1. O acordo com os EUA para a Base de Alcântara fere a soberania nacional.

2. Bolsonaro tem uma falsa visão de soberania ao tratar da Amazônia.
3. O que existe hoje é um colonialismo mental. As mentes estão ocupadas. Então é o ideal. Você não gasta nenhuma bala e nem sequer as fardas dos Marines e domina. Brasil nunca teve uma subordinação tão explícita aos EUA.
4. Os militares estão percebendo que a contaminação com o governo Bolsonaro não é boa. Há um certo esforço de afastamento e de despolitização por parte do Alto Comando das Forças Armadas.
5. A América do Sul perdeu o rumo; a ideia de integração foi jogada no lixo. Acordo com a União Europeia foi feito às pressas, com concessões excessivas do nosso lado. Feito o acordo, Bolsonaro praticamente o matou, porque o acerto não interessa aos EUA.
6. Soberania e democracia são indissociáveis. Soberania hoje é soberania popular, o que implica democracia. Democracia hoje no Brasil tem um nome principal: Lula. Enquanto Lula estiver preso não há democracia no Brasil. Para que voltemos a um discurso racional e a um debate no país, Lula Livre!
Esses foram seis pontos expostos pelo ex-ministro Celso Amorim em entrevista ao TUTAMÉIA (acompanhe no vídeo acima). Embaixador, ministro das Relações Exteriores de Lula e da Defesa de Dilma, ele tratou também da geopolítica mundial e relembrou momentos de sua carreira diplomática.
“A Amazônia é uma responsabilidade nacional de um problema global. Há uma falsa apropriação do termo soberania no caso da Amazônia. Não podemos cair na armadilha de aceitar que o conceito de soberania seja usado para justificar ações indevidas, que contrariam as nossas próprias leis, a nossa Constituição e também compromissos internacionais que o país assumiu”, declara.
E segue: “Não sou a favor do estatuto internacional para a Amazônia, como sugeriu Macron. Mas quem provocou isso foi Bolsonaro, ao tornar a questão da Amazônia um escândalo mundial”.
Avaliando o governo de forma mais geral, diz: “Temos pela primeira vez, um ministro do Meio Ambiente que é contra o Meio Ambiente; um ministro da Educação que é contra a educação; um ministro das Relações Exteriores que é contra a paz e o ministro encarregado dos Direitos Humanos que é contra direitos humanos. É uma coisa absurda”.
Sobre a falsa visão de soberania, afirma: “Soberania, para mim, é você defender a Petrobras, a Eletrobras; não permitir que a Embraer seja vendida à Boeing. Isso é soberania. É ter uma posição independente. A subordinação aos EUA é chocante”.

É possível dizer que o país parece estar sob ocupação estrangeira?
Celso Amorim responde: “As mentes estão ocupadas. Azeredo da Silveira [ministro das Relações Exteriores de 1974 a 1979] dizia que o pior colonialismo é o colonialismo cultural ou mental. É o que existe hoje. Não precisa ter tropas aqui, porque as pessoas foram colonizadas. Não sei se por meio desse Olavo de Carvalho e por outros meios. Claro que há interesses também. Não é só cultural. Então é o ideal. Você não gasta nenhuma bala e nem sequer as fardas dos Marines e domina. Porque o presidente diz que vai fazer isso; diz que estamos cada vez mais alinhados com os EUA. Eu nunca vi. Nem no governo militar. O governo sempre procurou ter uma linha independente. Nunca o Brasil teve uma subordinação tão explícita aos EUA. Fico impressionado porque tem muitos militares que estão no governo e vão carregar essa pecha mais tarde”.
O ex-ministro da Defesa afirma que o pensamento militar nacionalista é muito baseado em território. Discorre sobre a “ideologia de classe média” nas Forças Armadas. E aponta indícios de desconforto com o governo Bolsonaro:
“No Alto Comando estão já percebendo que essa contaminação [com o governo] não é boa. Bolsonaro vai a tudo que é cerimônia militar. Ele vai a mais cerimônias militares do que eu ia como ministro da Defesa. No Alto Comando perceberam que há o risco de que a imagem deles possa ser contaminada pelo que Bolsonaro está fazendo”.
Amorim lembra de discurso de Bolsonaro em Santa Maria (RS), quando defendeu a liberação de armas para a população com o objetivo de evitar um golpe. “Gente, isso é terrível para os militares; dá força para as milícias e outros e tira dos militares. É sagrado para os militares a questão do monopólio da violência em última instância”.
Na avaliação do ex-ministro, há “certo esforço de afastamento e de despolitização por parte do Alto Comando”. Acrescenta que os comandantes devem sentir incômodo com o fato de Bolsonaro falar diretamente à baixa oficialidade”.
Amorim condenou o acordo sobre a Base de Alcântara: “Fere a soberania nacional, limita a possibilidade de termos a transferência de tecnologia para o programa espacial brasileiro e deslegitima a existência de um veículo lançador de foguetes nosso”.