“O Lula vai ter que estabelecer um novo pacto social, que vai ter apoio da sociedade, vai estar discutindo as medidas e vai ter aliados como o Alckmin, que tem uma posição, digamos, mais de centro. O governo do presidente Lula, se for eleito, será um governo de centro. Ele vai atender a interesses variados. Claro que ele quer combater a fome, atender à população. Ele não abre mão disso Essa é a prioridade. Mas ele vai ter que compatibilizar com as outras forças”.

É o que afirma Guido Mantega ao TUTAMÉIA. Ministro da Fazenda nos governos Lula e Dilma, nesta entrevista ele fala da conjuntura atual, de inflação, juros, câmbio, teto de gastos, leis trabalhistas, perda de força da indústria. Trata dos movimentos empresariais neste ano eleitoral e esboça estratégias para um novo governo Lula. Aponta falhas em governos passados e lembra dos embates com o setor financeiro (acompanhe a íntegra no vídeo e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

VICIADOS EM JUROS ALTOS

Mantega  dirigiu a Fazenda de 24 de março de 2006 a 1º de janeiro de 2015 –é o mais longevo ministro da pasta em governos democráticos. Em 2011, com Dilma, atuou para redução de juros e dos spreads bancários, entrando em rota de colisão com bancos e fundos. Ele conta:

“O setor não aceita muito taxas de juros baixas. No Brasil, se criou uma espécie de vício em juros altos. O pessoal é viciado. Os brasileiros têm vários vícios, mas o vício maior é juros altos. É algo que ficou do governo FHC que praticava juros muito altos’.

“Eles não gostaram que as taxas de juros caíram, [o que reduziu] a rentabilidade deles. Mas quem gostou menos foram os especuladores internacionais, porque o Brasil era considerado o paraíso dos rentistas, o paraíso do carry trade. Carry trade é quando alguém pega o dinheiro emprestado a zero por cento do Japão e vem investir no Brasil a 10%, 12%. E ganha essa diferença. O Brasil era o paraíso do carry trade no passado”.

CONSPIRAÇÃO GOLPISTA

“Nós diminuímos o lucro desse pessoal e aí o pessoal ficou, digamos, hostil ao governo Dilma. E começou ali uma conspiração para derrubar a Dilma. Começou quando nós mexemos, pusemos a mão no bolso dos grandes fundos internacionais. E aí acabou a brincadeira. Mas o que nós queríamos eram juros normais”.

Segue Mantega:

“Se o Lula for eleito é porque ele vai ter um apoio forte. E ele também vai ter feito alianças grandes, inclusive com setores empresariais. O Lula é capaz de não alimentar conflitos. No final, o governo Dilma não foi muito eficaz com as alianças, foi perdendo base de apoio no Congresso. Acho que com o Lula isso não aconteceria. No governo dele não teve conspiração”.

INCOMPETÊNCIA E NEGÓCIOS

Ao TUTAMÉIA, Mantega fala da estagnação do país e descreve as políticas catastróficas do governo Bolsonaro. E avalia como os empresários vão se mover nos próximos meses.

“Não vem investimento para cá. Já ouvi grandes investidores falarem que no governo Bolsonaro eles não investem, eles não confiam. Porque ele causa um clima totalmente adverso, uma turbulência permanente. Assim não tem negócio, não tem gente interessada em investir. Com o Bolsonaro, não dá para confiar no futuro. O Brasil não tem futuro com o governo Bolsonaro”.

Para o economista, “os empresários estão se dando conta da incompetência desse governo e de que ele atrapalha os negócios. É um momento em que eles estão refletindo. Tem alguns que já decidiram que não vão apoiar o Bolsonaro; já perceberam que a terceira via não tem futuro. Eles vão ter que se decidir. Eles começam a reconhecer que o governo Lula foi um bom governo e para eles”.

PROJETO E CORRELAÇÃO DE FORÇAS

Continua Mantega:

“Todo mundo ganhou dinheiro no governo Lula. Não só os pobres, não só a classe média, mas também os empresários. O governo Lula foi o que mais apoiou o empresariado produtivo nacional. E o que mais cumpriu as regras estabelecidas. Por que não apostar de novo no Lula? Temos que ter um projeto de reconstrução do país –porque o país foi em parte destruído–, com uma orientação política e econômica claras. Os empresários sabem disso e eles podem confiar no Lula. O Lula não é um radical. Sempre foi muito equilibrado. Ele sabe trabalhar nessa questão que se chama correlação de forças. Ele diz que não adianta só ganhar as eleições. Você precisa governar, e, para governar, você precisa de alianças políticas. E é o que mais o Lula está fazendo. Ele está conseguindo costurar alianças políticas que poderão dar uma força para ele poder governar”.