“Esse governo sempre negou a doença, negou os tratamentos, negou a assistência. O que ele fez foi fazer um gesto, aquele auxílio que ele propunha era de R$ 200, que foi para R$ 600 por causa da ação do movimento sindical. Todas as medidas que ele teve foi de dificultar o acesso das pessoas ao benefício. Tudo o que ele fez foi para atrapalhar. A sociedade tem de se organizar, estar mais unida nessas questões e exigir que essas medidas de enfrentamento à pandemia sejam mais concretas e imediatas.”
Assim fala Miguel Torres, presidente da Força Sindical, uma das mais importantes centrais sindicais do país, em entrevista ao TUTAMÉIA em que faz um balanço do ano passado e aponta caminhos para as lutas deste ano.
“Estamos começando o ano com mais de 14 milhões de desempregados. Estamos começando o ano com a inflação subindo: itens de primeira necessidade batendo aí os dez, quinze, vinte por cento de aumento. As pessoas vão precisar comer, as pessoas vão precisar sobreviver; se a gente não tiver essa unidade e essa transparência da sociedade e exigir que as coisas aconteçam, nós vamos ter sérios problemas”, adverte ele na entrevista (clique no vídeo acima para ver a entrevista completa e se inscreva no TUTAMÉIA TV).
Destaca que, ainda que a crise esteja espalhada pelo mundo, há contornos especiais no no país: “Por mais que se fale que a crise é mundial, no Brasil ela é muito pior, porque no Brasil além de uma crise política, de uma crise econômica, de uma crise ética, de uma crise da pandemia, tem uma crise de governo, tem um desgoverno, que empurra as pessoas para o pior lado que tem, que é o lado da morte, da não prevenção. Isso aprofunda muito mais a crise”, diz o dirigente sindical, que é também presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes e da Federação nacional dos Metalúrgicos.
Nessa situação, diz ele, a ação conjunta das centrais sindicais foi um dos destaques no combate à crise em 2020: “No ano passado, o movimento foi muito importante por causa da unidade das centrais sindicais. Tivemos reuniões desde o início do ano, em março elaboramos um plano das seis centrais sindicais para entregar ao Congresso Nacional, em que tínhamos preocupações com a pandemia, com a economia, com todo o sistema de saúde. Conseguimos levar nossa pauta para a Câmara e para o Senado, ampliando o auxílio emergencial para R$ 600. Temos certeza de que, se não fosse esse auxílio, a situação no Brasil estaria hoje muito pior. A unidade das centrais esteve nessas ações, assim como em outras, em defesa da democracia, em defesa do Supremo…”
Neste ano, a ação conjunta das centrais sindicais deve se aprofundar, afirma Torres, apontando pautas que devem se transformar nas grandes lutas dos trabalhadores: “Lutar pela vida, pela continuidade das medidas de prevenção à covid-19 (máscara, higienização, álcool gel e distanciamento social) e pela vacinação urgente e em massa no País. E exigir o retorno do auxílio emergencial de R$ 600 mensais e crédito para as empresas geradoras de emprego”. Defendeu também a realização de uma campanha nacional de solidariedade às pessoas mais vulneráveis, em risco social, passando fome.
Miguel Torres falou também sobre questões políticas em que as centrais sindicais estão envolvidas, como a campanha Fora Bolsonaro e a luta pelo impeachment: “A grande maioria das centrais está nesse projeto de Fora Bolsonaro. Por tudo que está acontecendo: ataques aos direitos dos trabalhadores, ataques à saúde, ataques à democracia, há muitas coisas que são argumentos fortes para o impeachment. Temos de fazer pressão, toda a movimentação possível para nossa pauta andar, fazer os interesses da população avançar”.
Para ele, a primeira opção para a sucessão de Bolsonaro é Lula: “Na questão da sucessão, eu defendo que, se o Lula tiver condição, ele é o melhor candidato que nós temos. Não vejo outro que tenha melhor condição que ele para levar uma proposta para o país”.
É preciso também ampliar a representação dos trabalhadores no Congresso Nacional, o que também deve ser feito a partir de ação conjunta das centrais, segundo propõe o dirigente sindical:
“A gente tem de levar aos trabalhadores a necessidade de ter no Congresso uma bancada de dirigentes sindicais comprometidos com a luta dele. Estou defendendo uma campanha nacional para a gente lançar uma ideia: os trezentos deputados dos trabalhadores para a retomada dos direitos que foram tomados pela reforma, pela melhoria das condições de trabalho, pela democracia, pegar um mote que traga no Brasil uma campanha para elegermos trezentos… Com o compromisso das centrais sindicais. Já falei com a CUT, já falei com a CTB, com a UGT, acho que a gente tem condições, a maturidade que nós estamos construindo chega nesse ponto.”
Pelo projeto defendido por Torres, as centrais e os sindicatos escolheriam seus candidatos nas diversas regiões, e todos se comprometeriam com as campanhas:
“Tem de trabalhar isso. A gente sabe os problemas que vamos ter, mas é possível trabalhar uma pauta mínima para esses candidatos, vamos ter uma marca do movimento sindical, uma marca, um compromisso, uma pauta que eles assumem para trabalhar dentro do Congresso. Alguma coisa que mexa com os trabalhadores, que ele saiba que depende dele, que está trabalhando, que está na periferia, que está desempregado, que depende dele mudar esse estado. E só vai mudar esse estado se a gente conseguir convence-lo da necessidade de ter gente lá que consiga reverter o que tiraram de nós.”
E conclui: “Pode ser um sonho, uma utopia, mas estou trabalhando nisso, junto com os companheiros das outras centrais, a ideia de levar esse debate para a base, no Brasil inteiro, para que a gente possa dar um choque. Isso com certeza vai ter reflexo nas eleições para presidente. É possível construir essa unidade, esse compromisso coletivo das candidaturas. Acho que nós avançamos e quem ganha com isso é o Brasil”.
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