Por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4

Meu querido amigo Victor, decidi iniciar me dirigindo a Cássia Eller; por favor, entenda.

Olha só, Cássia, eu sempre admirei de longe o seu jeitão e sua voz. E agora eu soube que a Universal lançou nas plataformas digitais o seu álbum Cássia Eller e Victor Biglione in Blues, gravado por vocês em 1992. Só que naquele momento, em meio ao lançamento de seus dois primeiros álbuns, o projeto acabou dançando…

Ô Cássia, que falta você faz, mulher! Hoje, ao ouvi-la, me convenci: você é imortal… Ei! Não vale chorar.

Ó só, foi um prazer ouvir o trabalho. Prazer que aumentou ao ver que Biglione (arranjador e coprodutor musical do CD com Zé Nogueira, né, Cássia?) chamou pra gravação André Gomes (baixo elétrico), André Tandeta (bateria), Marcos Nimrichter (órgão), Ricardo Leão (teclados), Nico Assumpção (baixo acústico), Zé Nogueira (saxes alto e soprano), Zé Carlos Bigorna (sax alto), Chico Sá (sax tenor), Bidinho (trompete) e o Serginho Trombone (trombone), além do Sérgio Murilo pra mixar e masterizar.

Às preciosidades:

“Hoochie Coochie Man” (Muddy Waters) vem com você, garota, dilacerando a voz, num cantar que ecoa equivalente aos riffs alucinantes da guitarra do Victor.

“Same Old Blues” (Don Nix) é o velho e bom blues na veia. Seu timbre, Cassia, nasceu para o blues e você o manda nas fuças do ouvinte.

Em “Got to Get You Into My Life” (Paul McCartney), você, de novo, rasga a voz e se entrega e se esbalda e nos alucina, sem dó, até entregar a melodia para a guitarra do Biglione improvisar.

Em “When Sunny Gets Blue” (Marvin Ficher), guitarra, baixo acústico e sax optam pela sedução jazzística.

Para o “Blues Medley II”, o imenso Biglione ajuntou “Oh, Well” (Peter Green) e “Quadrant, Lazy” (Billy Cobham) a alguns de seus temas. A banda manda superbem!

“Prison Blues” (Jimmy Page) traz a guitarra aloprada. E o blues encontra você pronta pra ser reconhecida, ainda que tardiamente, como uma formidável blueseira/roqueira/emepebista.

“I Ain’t Superstitious” (Howlin Wolf) é movido a metais. Com a guitarra slide, Victor brilha e você usa suas cordas vocais como um instrumento: você é uma guitarra, Cássia!

“I Ain’t Got Nothing But the Blues” (Duke Ellington) tem o baixo acústico vibrando o blues rural, que você canta sem se intimidar, plantando e lavrando a terra do blues – “rural” é como Biglione identifica o gênero deste tema. A guitarra improvisa como se fosse a última chance de provar o que não carece de comprovação: ela é a mais poderosa em ação no Brasil.

Fechando a tampa, “Blues Medley I” vem com “Need Your Love So Bad” (Little Willie John), cuja onda dropa com “You Shook Me” (Willie Dixon), para findar com “The Flash Door”, tema de Victor Biglione.

E Cassia? O que é Cassia Eller, meu Deus, se não uma saudosa voz a ser para sempre lembrada por sua força e seu fulgor estratosféricos.

Bem, meus queridos Cássia e Victor, é hora de me despedir. Fiquem bem! Aqui na terra a esperança voltou e a música segue firme e bonita.

 

Beijos.