“O mais importante é gerar um movimento intersetorial e interseccional. Ou seja: um movimento que incorpore mulheres universitárias, estudantes, trabalhadoras, sindicalizadas, indígenas, negras. Todas as mulheres. Que não seja apenas uma agenda das organizações da sociedade civil. Que seja incorporado em cada um dos espaços políticos, sindicais, sociais de onde participam as mulheres. Os partidos políticos têm que falar de aborto. É preciso incorporar as companheiras das religiões. Sempre há espaços dissidentes para disputa entre as religiões hegemônicas. Ter um movimento interseccional e intersetorial é o que nos dá força”.

Palavras de Maria Teresa Bosio (Keka), presidenta do Catolicas por el Derecho a Decidir da Argentina, em entrevista ao TUTAMÉIA na qual analisa a conquista do aborto legal no país. Em movimento histórico, na madrugada deste 30 de dezembro de 2020, o Senado argentino, por 38 a 29 votos, aprovou a legalização do aborto seguro e gratuito. Uma festa tomou conta das ruas de Buenos Aires e de outras cidades.

De Córdoba, onde vive, Maria Teresa também comemorou. Líder feminista, ela é professora da Universidade Nacional de Córdoba, na faculdade de Ciências Sociais. Nesta entrevista, ela fala da história do movimento, que começou com a derrubada da ditadura militar e incorporou muita juventude e formas originais de atuação (acompanhe a íntegra da conversa no vídeo acima e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

Keka lembra que o lenço verde, amarrado ao pescoço das militantes feministas, remete ao símbolo das Mães da Praça de Maio, histórico movimento pela redemocratização argentina que denuncia os mortos e desaparecidos durante a ditadura. O verde, que lembra a natureza e a esperança, conta ela, foi se espalhando pelo país, reunindo apoios de diferentes áreas e tendências políticas.

Ela lembra várias conquistas que foram alcançadas nos últimos anos. Fala do papel dos políticos e ressalta o fato de Alberto Fernandez ter defendido a legalização do aborto na campanha presidencial, afirmando que o país precisava deixar de ser hipócrita em relação ao tema. “Diziam que falar de aborto fazia perder votos. Falamos de aborto, e o partido ganhou a eleição. As mulheres falaram de aborto. Fizeram os homens compreender que defender a legalização do aborto não tirava voto, ao contrário”, afirma.

Keka comenta a relação da extrema direita com as ações que visam esmagar os direitos das mulheres, examina o patriarcado no continente e prevê que o exemplo argentino pode inspirar lutas na região.