“A figura de Bolsonaro vista a partir da cultura é repelente. Ele é um inimigo da arte e da cultura. É explícito. Ele tem orgulho de ser um inimigo da arte e da cultura. O núcleo duro da base social dele é repelente também. São pessoas que não compreendem a complexidade do ser humano, que não compreendem as necessidades subjetivas. Eles lidam com uma visão muito maniqueísta e pobre. E deixam a cabeça para os pastores alugarem. Não têm uma construção de pensamento complexo, de subjetividades complexas. Não há uma ideia de felicidade humana. É como se nós aqui tivéssemos purgando pecados originais que não cometemos. Não tem nenhum projeto de felicidade no projeto político de Bolsonaro, do seu governo de extrema direita”.
É o que afirma Juca Ferreira ao TUTAMÉIA. Ministro da cultura nos governos Lula e Dilma, sociólogo, João Luiz Silva Ferreira preside o Instituto Cultura e Democracia. Nesta entrevista, ele avalia a destruição que Bolsonaro promove no país, os desafios das políticas públicas e os caminhos para a oposição.
Líder estudantil durante a ditadura, ele compara os momentos históricos, diz que estamos na antessala da barbárie, mas considera que o golpismo está em fase falimentar. Trata também do papel do setor privado na cultura. “O mecenato das grandes empresas é feito metendo a mão no bolso do estado brasileiro. É 100% de renúncia fiscal!”, afirma (acompanhe a íntegra no vídeo e se inscreva no TUTAMÉIA TV).
Diz Juca:
“Não é uma questão de direita e esquerda; é uma questão de civilização ou barbárie. Se nós queremos que o Brasil seja um país bem-sucedido no século 21, tem uma série de políticas que são necessárias: superar o nível de desigualdade da sociedade brasileira, consolidar a democracia. Mas temos que garantir desenvolvimento cultural”.
Ele segue:
“Não é por acaso que uma parte da população brasileira aceitou essa versão primária de que a terra é plana. É preciso muita ignorância, muita falta de informação, muita baixa qualidade das escolas públicas para que se tenha uma base social para dar sustentação a uma fantasia dessa ordem. Com todos os foguetes que já soltaram, as fotografias que foram tiradas do planeta, as teorias que foram desenvolvidas no mundo sobre o funcionamento dos corpos celestes e suas formas, os estudos geofísicos! Isso é reflexo da barbárie. Estamos na antessala da barbárie”.
Juca afirma:
“As mortes desnecessárias na Covid: é barbárie. Como um presidente colabora para que centenas de milhares de brasileiros e brasileiras morram e continua no poder? Como um presidente ataca as ciências brasileiras, tentando criar uma visão primária do mundo e continua no governo? Como os direitos sociais são atacados do jeito que são e tudo continua no mesmo? Até o fato de a reação ser mais lenta no Brasil, já com 30 milhões de pessoas passando fome e 50 milhões vivendo insegurança alimentar. É um escândalo.”
Juca descreve os atos de destruição de Bolsonaro, especialmente na área da cultura, e enxerga reação:
“Tem resistência, tem posturas de altivez. Agora, começa a haver sinais de exaustão. O golpismo está chegando aos seus estertores. Sinto que há um clima bastante bom na área cultural”.
Para o ex-ministro, Bolsonaro segue o modelo da extrema direita que está em ação no mundo:
“No mundo inteiro, a extrema direita tem essa palavra de ordem de combate à cultura. Eles são retrógrados, querem retroceder para a Idade Média. Querem, de novo, submeter a mulher aos machos, retirar a mulher da presença pública. Eles são contra os homossexuais serem o que são; são racistas, são contra os povos indígenas. O projeto político deles necessariamente passa por um conflito de valores com a sociedade no século 21”.
Na visão do sociólogo, a base social da extrema direita está em todas as classes, mas não chega a 25% da população. “Em condições normais de temperatura e pressão, não teriam a relevância que estão tendo. Eles foram eleitos em condições absolutamente estranhas”.
Sobre a disputa em 2022, declara:
“Eles vão tentar criar uma alternativa, caso Bolsonaro não tenha condições de chegar ao segundo turno. Estou muito confiante de que, assim que começar a campanha, o projeto democrático vai crescer muito, e nós vamos ter possibilidade de vencer as eleições. Eles vão tentar de tudo: armadilhas, truques, fake news, acusações. Vão tentar recuperar aquele clima golpista que cercou a última eleição presidencial”.
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