A história da Olimpíada de Inverno que rola nestes dias em PyeongChang, na Coreia do Sul, está sendo contada e cantada por vozes femininas. Vozes de 229 mulheres da Coreia do Norte, que integram o time oficial de torcedoras do país e tomam conta dos ginásios, estádios e áreas de competição.

Não só como também. Delicadas, agudas, entusiasmadas, as vozes são animadas pelos movimentos sincronizados dos corpos das garotas, que gingam para lá e para cá, movem os braços, acenam, saúde, imitam “olas” de torcidas futebolísticas.

Enfim, roubam a cena. Onde quer que cheguem, viram alvos de câmeras e celulares enlouquecidos, e selfies em profusão se espalham pelos porta-retratos virtuais do planeta.

São parte dos esforços de paz do governo da Coreia do Norte, que está dando um show de diplomacia e estratégia política. Mandou orquestra para tocar na abertura dos Jogos de inverno e acertou a participação de uma equipe mista de atletas das duas Coreias, que tecnicamente ainda estão em guerra, porque não houve até agora tratado de paz entre as duas nações.

Militaristas, belicistas e anticomunistas do mundo inteiro ficaram tontos com o desempenho norte-coreano.  Tratam de encontrar formas para minimizar a importância das torcedoras e relevar seu desempenho esportivo.

Artigos da imprensa internacional criticam a concatenação dos movimentos das moças –são quase militares, dizem alguns—e ficam histéricos com a disciplina esportiva que elas ostentam. Também condenam os cuidados da delegação norte-coreana com a segurança de suas estrelas –o texto do “The Guardian” diz tais cuidados são eveidência de que elas não passam de “prisioneiras de um dos mais brutais regimes do planeta”.

O fato é que, admite o jornal britânico, as garotas se tornaram mais atrativas dos que os times que disputavam a partida de hóquei feminino (a reportagem se refere ao jogo entre a equipe mista das Coreias e a Suécia). “Aparentemente, todo mundo queria fotografar as torcedoras norte-coreanas”, diz o texto.

Declarações de uma enfermeira de 26 anos, moradora de Seul, ouvida pelos britânicos, vão de encontro à tese do jornal:
“Estou muito feliz por elas estarem aqui”, disse Lee Soo-ra. “Elas fazem com que eu me sinta mais próxima do povo da Coreia do Norte. Elas estão aqui para torcer pelo mesmo time que eu.  É como se nós fôssemos um só país, que eu espero que sejamos um dia”.

Além das 12 jogadoras norte-coreanas na equipe feminina binacional, a Coreia do Norte mandou outros dez atletas, atuam em diversas modalidades (esqui em montanha, por exemplo, e patinação artística, por exemplo).

A presença norte-coreana nos Jogos realizados na Coreia do Sul manda para o mundo uma “mensagem de paz”, disse o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach.

“Os Jogos Olímpicos devem, sempre que possível, contribuir para a construção da paz”, afirmou ele. “A mensagem que PyeongChang manda ao povo é que, em primeiro lugar, as pessoas querem a paz e os atletas querem a paz; em segundo lugar, que é possível se unir e viver em paz, mesmo em uma competição.”