No interior de Alagoas, logo após o Ato Institucional nº 5, em 1968, Aldo Arantes, Maria Auxiliadora Arantes (Dodora) e os dois filhos do casal foram presos pela ditadura militar. Dodora e as crianças ficam 4 meses e meio na prisão; Aldo, seis meses.
Sai da prisão numa fuga planejada para o dia do jogo entre CRB e CSA, um clássico alagoano, quando a guarda deveria estar fragilizada. Foi o que aconteceu, com alguns percalços.
O carcereiro de plantão não tomou o café com sonífero, Aldo tropeçou e caiu na fuga, o esconderijo previsto não ficou disponível. Ele e seu camarada acabaram pegando um táxi fingindo estarem bêbados e atravessando a fronteira com Pernambuco no porta-malas do carro de um amigo.
Nesta entrevista ao TUTAMÉIA, gravada em 4 de março de 2024, Aldo Arantes, 85, fala da conjuntura atual e conta fragmentos de sua trajetória, que passa pela presidência da UNE, a resistência ao golpe na Ação Popular e no PCdoB. Nessa luta, viveu onze anos na clandestinidade.
Sua segunda prisão aconteceu justamente quando participava de uma reunião de avaliação do PCdoB sobre a guerrilha do Araguaia, em dezembro de 1976. Foi na Chacina da Lapa, uma ação ditadura militar que assassinou três dirigentes do partido e a tortura de sobreviventes.
Barbaramente torturado, Aldo Arantes ficou dois anos e 8 meses na prisão do Barro Branco. Sua mãe viu as marcas da tortura e, com o seu advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, procurou dom Paulo Evaristo Arns [acompanhe a entrevista de Greenhalgh nesta série]. O cardeal sugeriu que ela fizesse a denúncia da tortura, mas alertou para os riscos que essa decisão embutia.
“Minha mãe, disse: ‘Eu faço qualquer coisa para salvar o meu filho’. Foi para imprensa e denunciou. Foi o primeiro familiar de preso político que denunciou a tortura no Brasil”, lembra Aldo.
Advogado, deputado federal constituinte, ele estava nas galerias na ignóbil sessão do Congresso que abriu as portas para os golpistas, na madrugada de primeiro para dois de abril de 1964.
“Foi uma mentira completa, uma manipulação. Fiquei escandalizado e do plenário gritei: ‘Golpista! Golpista!’. Os seguranças vieram. Almino Affonso, Plínio de Arruda Sampaio e Rogê Ferreira se mobilizaram para eu saísse da Câmara”.
Daquele momento, ele se recorda:
“Funcionário da superintendência de política de reforma agrária, eu sabia que militares viriam atrás de mim. Eu e Dodora saímos de Brasília. Enquanto saíamos, víamos os tanques entrando pelo Eixão; os prédios balançavam”.
O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira.
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