“Precisamos democratizar o controle e as decisões que vamos tomar sobre a nossa biodiversidade, sobre os nossos recursos minerais, sobre as nossas águas, sobre a nossa terra. Esse é o elemento central sobre soberania nacional. É um momento extremamente difícil, porque combina toda a voracidade das empresas internacionais nesse tempo de crise, usando os recursos naturais como forma de manutenção e ampliação de suas taxas de lucro, junto com um estado comprometido exclusivamente com esses interesses, fazendo a maior entrega dos recursos da natureza da nossa história”.

Reflexões de Silvio Netto, da coordenação nacional do MST, em entrevista ao TUTAMÉIA. Assentado do Quilombo Campo Grande, em Minas Gerais, ele fala logo após o protesto que marcou os seis anos do desastre de Mariana. Em 5 de novembro de 2015, o desmoronamento da Barragem do Fundão deixou 19 mortos e um rastro de destruição na natureza –o de maior impacto da história brasileira.

A operação era da Samarco, uma empresa formada pela Vale e pela BHP Billiton, de capital anglo-australiano. Militantes do MST e atingidos pelo acidente ocuparam a sede da Samarco, na última sexta-feira, denunciando a impunidade e a falta da empresa em providenciar reparações e recuperação do ambiente.

Silvio Netto tratou das causas dos desastres de Mariana e, de Brumadinho (25.01.19), que deixou 270 mortes. Expôs a atuação das empresas, dos órgãos de governo e da luta por direitos travada pelos parentes das vítimas e pelos sobreviventes (acompanhe a íntegra no vídeo e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

O dirigente do MST abordou também a questão da reestatização da Vale, uma reivindicação histórica dos movimentos populares. A empresa foi privatizada em 1997, no governo de Fernando Henrique Cardoso.

“É legítimo, legal, necessário e urgente a reestatização da Vale. Mais do que isso. Nesse momento, nós precisamos restabelecer instrumentos de controle sobre todos os nossos recursos naturais. Por mais importante e simbólica que seja a luta pela reestatização da Vale ela é, em si mesma, inferior à essa grande luta”, diz.

Ele segue:

“Os nossos recursos naturais estão sendo roubados numa velocidade que nunca se viu antes. É preciso conjugar, no próximo período, a formação da consciência do nosso povo sobre a importância e a riqueza que está sendo roubada de nós. É preciso organizar processos de mobilização popular na defesa dos nossos recursos naturais e conjugar isso com a disputa dentro do Estado, para que a gente tenha governos realmente comprometidos e com coragem de enfrentar esse tema tão difícil, mas tão necessário, que é a retomada desse patrimônio que é do povo brasileiro. Além da retomada, é preciso estabelecer mecanismos de controle popular. O guardião dos nossos recursos naturais tem que ser o povo brasileiro”.

De acordo com Netto, o governo “tem entregue as licenças e usado do Estado como um aparelho de entrega dos nossos recursos naturais, suprimindo legislação, suprimindo a vontade popular, passando por cima de um mínimo que conseguimos construir ao longo de décadas de muitas lutas para minimamente conseguir preservar de forma civilizada esse nosso patrimônio”.

“O que nós temos de mais sagrado que são os recursos da natureza que podem nos manter a saúde, a alimentação, com condições de construir um outro projeto de sociedade”, afirma.