“Eu gosto de nadar. Mas não é puro prazer. É disciplina: tem dia que eu não estou com vontade de nadar, mas vou lá.” Palavras do economista Luiz Carlos-Bresser Pereira, ministro nos governos Sarney e FHC, em entrevista ao TUTAMÉIA na estreia do DESASSOSSEGO, programa semanal que debate questões de saúde, atividade física e qualidade de vida.
Nadador desde a infância, Bresser fala de sua adesão ao esporte, das suas braçadas na piscina e em mar aberto, de sua disciplina, de suas medalhas e de revezes que sofreu nos esportes. Aos 88 anos, segue produzindo livros e um ativo participante da cena política, acompanhando de perto o governo Lula, sobre o qual comenta:
“Lula tem dois adversários. Um é o Bolsonaro e os bolsonaristas. Nunca houve nada pior na história do Brasil. É uma extrema direita que está aí e vai ficar. Agora, mais perigosa é a coalizão financeiro-rentista, que continua forte. E o Lula tem que enfrentar essa gente. E ele está enfrentando. Ele revelou uma coragem; é o primeiro presidente que passa a atacar dura e diretamente os juros”.
Das questões políticas e econômicas, a entrevista se embrenha na história esportiva de Bresser, que lembra sua primeira medalha de ouro na natação, conquistada aos seis anos, em um campeonato paulista: “Eu era o único na minha categoria”, diz ele, entre risadas.
Fala de suas experiências em outros esportes, do esqui aquático, em que seu irmão Sylvio era especialista, ao tênis, passando por vôlei e incursões no xadrez.
“Os esportes competitivos, como voleibol, tênis, são muito bons, mas sempre precisa de turma, enquanto que na natação eu podia fazer sozinho, quando eu quisesse, então eu tinha autonomia para fazer. Então uma forma mais eficiente e mais rápida de eu fazer meu esporte todos os dias era através da natação. Eu nadava vinte minutos, vinte e cinco minutos, todos os dias, quase todos os dias e, com isso, eu resolvia a minha disciplina de esporte.”
Disciplina é a palavra-chave: “Eu sabia que esporte é uma coisa muito importante para a saúde. Uma coisa que está hoje mais do que comprovada, mas eu acho que aprendi isso com meu pai, não sei… Eu sempre soube disso. Tinha de fazer algum esporte. Eu sempre fiz algum esporte”.
Seguiu com a natação e teve alegrias nas piscinas, com conquistas muito especiais quando prestou serviço militar (a foto na página de abertura é daquela época). Mas a medalha dos tempos de infância ficou solitária até muitas décadas mais tarde quando, ministro no governo FHC, foi convencido a participar de uma competição de veteranos em Brasília.
Saiu da piscina com três ouros e entregou uma medalha para cada um dos netos que acompanhavam a competição. “Eles ficaram felizes da vida”, lembra. E deixa para o final um detalhe: tal como na prova em 1940, nas competições no final da década de 1990 também nadou sozinho, de novo único em sua categoria.
Com medalha ou sem medalha, segue nadando:
“Agora fui para a praia de Camburizinho, é uma praia maravilhosa, linda. Tem ondas muito grandes, mas no verão as ondas são menores. E esse mês de janeiro foi incrível, uma maravilha. O mar estava geralmente sossegado. Ótimo para nadar. Nadei todos os dias, sem exceção, quarenta minutos por dia. Em pleno mar. Eu fico satisfeito porque estou fazendo o que devo. A natação é agradável, especialmente no mar. Na piscina, é bem menos. Tanto assim que eu nado menos na piscina, eu não fico quarenta minutos, porque acaba cansando, acaba cansando, acaba enchendo. No mar, não, no mar você vai embora, também flutua melhor, sei lá, o mar é melhor. É uma maravilha.”
Antes de a conversa seguir para as turbulências da economia, acompanhamos a apresentação do Duo Camaleão, responsável pelo interlúdio musical na estreia de DESASSOSSEGO. Talitha Lessa e Samuel Cartes interpretaram “Seduzir”, de Djavan, que diz: “Vou andar, vou voar pra ver o mundo. Nem que eu bebesse o mar encheria o que eu tenho de fundo”.
Política e economia abriram e fecharam a entrevista, em que Bresser faz sua avaliação sobre a crise bancária nos EUA:
“Não tem nada parecido com a crise de 2008. A crise de agora está sendo causada fundamentalmente pela elevação dos juros do Fed. Os bancos se endividaram bastante fazendo empréstimos para o setor tecnológico a uma taxa de juros muito baixa. A taxa de juros subiu fortemente. Isso está levando à quebra”, afirma.
Ele prevê que haverá queda nos juros nos EUA:
“O Fed está entre a inflação e a quebra dos bancos. É muito razoável que eles baixem os juros. Essa quebra dos bancos está sendo acompanhada por uma recessão, não uma crise financeira. É uma crise bancária ainda limitada, mas deve provocar uma recessão em toda a economia”.
Professor da FGV, ressalta que a situação estadunidense é muito diferente do que ocorre no Brasil. Aqui, enfatiza, “existe uma coalizão financeiro-rentista defendendo juros altos Participam dessa coalizão, como rentistas e financistas, os grandes bancos, todos os bancos. Porque os bancos são credores do Estado brasileiro. Então, quando aumentam os juros eles não perdem nada. Só ganham. É uma festa contra o povo brasileiro. É o que está acontecendo hoje no Brasil”.
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