso pode criar um ambiente para o impeachment. E nós não devemos diminuir e dar trégua um único minuto, porque qualquer dia a menos que o governo Bolsonaro durar será um dia a menos de perda de vidas, de ataque ao nosso projeto nacional. Eles estão vendendo de maneira vil, absurda, estruturas do Estado Brasileiro que são fundamentais para um projeto de desenvolvimento nacional. O impeachment é uma questão de construir cultura política melhorada no país. Não pode um presidente fazer as barbaridades que ele está fazendo.

Fontana fala ainda das grandes manifestações de protesto contra Bolsonaro, realizadas nos últimos meses, e diz que elas só tendem a crescer, ganhar mais força: “É muito grave o momento que o Brasil está vivendo, e nós todos seguramente vamos reagir à altura, como estamos reagindo, e eu insisto nesta frase: o governo Bolsonaro está caminhando para o seu final. Eu espero que seja através de um processo de impeachment; se não for, será no processo eleitoral. Bolsonaro hoje é um candidato inviável para voltar a vencer eleições no Brasil”.

Diz também:

“Vejo o povo brasileiro, por ampla maioria, muito firme na disposição de lutar por seus direitos, de lutar pelo direito à liberdade e à democracia, pelo direito de bater panela. Vamos aqui homenagear nossa cidadã de Porto Alegre que foi com coragem à rua bater panela. E é essa coragem cívica, democrática, que nós vamos desejar para todos.”

Lembra também o encontro dos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso: “O Brasil precisa dessa reconciliação entre pessoas que podem pensar diferente, mas pessoas que não querem alimentar a rede de ódio e de intolerância. Alguns que alimentaram a rede de ódio e se arrependeram disso. Quando o arrependimento for sincero, estou entre aqueles que querem receber essas pessoas de braços abertos. O Brasil não suporta mais tanto ódio, tanto intolerância. Esse Brasil do bolsonarismo é o Brasil de uma minoria, não é o Brasil que nós queremos para a maioria do povo brasileiro”.

“NÃO POSSO FICAR CALADA”, DIZ A MANIFESTANTE DETIDA PELA BRIGADA MILITAR

“Eu sou uma pessoa calma, mas tem coisas que me indignam muito, então eu não posso ficar calada. Rosa Parks não se levantou e Martin Luther King não se intimidou. Esses são meus ídolos”, disse na tarde de sábado Betina de Jesus, de 47 anos, que havia sido detida por bater panelas em protesto contra Bolsonaro.

A manifestante falou ao repórter Luís Gomes, do Sul 21: “Eu não sou nenhuma baderneira, sou trabalhadora. Eu fui para lá sozinha, com a minha panela, a minha colherzinha e a minha chave de casa, não levei nem documento de identificação. Eu estava lá batendo a minha panela indignada e comecei a me dar conta de que era gente de mais nível financeiro que estava naquela motociata e que tem uma realidade paralela no nosso País, onde pessoas acham que tá tudo bem e o povo tá aqui embaixo, sofrendo, sem saúde, com contaminação. Nós temos um presidente inconsequente, um cara que não usa máscara, não usa capacete nessas motociatas, um cara negacionista, tendencioso, mal-intencionado e que acha que o povo é abaixo dele, e não é assim”.

Ela também contestou versão divulgada pelo governador Eduardo Leite, que apoiou as arbitrariedades policiais: “Eu não estava lá agredindo motoqueiros, nem chutando motos como o governador Eduardo Leite colocou no post dele. Eu estava batendo panela mesmo. A panela era minha e não tava lá agredindo ninguém. Eu estava gritando palavras de insatisfação, eles xingavam a gente e a gente xingava de volta. É normal numa manifestação as pessoas se xingarem, só que esse motoqueiro parou na minha frente, me desafiou e eu acabei reagindo. Claro que, num momento desses, a gente perde a razão, mas nada que fosse necessário me prender, me deter e me levar algemada. Eu tenho 1,54 m de altura, não ofereço perigo a ninguém” (CLIQUE AQUI para ler a reportagem completa do Sul 21).

No início da noite, houve panelaço em várias regiões de Porto Alegre em apoio à manifestante e em protesto contra Bolsonaro, conforme divulgou o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) em suas redes sociais. Aliás, panelaços foram ouvidos em várias cidades do país.