“O fato é que se conhece muito pouco quem foi meu pai. Eu mesmo conheço pouco sobre quem foi meu pai como jornalista. Depois da morte dele, 99,9% do foco foi sobre a morte, foi sobre o caso Herzog, parou de se olhar a história da vida dele, se olhou muito pouco”, diz IVO HERZOG ao TUTAMÉIA para contar o que é a “Ocupação Vladimir Herzog”, montada no Itaú Cultural, na avenida Paulista.

A mostra, diz, “surgiu da ideia de contar quem foi essa pessoa”. E trouxe novidades até mesmo para o filho do jornalista preso, torturado e morto pela ditadura militar.

“Nessa ocupação, acho que 80% do material eu não conheço. Tem uma carta do meu avô para o meu pai contando como é que foi a fuga deles da Iugoslávia no período da Segunda Guerra Mundial, que é uma obra de arte pelo detalhismo, pela narrativa.”

Ao longo do processo de construção da mostra, que vai até 20 de outubro próximo, Ivo aprendeu mais sobre o trabalho e a vida de Vlado:

“Quando meu pai morreu, eu tinha nove anos. Aí houve um processo natural de a galinha botar o pintinho debaixo da asa, proteger os filhos, a gente foi meio que isolado de tudo, mas daí o caso ficou muito grande, a gente começou numa vida política desde cedo, ficou se tratando as consequências da morte de meu pai, e a gente deixou de resgatar, de olhar, documentos, cartas, artigos eu nunca tinha visto, as reportagens, o trabalho dele como jornalista, eu nunca tinha lido.”

Um olhar para o passado que não deixa de apontar as mazelas do tempo presente, como disse Ivo Herzog na entrevista (clique no vídeo do alto da página):
“O que está se revelando é uma coisa pior do que o pior cenário que a gente imaginava no ano passado. A gente tem um chefe da nação que, como muitos dizem, é doente. Sem ser provocado, ele fica desqualificando as pessoas. É um ser humano que demonstra publicamente não ter compaixão, não ter respeito. Posso até dizer que, publicamente, ele demonstra não ser um ser humano, porque o ser humano tem compaixão, o primeiro sentimento que a gente tem é um olhar pelo outro”.

Apesar da virulência dos ataques diários realizados por Bolsonaro, há resistência, segundo  aponta Herzog: “Na questão dos direitos humanos, a boa notícia que tem é que as instituições do Estado, que transcendem o governo, como o Ministério Público e outras organizações, vêm reagindo de maneira objetiva, bloqueando algumas ações mais terríveis que esse governo tenta impor. Ou seja, o Estado está tentando resistir ao governo”.