“Convido a todos os sacerdotes de todas as religiões que não concordam com esse levante violento que se unam. Vamos conversar, pensar juntos algo para a gente mostrar para a sociedade que religião não é violência, é amor”.
O apelo é da yalorixá Adriana Toledo em entrevista ao TUTAMÉIA (acompanhe no vídeo acima). Integrante do Coletivo Racial Garantia de Luta, ela se diz angustiada com a violência pregada por Jair Bolsonaro. Narra a escalada de agressões, defende o voto em Fernando Haddad e afirma esperar que os ânimos sejam apaziguados. “Sacerdotes de todas as religiões, evangélicos, católicos, judeus: passou da hora de todos se posicionarem. A maioria não é a favor da violência”.
Na sua visão, Jair Bolsonaro e João Dória só fazem declarações contra tudo que negros, pobres e periféricos representam. Por isso, ela diz que estar engajada hoje na luta pela democracia é também lutar pela sobrevivência. “É obrigação ir para a rua”.
Para Adriana, “há um medo muito grande, é muito doloroso. Às vezes, dá a impressão de a gente estar às portas de uma guerra civil. O negro não vai mais se submeter. Nós, negros, não vamos voltar para os quilombos. A gente não vai se esconder, a gente não vai abrir mão da nossa fé, daquilo que a gente conquistou”.


Nesta entrevista, a yalorixá ressalta que o racismo entranhado na sociedade brasileira –e não discutido abertamente– é explicação para a ascensão da extrema-direita, do ódio. “A gente vive a violência porque não encarou de frente as nossas feridas. A gente jogou um curativo por cima e aquela ferida está virando uma infecção generalizada”.
Adriana lembra que, nos últimos anos, com os governos progressistas, aumento a autoestima da população negra, que passou a se posicionar mais, a entrar na faculdade, a consumir mais, “exigindo seu lugar e espaço”.
“Tem gente que não se conforma com o meu direito de eu, mulher negra, mãe sacerdotisa estar andando abertamente com o meu fio de contas, com aquilo que me representa, de cabeça erguida, sem vergonha e sem me submeter. Eu não vou para o fundo do ônibus. Porque lá não é o meu lugar”.