“Não adianta assassinar Marielle, prender Preta Ferreira e ficar matando outras mulheres. Porque vão chegar outras mulheres no nosso lugar. A gente tem que se unir para enfrentar essa onda bolsonarista e machista que está aí –e isso está acontecendo. Quando uma mulher cria coragem para denunciar, muitas outras aparecem. Precisa criar coragem para falar. Dani Calabresa foi uma heroína. Mulheres: Não se calem, vocês precisam falar. Se for preciso, gritem!”

Palavras de Preta Ferreira ao TUTAMÉIA. Artista, poeta, produtora cultural, ativista do movimento pela moradia, ela está lançando “Minha Carne, Diário de Uma Prisão” (Boitempo) em que relata sua experiência de 108 dias no cárcere, conta histórias de presas, descreve os apoios que recebeu da sociedade (Ângela Davis a visitou), trata de injustiças do sistema judiciário e mostra as poesias que escreveu nesse período (acompanhe no vídeo acima e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

Preta (Janice Ferreira da Silva) é filha de Carmen Silva, liderança do Movimento dos Sem Teto do Centro, que construiu ícones do movimento por moradia, como a Ocupação Nove de Julho e o Hotel Cambridge. Com a mãe participa das ações por direitos. Classifica sua prisão como política. Nesta entrevista, ela fala sobre o sistema carcerário e declara:

“As prisões estão feitas para pessoas pretas, pobres e periféricas, num país que nega oportunidades para os seus cidadãos, para 54% da população. Essas cadeias estão sendo construídas para esses corpos. Duas crianças pretas acabaram de morrer na favela baleadas… de novo. E todo dia a gente vê isso. Eles querem ver a gente ou mortos ou presos. É contra isso que a gente tem que lutar. Essas pessoas que estão presas também são presas políticas. Isso que a gente tem que explicar, sobre a necropolítica. E numa linguagem acessível, para que essas pessoas comecem a lutar da base”.

Para ela, a luta antirracista precisa contar com a participação dos brancos. “As pessoas brancas têm que lutar contra o racismo. Eu nasci preta, não inventei o racismo. A luta antirracista se torna a luta pela nossa sobrevivência, a nossa luta é para não morrer. Brancos acham que a luta contra o racismo é só contra o preconceito. As pessoas brancas têm que lutar mais ainda contra o racismo. Pessoas brancas que me veem como mulher inferior, que não me enxergam como escritora. Para muitos é insuportável ver pessoas pretas chegando em espaços de poder”.

Na conversa, Preta fala de seus projetos e afirma:

“Se a gente for depender desse governo, a gente vai morrer. É começar a se ouvir para se unir de verdade. Saber que nenhuma luta anula a outra e que luta se faz junto. Quando maior for a quantidade de pessoas que estiver ao seu lado, melhor”.