Djalma Bom era operário na Mercedes-Benz quando ocorreu o golpe militar. Só ficou sabendo da derrubada de João Goulart quando chegou em casa, ouvindo o noticiário pelo rádio. Nos anos seguintes, passou a participar do sindicato dos metalúrgicos do ABC e, a convite de Lula, integrou a diretoria que tomou posse em 19 de abril de 1975, encabeçada pelo agora presidente da República pela terceira vez.
Com Lula, participou da organização das greves que mudaram a face política do país a partir do final dos anos 1970. Com Lula, foi perseguido, preso e enquadrado na famigerada lei de segurança nacional da ditadura. Depois, foi deputado estadual e federal.
Aos 84 anos, Djalma Bom fala ao TUTAMÉIA sobre a sua trajetória e a ação da ditadura na repressão aos movimentos dos trabalhadores.
“O movimento sindical e a classe trabalhadora foram também grandes vítimas dos crimes praticados pela ditadura militar. De 1964 a 1970 foram mais de 500 intervenções no movimento sindical. Somente o sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema sofreu quatro intervenções: em 1964, em 1979, em 1980 e 1983. Só por aí dá para avaliar a perseguição que sofreram a classe trabalhadora e o movimento sindical pela ditadura militar. O resultado dessas intervenções foi a cassação da diretoria, prisões e enquadramento na lei de segurança nacional”.
Filho de camponeses do Vale do Jequitinhonha, em 1949 Bom veio com a família num caminhão para o bairro de São João Clímaco, em São Paulo. Tinha dez anos. Não sabia o que era pão ou açúcar. A vida era muito pobre em Medina. O primeiro par de calçados, uma alpargatas, ele lembra que só recebeu em 1948. Em São Paulo, logo começou a trabalhar como entregador de marmitas.
Nesta entrevista ao TUTAMÉIA, gravada no dia 14 de fevereiro de 2024, Bom fala das greves de 1978 (que durou 9 dias), de 1979 (15 dias), de 1980 (41 dias) e da greve geral de 1983. Trata das ações de empresas, como a Volkswagen e a Mercedes Benz, em apoio à ditadura na repressão aos trabalhadores.
“Lula, Devanir e eu fomos presos no Dops em 19 de abril de 1980. Ficamos presos por 31 dias. No Dops a gente reconheceu alguns agentes do Dops infiltrados no nosso movimento, na comissão de mobilização, que tinha 460 membros. Como se infiltraram? A Volkswagen, em acordo com a ditadura militar, esquentava a carteira profissional dos agentes do Dops. Daí, eles se associavam ao sindicato”.
O metalúrgico lembra que a empresa alemã já reconheceu a sua atuação com a ditadura. “Lideranças de trabalhadores foram presos dentro da Volkswagen, foram torturados dentro da Volkswagen”.
Ele conta que agora está recolhendo provas sobre o envolvimento da Mercedes com a ditadura. Naquele período, diz, a empresa chegou a ter militares na diretoria e decretou feriado quando da morte do ditador Costa e Silva, em dezembro de 1969.
Analisando as lições sobre o período da ditadura, Bom afirma:
“Sessenta anos depois, o que estamos percebendo outra vez é uma nova tentativa de golpe no nosso país. O golpismo está dentro do DNA das Forças Armadas. A minha luta é para a transformação da sociedade. Queremos uma sociedade socialista, igualitária. Nunca é tarde para lutar. Não podemos deixar de continuar lutando. Enquanto houver injustiça e exploração temos que continuar lutando”.
O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Janio de Freitas, Roberto Requião, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira.
Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena.