“É a história de um ladrão que resolve roubar um carro. O carro está estacionado em uma rua pacata, num bairro residencial, classe média baixa. Aí o ladrão entra no carro, começa a pegar as coisas… Quando ele pega tudo e resolve sair do carro, quando vai sair, ele descobre que está trancado dentro do carro. O carro é todo polarizado, os vidros são à prova de bala, blindados, à prova de som. O carro é uma armadilha que o dono fez, porque estava cansado de ser assaltado e resolveu prender um ladrão dentro do carro dele e dar uma lição nesse ladrão. Ele começa então uma tortura psicológica com esse ladrão, usando o viva voz do carro, querendo dar uma lição, querendo se vingar….”

Assim o premiado fotógrafo e documentarista João Wainer resume a trama de “A Jaula”, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (17.2) e marca sua estreia no terreno da ficção. Em entrevista ao TUTAMÉIA, o cineasta fala sobre a gênese do filme e comenta sua relação com a situação do país.

“É uma história que o Mariano [Cohn, roteirista] leu uma nota num jornal, uma vez, de que alguém tinha prendido um ladrão dentro de um carro. Ele construiu uma ficção toda em cima de uma premissa que ele pegou de uma nota de jornal, não era nem uma matéria. Eles filmaram na Argentina, onde esse filme se chama “4×4”. Quando ele veio para cá, a gente fez uma adaptação e obviamente o momento político que a gente vive acabou tendo uma influência muito grande, porque esse é um filme que fala sobre justiça com as próprias mãos, basicamente, que é algo que o Bolsonaro estimula muito, de uma maneira completamente irresponsável. Porque, enfim, a justiça com as próprias mãos é a barbárie. Acontecem essas loucuras como essa que acontece no filme”, diz ele (clique no vídeo para acompanhar a entrevista completa e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

E continua:

“É um filme angustiante, um filme necessário, um filme que faz as pessoas pensarem. As pessoas saem um pouco impactadas do cinema, levam um tempo para processar, e acho que é essa a ideia. Mas, no fundo, no fundo, é entretenimento. A gente fez isso para entreter, para as pessoas refletirem. Vamos ver. Tomara que esse filme fique marcado, no futuro, como um reflexo de um momento horroroso que a gente viveu e que a gente não vai viver mais.”

Dono de um Prêmio Esso na categoria telejornalismo e duas vezes vencedor do Prêmio Don Quixote de La Perifa, Wainer conta um pouco sobre sua experiência profissional e as grandes coberturas jornalísticas. Compara o trabalho de documentarista com o diretor de ficção –caminho que pretende continuar seguindo—e fala de suas esperanças para o futuro:

“Eu tenho certeza de que, depois de um período tão trevoso quanto este, a gente vai ter um momento bom. A gente quase chegou a um ponto em que não dá para piorar. Como pode ser pior do que isso? E acho que as pessoas estão cansadas, as pessoas estão reprimidas e, na hora que soltar, vai ser lindo. Eu quero muito ver o Carnaval de 2023. Taí um filme que eu queria fazer: um filme sobre o Carnaval de 23, acho que dava um filmaço. A volta do Carnaval. Estou me preparando para viver a melhor década da minha vida, a partir de 2023, com Lula eleito, com Bolsonaro na cadeia, os filhos dele também todos na cadeia, que é o lugar em que eles deveriam estar há muito tempo, e a gente voltando a respirar novamente. E aí, quando você respira, você sente o oxigênio de volta, que é uma coisa que está restrita, e esse oxigênio vai fazer com que as coisas floresçam não só nas artes, mas em todas as áreas.”