“O eleitor de São Paulo é muito sui generis. Às vezes ele é muito conservador, mas às vezes ele é muito inovador. Elege um progressista, depois um conservador. É uma cidade com uma energia… Condensa os conflitos e as disputas políticas de uma forma muito grande. O que condensou dessa vez foi: uma nova esquerda está surgindo em São Paulo. Não é só o Boulos. É o Boulos com o PT, com todo mundo, com o movimento sindical, com a juventude, com os movimentos sociais. Não são só os partidos; é algo maior do que isso. Isso vai regar o ano que vem. Para 2022, que as lideranças saibam regar, mas saibam colher.”
A avaliação é do jornalista Franklin Martins em entrevista ao TUTAMÉIA. “Vamos assistir nos próximos meses a um fortalecimento da ideia de unidade. Até onde isso vai chegar, eu não sei. Existe no PT, no Psol, no PCdoB e fora dos partidos, nos movimentos sociais, sindicais. Existe a ideia de que a unidade é possível”, afirma.
Para ele, Bolsonaro é o grande derrotado nas eleições municipais, e Boulos, independentemente do resultado no segundo turno, sai muito fortalecido. “Boulos tem uma vida de militância política que é um exemplo. Mostra estar cheio de gás, de talento, de competência. É uma grande liderança que sai desse processo”, diz.
Ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social no governo Lula, ele examina nesta entrevista a situação do país e os desdobramentos políticos a partir das eleições, da pandemia e do agravamento da crise econômica e social (acompanhe no vídeo acima e se inscreva no TUTAMÉIA TV). “O eleitor construiu uma frente e deu um recado muito forte para os líderes políticos. Apareceram atores novos, lideranças políticas novas e que não estão querendo agredir o PT para crescerem. Estão querendo trabalhar junto, com a sua identidade, com sua capacidade, com a sua história”, diz.
Franklin lamenta as desistências de Haddad e Freixo nas eleições desse ano. “Mais importante do que a carreira política de um ou de outro era ajudar a organizar o povo nesse momento tão dramático. Não deu. Tem uma novidade que fica simbolizada no Boulos. Pode ter novidade se o Ciro entender que não pode fazer carreira solo; tem que fazer com todo mundo, tem que disputar, fazer política. Não é indo para Paris que você constrói isso. É indo pro povão”.
O jornalista analisa a ascensão das chamadas pautas identitárias nessas eleições, colocando mais luz sobre o racismo, o patriarcado, a questão sexual, a luta dos povos originários. Constata o avanço dessa esquerda e aponta para a necessidade “juntar a luta pela justiça social com a luta contra aquelas expressões culturais, ideológicas, sexuais, raciais que também tentam afundar os pobres para baixo”.
“Para defender os pobres, tem que defender os negros. Isso é essencial. A nossa elite não entende o Brasil. A nossa esquerda tem que entender o Brasil. Entender o Brasil é: não basta não ser racista; temos que ser antirracistas. Não basta ser a favor da igualdade das mulheres; temos que combater tudo aquilo que é ataque aos direitos das mulheres. A esquerda é renovação, progresso, direitos humanos, igualdade. A direita não convive com a igualdade, ela acha que pobre é pobre porque merece ser pobre. A esquerda acha que pobre é pobre porque não tem oportunidade. Não é só uma disputazinha eleitoral. É uma disputa sobre que país que nós queremos ser”.
Na sua visão, o desgaste de Bolsonaro, que é absolutamente incapaz de enfrentar a situação dramática do país, vai continuar. “Estamos atravessando momentos terríveis. Na história do Brasil não tivemos momento tão terrível como este. Com o fim do auxilio emergencial, como grande parte da população vai sobreviver, no momento do maior desemprego da nossa história, sem nenhuma possibilidade de recuperação econômica significativa no curto prazo, com crescimento da carestia dos gêneros de primeira necessidade e com uma sensação de desgoverno no país? As pessoas ficam perplexas, confusas, às vezes apavoradas e podem ficar muito raivosas também”.
Para o ex-ministro, são três as tarefas essenciais para a oposição a Bolsonaro. “A primeira é continuar defendendo o povo da pandemia. A segunda, defender o auxílio emergencial. O povo não pode ser jogado de qualquer jeito. Alguém tem que pagar, só que não pode ser o povo, os pobres, os desempregados. Quem tem que pagar são os grandes ricos, banqueiros, grandes grupos que ganharam dinheiro esse tempo todo. É taxar grandes fortunas. Terceiro, é o Fora Bolsonaro. O povo precisa voltar a ter vez no Brasil. Pobre não é peso, estorvo. É um patrimônio, ativo, riqueza”. E segue:
“Vamos dar a volta por cima. O povo é maior do que eles. Eles são pequenos. Nossa elite é medíocre, pequena. Fica o tempo todo prostrada diante do que vem de fora. É incapaz de vibrar com o que é o povo. Vamos dar a volta por cima porque o povo é maior do que eles”.
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