A intervenção no Rio de Janeiro é um factoide, uma “bateção de claras”, uma manobra diversionista para encobrir a acachapante derrota que o governo teria com a votação da reforma da Previdência. Mas a operação pode ser radicalizada, sair do controle e desgastar as Forças Armadas. É o que avalia Eugênio Aragão, ministro da Justiça do governo Dilma Rousseff em entrevista exclusiva ao TUTAMÉIA.
“Temer assumiu um elevadíssimo risco. Ele trucou. É muito difícil dar certo. Se levar a um fracasso, só aprofunda mais ainda a má reputação do MDB e dessa turma toda”, diz ele.
Aragão, 58, lembra que a reputação das instituições está em baixa no país, especialmente após o golpe de 2016. As Forças Armadas, porém, seguem com boa avaliação.
“Acredito que a grande maioria das Forças Armadas é de profissionais sérios, de pessoas que se profissionalizaram muito, que não querem se meter em assuntos que não são deles. Não seria profissional. Eles sabem de suas fragilidades, de suas debilidades para atuar num cenário desses. Hoje a reputação das Forças Armadas é boa. Isso para eles é entrar em um cenário em que só têm a sofrer desgaste”, declara.
O ex-ministro diz que o cenário é “impossível de ser superado sem que se trabalhe a presença do Estado como um todo na comunidade, com intervenção nas áreas de saúde, educação, investimentos no social, na habitação, no saneamento. É isso que o Estado tem de fazer. Tratar a segurança pública divorciada de todo esse cenário só pode criar mais violência”, afirma.
Seu grande receio “é se houver a disposição do general Sérgio Etchegoyen (ministro-chefe do gabinete de segurança institucional da Presidência) e dessa ala de radicalizar na segurança pública do Rio. Aí podemos ter uma fagulha de um processo de deterioração do cenário”.
Aragão ressalta que “o ambiente está tenso no país”. Houve uma desconstrução enorme de direitos; salários estão atrasados no Rio, há desemprego, economia degradada, Estado falido.
“O governo subiu o tom. Se isso se refletir em violência à população civil, eu temo que o ambiente social possa eclodir e termos situação de difícil controle. Há pessoas das Forças Armadas que são cabeça quente. É a impressão que eu tenho do general Etchegoyen. Me parece que ali tem uma visão do uso da força que não é condizente com o estado democrático de direito. Isso é um risco”, declara.
Segundo Aragão, a intervenção deve ser analisada dentro de um contexto maior, no qual “Temer está contra a parede”, com sua impopularidade crescendo dia a dia e sem conseguir segurar sua bancada para a “desconstrução de direitos”. Assim, diz, “há necessidade de uma pauta nova”.
Do ponto de vista eleitoral, a estratégia não é boa, avalia. “[Se fosse para ter] ganhos eleitorais, havia coisa melhor a fazer do que se meter na segurança pública do RJ. Isso é traque para dar xabu. Não acredito que eleitoralmente seja uma boa estratégia. Esse tipo de iniciativa gera mais apreensão do que apoio. Não acredito que seja algo que os governadores apoiem”, defende.
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