Há uma convergência de crises. Há a desigualdade explosiva, a destruição ambiental e o caos financeiro. Em cima disso, tem a pandemia. É preciso uma reação muito mais ampla. A decisão do STF –que classificou Sérgio Moro como juiz suspeito e a nulidade dos processos contra Lula—é vital nesse processo.

É o que avalia o economista Ladislau Dowbor ao TUTAMÉIA. “O Lula não é cara de esquerda. É o maior negociador que eu já vi. É um construtor de articulações. Nós precisamos disso. Não basta só rebater as idiotices da cloroquina”, afirma. A entrevista ocorre no momento em que o Supremo acabava de estabelecer a suspeição do juiz da Lava Jato.

Professor da PUC, Dowbor completou 80 anos neste mês de março. Formado em economia na Universidade de Lausanne, na Suíça, com mestrado da Escola de Economia de Varsóvia, ele é um histórico combatente contra a ditadura militar. Nesta entrevista, fala da necessidade de mudanças na economia e analisa a situação política do país (acompanhe no vídeo e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

Comenta, por exemplo, a recente carta de banqueiros e empresários criticando a ação do governo na pandemia. “Se houver um choque de bom senso e isso se espraiar e se houver um leve resgate de patriotismo de sentimento de dignidade nacional, isso aqui vira. Mas tem ameaça também de uma evolução ditatorial”, declara.

Autor de “A Era do Capital Improdutivo”, Dowbor acaba de lançar “O Capitalismo se Desloca”. Ele refuta as alegações de que o Brasil é pobre e não tem dinheiro para instituir a renda básica e um auxílio aos mais pobres.

“O Brasil não é um país pobre. Se o valor do PIB fosse dividido, daria R$ 11 mil reais por mês por família de 4 pessoas. Só a produção de grãos gera 3,2 quilos por pessoa por dia. Se houver uma pequena redução na desigualdade e na evasão fiscal, dá para todo mundo viver de maneira digna e confortável”, afirma.

Dowbor enfatiza a questão da concentração de riqueza. “De 12 março de 2020 a 18 de julho de 2020, 42 bilionários aumentaram sua fortuna no equivalente a 180 bilhões de reais. São seis anos de bolsa família para 42 pessoas que não produzem, pois trabalham com computador, compra e venda de papel, são banqueiros, e que não pagam imposto porque lucros e dividendos no Brasil não pagam imposto. É um absurdo”.

E mais: “O aumento da riqueza dos mais ricos em plena pandemia é espantoso. A desigualdade atinge um nível dramático porque se junta com a pandemia. Os pobres ficam completamente perdidos. O governo do Brasil passou dinheiro essencialmente para banqueiros, apesar dos 600 reais de auxílio. Tem gente desesperada que vai buscar dinheiro no banco ou no cartão de crédito, no rotativo. Em janeiro, os juros estavam em 257%. No Canada é 11%. O controle financeiro aumenta dramaticamente a desigualdade”.