Como as diversas variantes do coronavírus foram se disseminando no mundo. As dúvidas sobre a ômicron. Os caminhos das vacinas. As razões para os diferentes níveis de imunização no planeta. As perspectivas para os remédios em desenvolvimento. O poder das grandes farmacêuticas. O modelo furado de patentes que está em vigor. A ação dos Estados e o papel para os cidadãos nessa pandemia.

Esses foram alguns dos temas da entrevista de Gonzalo Vecina ao TUTAMÉIA, no dia em que o mundo começou a entrar em alerta com a ocorrência da nova variante do vírus. Nesta sexta, 26/11, mercados internacionais entraram em queda vertiginosa e países iniciaram medidas para conter a expansão da doença. Fundador e ex-presidente da Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária), Vecina faz um alerta:

“Espero que os países sejam suficientemente espertos para perceber que, se o vírus continua a circular, o comércio continua paralisado. Temos que escolher. Espero que os comerciantes, que são sempre muito espertos, decidam comprar e distribuir vacina gratuitamente no mundo. Porque, se não, nós não vamos resolver esse perrengue. Não tem jeito de parar com a pandemia sem parar de ter casos. Não tem jeito de parar de ter casos sem vacina. Então, temos que fazer um acordo para distribuir vacinas de fato para o mundo todo, sem o que não tem comércio. Não tem capitalismo que resista a isso”.

Diz também: “O mundo precisa pensar numa nova maneira de pagar a propriedade intelectual. Esse modelo que estamos operando hoje é um modelo furado”.

Nesta entrevista (acompanhe no vídeo e se inscreva no TUTAMÉIA TV), o médico sanitarista trata das razões que levam a população brasileira a aderir à vacinação, apesar da ação destrutiva de Bolsonaro. Ele lembra das ações que imunizaram crianças em massa no país ao logo do tempo e compara com a evolução europeia:

“A Europa tinha água tratada há mais tempo. A mortalidade infantil na Europa cai por causa da água, das condições de saneamento básico e da melhoria das condições de vida. A vacina foi um detalhe na redução da mortalidade na Europa. Diferentemente do que aconteceu aqui no Brasil, que não foi um detalhe –porque nós não melhoramos as condições de vida. Nós viemos acabar com a desnutrição grave no Brasil praticamente no governo Lula. Desnutrição a gente teve durante os anos 1990, início dos anos 2000. Nós conseguimos melhorar as condições de desnutrição no Brasil com algumas das medidas importantes que foram tomadas durante os governos do PT. Então, para nós, vacina é uma coisa natural. Para os europeus, nem tanto. Então, existe uma resistência maior à vacina nos países europeus e nos EUA. Tem também o componente de desinformação”.

Citando as diversas catástrofes promovidas pelo governo Bolsonaro –como as no âmbito dos povos indígenas e do ambiente–, Vecina desabafa:
“Acho que está demais. O tal do sistema de freios e contrapesos não está funcionando. E agora nós estamos discutindo dar o direito para esse cidadão indicar 25 pessoas para as altas cortes, para fazerem o que o Kássio Nunes está fazendo no STF. Espero que alguma coisa nós tenhamos condição de corrigir usando os instrumentos democráticos que a sociedade brasileira construiu com a Constituinte de 88. Para isso nós temos que demonstrar a nossa indignação. Chega de PEC! Estamos destruindo a constituição que fizemos. Mas temos que ir para a rua falar isso. Não estamos indo para a rua. Estamos cansados e A pandemia nos tornou mais cansados e permissivos. Estamos permissivos com toda essa sem-vergonhice que estamos vivendo.”