Cerca de trezentas pessoas participaram na noite da última sexta-feira (2.8) de uma Vigília pela Democracia em frente à sede do clube, no Parque São Jorge. Eles protestavam contra a decisão do clube de tirar de uma exposição no memorial do Corinthians a camiseta usada por Gustavinho, do basquete, com referência ao caso Marielle.

Houve discursos, palavras de ordem, o chamamento ao respeito à história do Corinthians de lutar pela democracia. E até uma reinstalação simbólica da camiseta, conforme você pode ver no vídeo criado pelo fotógrafo e mestre do audiovisual Daniel Kfouri que está no alto desta página (também é dele a foto na abertura de nosso site).

A história começou quando o atleta vestiu a camiseta ao erguer a taça da Liga Ouro, um marco importante na história recente do clube. Gustavinho levava no peito a inscrição, pergunta-denúncia: “Quem matou Marielle?”

No final de julho, o Memorial Corinthians abriu exposição em homenagem à trajetória do clube no basquete, e a camiseta de Gustavinho estava lá.

A decisão abriu crise no interior do clube, mostrando as disputas políticas que lá transcorrem. Um grupo de conselheiros exigiu a retirada da camiseta. Além de ofício específico, houve até ameaças de invasão, segundo relato de Rafael Castilhos, do Núcleo de Estudos do Corinthians, um dos organizadores da vigília –ao lado do Coletivo Democracia Corinthiana e torcedores independentes.

O clube acabou cedendo às pressões, o que foi considerado um ato arbitrário, de censura, como gritavam os participantes da vigília cívica da última sexta-feira. “Ô, Ô, Ô, Ô, retirar a camiseta é coisa de ditador” era um dos cânticos, assim como “Devolver a camiseta é obrigação, é o time do povo, é o Coringão”.

Os organizadores da vigília também distribuíram uma carta-manifesto, que reproduzimos a seguir, na íntegra.

O PORQUÊ DESTA VIGÍLIA PELA DEMOCRACIA

Em tempo recente, o Sport Club Corinthians Paulista realizou justa homenagem à história de seu basquetebol. Assim, expôs honradamente a camiseta utilizada por seu atleta Gustavinho ao receber o prêmio pela conquista da Liga Ouro do ano passado.

Por iniciativa do atleta, o uniforme carregava a indagação: “Quem matou Marielle?”. Em reação a essa homenagem, alguns grupos radicais se organizaram com o intuito de retirar do museu, no Parque São Jorge, a referida peça.

O ato de barbárie se constituiu em um episódio de intolerância e de ofensa às liberdades constitucionais de expressão e livre manifestação de ideias.

A frase estampada na camiseta não estabelece vinculação do Sport Club Corinthians Paulista a nenhuma ideologia ou movimento partidário. A frase “quem matou Marielle?” demonstra tão somente a preocupação com a justiça e a elucidação de um crime brutal.

Trata-se de muito mais do que um caso de violência urbana, mas de um crime político, com consequências funestas para nossa democracia e para as garantias de liberdades institucionais de todos os indivíduos.

Quem poderia se ofender com a luta por justiça? O Corinthians é um clube nascido de trabalhadores honestos e humildes, que lutavam por direitos e inclusão social.

Em mais de um século de existência, o clube influenciou a sociedade brasileira em diferentes momentos históricos, como na década de 1980, na luta contra a sanguinária Ditadura Militar.

Nos estádios lotados, mas também nas ruas, fábricas, salas de aula, escritórios e construções, este sempre foi um clube popular, que viveu com sua gente os dramas e as esperança de seu tempo. E consolidou-e assim como o Time do Povo e da Democracia Corinthiana.

Convidamos, pois, as corinthianas e corinthianos a honrarem a tradição de 1910 e defenderem as liberdades individuais, a luta popular e a democracia.

Iniciamos esta trajetória por este ato cívico, que congrega corinthianas e corinthianos na pluralidade de pensamentos e convicções, irmanados, porém, na defesa dos valores democráticos e da liberdade de expressão, dentro e fora do Parque São Jorge.

Esta é uma luta dura e necessária, que depende do empenho de você e de toda nossa imensa nação.

Teu passado é uma bandeira. Teu presente é uma lição. Sempre na luta por igualdade, respeito e solidariedade.

Vai, Corinthians!