O voto do Brasil de condenação à Rússia na ONU é um posicionamento pró-americano que causa muitas dificuldades e arranha o Brics. Essa é avaliação do historiador Manoel Domingos Neto apresentada em sua videocoluna no programa Redemoinho, do TUTAMÉIA.

“A posição foi errada e demonstrou a vulnerabilidade do Brasil. O Brasil deu um passo em falso, desmontando esse ator que poderia ter um papel sólido, que são os Brics”, afirma (acompanhe a íntegra no vídeo acima e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

Para o historiador, “Lula foi constrangido” a adotar esse voto contra a Rússia. “Por ele, acredito, adiaria uma posição”.

Domingos Neto pondera que, se o Brasil adotasse a abstenção, como fez a China, “as reprimendas seriam inimagináveis”. Atingiriam o fornecimento das Forças Armadas, que são dependentes do sistema ocidental: “O Brasil é um anão do ponto de vista militar”.

“Haveria suspensão do fornecimento dos submarinos, dos equipamentos da aeronáutica. A nossa pequena produção bélica entraria em colapso de vez. Os beligerantes iriam vetar as vendas para o Brasil”, afirma.

Manuel Domingos ressalta que esse passo do Brasil não é definitivo e destaca a habilidade política do presidente no cenário internacional. “Lula fez uma grave concessão. Mas agora está marcada a sua viagem à China”.

Perguntado sobre se esse alinhamento do Brasil aos EUA seria uma forma de Lula retribuir o apoio de Biden à sua eleição, o historiador concordou com essa possibilidade –que ainda precisará de tempo para ser comprovada pela história.

“É o toma-lá-dá-cá da política internacional. Ninguém em política internacional cede qualquer coisa ingenuamente”, diz. Assim, para ele, é possível que uma das exigências para o apoio dos EUA estivesse relacionada a essa postura na guerra. “Mas o cardápio pode ser bem mais pesado. Por exemplo, pode incluir fontes energéticas, o petróleo e a Amazônia”, alerta.

TUTAMÉIA pergunta se esse quadro pode colocar em jogo a soberania nacional. Manuel responde: “A soberania estará em jogo”.